“Ser mãe é desdobrar fibra por fibra o coração” (Coelho Neto/1864-1934). Desculpem-me, queria dizer o mesmo de vereador, aquela figura que só é reconhecida por quem ama e respeita as instituições. E deixo vagar por aí a minha esdrúxula, para alguns, comparação.
O que é uma instituição? Resposta: — Não sei.
O que é cidadania? — Acho que é de comer.
O que é espírito público ?— Desculpe-me, você me apertou!
O que é ser prefeito? — Esse eu sei: é o rei, o mandão, o bonitão do terceiro andar.
O que é ser vereador? — Esse também eu sei: é o meu saco de pancadas preferido.
A FAVOR OU CONTRA?
A plateia acompanha, pessoalmente ou pelo rádio, a discussão e votação de matérias — indicações, requerimentos ou projetos de resolução ou de lei. Cada um dos presentes ou ouvintes é contra ou a favor ou “não está nem aí” para uma ou outra questão.
Então, é isto: o vereador vereia e o povo se chateia ou aplaude. O povo é livre para pensar e manifestar-se. No plenário, a plateia não pode mostrar a sua preferência, segundo o regimento interno, mas ninguém liga e faz o que quer.
É DIFÍCIL VEREAR?
Considerando que um vereador manda pouco, ou nada, ele pode cumprir o seu papel de fiscalizador, previsto em suas funções reais, ou aliar-se ao prefeito e fazer a vontade do rei. Um bom vereador, a meu ver, é aquele que sabe e consegue equilibrar a sua atuação e votar de acordo com a vontade do povo. Aí ele precisa saber como colher opiniões.
Mas, lá de dentro do poder maior eles querem que o saco leve supapos e aprove todas as vontades do governo, mesmo as que são cunhadas como polêmicas. No meu livro “Ser Vereador” (1999 e 2004 e 2020 – este via internet) tento mostrar como agir em campanhas e no exercício do mandato. Esclareço que exercer a função não é simples assim.
VEREAR OU CRIAR FAMÍLIA?
Por isso é que faço um paralelo em ser vereador e mãe. Muitos dirão que nada há de semelhança. Pode ser, na visão de muitos, uma analogia absurda. Mas insisto: há e haverá uma clara identidade caso nos aprofundemos nos contrapontos. A mãe, Deus concede a capacidade e vocação de enfrentar as agruras da vida; o vereador, para ser bom, precisa ser criativo e combativo e honesto.
A genitora se desdobra à sombra e ao brilho da inspiração divina, já entra no paralelo com a benção de Deus; o parlamentar, para alcançar a proteção dos céus precisa desdobrar-se do nada ao tudo e aí entram as causas comunitárias e a perseverança.
Resumindo, retorno ao escritor Coelho Neto: “ser mãe é ter um mundo e não ter nada”. E deixo a minha confissão: ser vereador é não ter medo de levar pancada.
José Sana (editor de panfletos de graça)
01/04/2023
P.S.: Aproveito e faço uma homenagem também a uma parlamentar itabirana. Ela carrega três Ms: Mulher, Mãe e Muito credenciada: Rosilene Félix Guimarães.