Situada a 60 quilômetros de Itabira, pertencente naturalmente à região de influência da então Companhia Vale do Rio Doce, a emancipação ocorreu no último dia de 1962, mas a instalação oficial da cidade tem o marco histórico em 1º de março de 1963, a partir de quando o ex-distrito de Conceição do Mato Dentro passou a ser governado pelo intendente José de Miranda Murta (Zé Filó), nomeado pelo então governador de Minas Gerais, José de Magalhães Pinto.
Registros pesquisados por esta reportagem, com a ajuda de ser historiador, traduz o aparecimento de Cachoeira Alegre nos mapas do estado e do país. Assim, São Sebastião do Rio Preto não foge à regra. Alguns escritos estão arquivados em museus ou bibliotecas e, ainda, livros do tombo, mantidos nas igrejas.

Momento cívico em São Sebastião do Rio Preto: cidade história, foto de 7 de setembro de 1955.
O PRINCÍPIO
Tudo começou com os escravos que moravam na zona rural. Aliás, as comunidades viviam quase que somente nesses territórios sustentáculos da economia. Em 1892, segundo o recenseador Vicente Ferreira de Almeida, em artigo publicado na Revista do Arquivo Público Mineiro, em 1899, a população do arraial de São Sebastião do Cemitério, seu antigo nome, era de 2.924 pessoas, das quais 2.193 (75%) viviam na roça. O quadro populacional caiu drasticamente em função do êxodo rural e da falta de um hospital para referendar os nascimentos.
Luzia Cândida Ferreira de Almeida Dias, falecida em 1997, deixou escritos preciosos, tanto sobre a história do lugar quanto a respeito do teatro e de grupos folclóricos (Caboclinhos e Marujos). A influência em sua vida dessa cultura veio do pai, Godofredo Cândido de Almeida, que foi um dos maiores benfeitores do povoado, emancipado cinco anos antes de seu falecimento.
Seu Godó, nome de guerra, fornecia energia elétrica para todas as ruas e casas da aldeia; trabalhava como conselheiro no município de Conceição do Mato Dentro e, assim, executava obras públicas por conta própria, com valores descontados em impostos; e mantinha uma banda de música criada pelos seus avós.
Dentro de um manancial de riquezas culturais, assim São Sebastião do Rio Preto avançou no tempo. Quando se tornou cidade, em 1º de março de 1963, três grandes guardas de marujos existiam no município: Cauís, Engenho e Banqueta. Para explicar esse esplendor folclórico, a população rural continuava mantendo o mesmo percentual de participação no conjunto de habitantes até o fim do século XX.

