Paradoxalmente, os melhores valores são atingidos por produtores que não utilizam insumos desse tipo. O café dito orgânico, agroecológico, tem as melhores cotações do mercado. De olho nesse nicho, alguns produtores já tem abandonado os velhos hábitos.
Foi nesse sentido que eu ouvi, no início deste ano, um comentário, dito por um produtor tradicional de minha cidade. Estávamos na sala de espera de consultório médico, quando ele me confidenciou: “comprei um sítio esta semana, para plantar café no sistema orgânico, porque está valendo a pena e a tendência é melhorar.”
Suspirei esperançosa… De olho no dinheiro, o agronegócio será capaz de converter predadores em conservadores? O velho ditado conta que ‘até o diabo carrega água para os moinhos de Deus’. Se meu vizinho tem lucros maiores do que os meus, preciso repensar minhas práticas. E a sanha por lucros bem que poderia “candear” esse grupo, rumo ao uso consciente dos recursos naturais.
Hábitos antigos, sabemos, já os viciaram: são anos de exploração e poluição, lençóis freáticos contaminados, alimentos cheios de agrotóxicos… Até em simpáticos – e aparentemente inofensivos – biscoitos maisena. Como quebrar o ciclo? Será a cupidez por dinheiro uma boa causa para que haja mudança?
Para o senhorzinho, que conversei no consultório, já não há. Saiu da consulta cabisbaixo. Soube que faleceu de câncer na semana passada.
Izaída Stela do Carmo Ornelas