Semana cívica de 1955 (7 de setembro): Banda de Música do Godó em primeira apresentação dos formandos
O êxodo rural, os falecimentos, a não substituição de grande parte de membros dos grupos e a falta de apoio do poder público fizeram com que as três guardas se resumissem em uma só nos tempos atuais. Mesmo assim, resistente, os membros da Guarda de Marujos Nossa Senhora do Rosário, essa fundada pelo fazendeiro e comerciante Paulo Juventino Ferreira, temem sua extinção já que ainda garante alegria, vibração e uma volta ao passado em acontecimentos profanos e religiosos da região. O motivo claro e inquestionável: as novas gerações não se interessam pela exuberância do folclore de antigamente. Hora de agir neste aspecto também.
LIVRO DO TOMBO
Na Paróquia de São Sebastião do Rio Preto existem anotações no Livro do Tombo, cujo resumo é transcrito a seguir: “Em 1814, chegaram ao local três portugueses: João da Silva Maia, Alexandre Ferreira de Sá e José Guarda-Mor Fernandes das Mercês, como os bandeirantes daquele tempo, à procura de ouro.
O fundador, João da Silva Maia, construiu uma Capela de São Sebastião às margens do Rio Preto, onde atualmente se localiza a sede e confeccionou uma imagem do referido Santo, com madeira tirada das matas que existem na mesma região. O povoado recebeu a denominação de Cachoeira Alegre, depois São Sebastião do Cemitério e, mais tarde, São Sebastião do Rio Preto”.
ORIGEM E CRESCIMENTO
A Revista do Arquivo Público Mineiro (1899) foi mais uma fonte consultada e contém anotações com detalhes referentes à população, censo demográfico, riquezas econômicas, questões de saúde e geográficas. Contudo, não se refere à cultura, como o folclore e as comunidades de quilombos que existiam, segundo narrativas da população antiga, espalhada pela zona rural. NS visitou cada uma das localidades, fez uma listagem de fazendas, algumas destruídas pelo tempo e outras ainda resistentes.
UMA CIDADÃ CHAMADA LUZIA CÂNDIDA
Acrescentando algo mais às anotações da Paróquia e até mesmo definindo detalhes citados na Revista do Arquivo Público Mineiro (1899), a filha da cidade, Luzia Cândida Ferreira de Almeida Dias, falecida em 1997, escreveu: “A capela, construída por João da Silva Maia, inicialmente, foi no terreno onde se ergueu o sobrado de Paulo Juventino Ferreira, depois pertencente a Seraphim Sanna. Depois ela foi reconstruída em forma da Igreja Matriz, a poucos metros, chamada mais tarde de Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Quando se deslocou a capela com o Cemitério para o alto do morro, escravos residentes nas fazendas da zona rural tomaram a iniciativa de construir o sobrado, que seria, mais tarde, a Pharmacia São José, da família de Seraphim Sanna, que veio de Ouro Preto, passando por Passabém. Seraphim adquiriu dos antigos Moura”.
RICA CULTURA DE UM ARRAIAL
Luzia Cândida comandava grupos de teatro, bem como escrevia peças que eram apresentadas num espaço cedido pela Paróquia. Indo além de suas forças intelectuais, mesmo sem tempo, conseguia juntar adolescentes e crianças e formar um grupo de Caboclinhos para abrilhantar as festas folclóricas e religiosas.
Segundo o IBGE/2022, 1.259 habitantes vivem no município, dos quais 648 estão na zona urbana e 611 na zona rural.
RIQUEZA TAMBÉM ECONÔMICA
Antes do êxodo rural, a agricultura, pecuária e a agropecuáram constituíam como fatores primordiais em toda a zona rural são-sebastianense. Não apenas no Cauís, onde se destacava o fazendeiro Orlando Juventino Ferreira, como ainda em outras localidades, a exemplo de Engenho, Sete, Rio Preto, Banqueta, Barra e outros pontos do mapa rural, com a produção de café, tabaco, cana de assucar, milho, feijão, arroz, mandioca, batatas e bananas, registro que pode ser conferido no Arquivo Público Mineiro, em Belo Horionte (1899)…
Esses levantamentos constituíam-se fatores que permitiam a vida de melhores condições no campo. A população do distrito em 1892 era de 2.924 almas, de acordo com o trabalho do recenseador Vicente Ferreira de Almeida (APM, 1899), sendo a tendência demonstrada assim: 25% na cidade e 75% na zona rural, a mesma distribuição regristrada quase um século depois, segundo o Livro do Tombo da Igreja Matriz.
AS SETE MARAVILHAS
Em 2012, a secretária Ana Maria Gonçalves, de Cultura, promoveu, via internet, um concurso para eleição das Sete Maravilhas de São Sebastião do Rio Preto. Receberam votações significativas os seguintes monumentos de rara beleza com votação de centenas de internautas:
— Coreto da Praça do Rosário,
— Cachoeira da Conquista,
— Quiosques da Prainha do Retiro,
— Mosaicos da Vanessa,
— Praias da Conquista,
— Cachoeira do Chuvisco (Rio de Peixe, divisa com Santo Antônio do Rio Abaixo e
— Igreja Matriz de São Sebastião.
Venceram a disputa: Mosaicos da Vanessa, primeiro lugar, e Igreja Matriz de São Sebastião, segundo lubar. Os demais pontos turísticos receberam também grande votação.

Sete Maravilhas de São Sebastião do Rio Preto: Mosaicos da Vanessa (post original)
AUTORIDADES ATUAIS
A atual prefeita de São Sebastião do Rio Preto, Andréa Otone (PSD) ,candidata única em 6 de outubro de 2024, o vice-prefeito Anísio Menezes (PSD), Daí do Dito (PSDB), Fernando do Pirulito (PSD), Jardel Moreirinha (PSD), Jerry do Dedé (PSD), Neide (PSDB), Paulinho do Didi (PL), Paulo do João Alípio (PL), Valnei da Tita (PSD), Zé Eugênio (PL). O presidente da Câmara é Jose Valnei Ferreira de Sousa.

Prefeita Andrea Otone: a primeira mulher eleita para governar São Sebastião do Rio Preto
O GRANDE DIA
O grande dia da História de São Sebastião do Rio Preto podem ser vários. Poderíamos destacar, por exemplo, as festas religiosas, profanas ou cívicas. Eu teria armazenados em registros, ou na memória: Festas de Setembro, do Padroeiro São Sebastião, as Serestas de Maio, o 7 de Setembro de 1992 (quando José Cândido Duarte, Dezinho, executou solene e improvisadamente, o Hino Nacional em flauta de bambu feita na hora) e o 1º de março de 1963. Cada data merece o seu registro.
O 30 de marco foi destacadamente notável. Compareceram à cidade instalada as suas mais notáveis figuras religiosas, políicas, esportivas, comunitárias, educacionais, profissionais e mostraram ao mundo que o nosso passado nunca pode ser esquecido. O intendentre José Murta tomou posse e preparou o terreno para eleições, em 1965, do primeiro prefeito Oscar Viana de Moura e os primeiros vereadores.
José Sana/NS
Fontes: Livro do Tombo, arquivos de Luzia Cândida, de Geraldo Quintão de Almeida e Arquivo Público Mineiro (BH).
Fotos: Notícia Seca, Câmara Municipal de SSRP, redes sociais.
P.S.: Notícia Seca está ao dispor de quem desejar de outros dados e informações sobre São Sebastião do Rio Preto. Extenso trabalho foi realizado (infelizmente destruído), mas temos cópias arquivadas. Dia virá que precisarão e estão ao dispor de quem assim o desejar.