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Colegas, amigos, companheiros de luta, Itabira se cobre de tristeza. Um chuvisco intermitente cai com résteas de sol e puxa o vento para continuar o clima com cara de melancolia. Um presságio cada vez maior tira minha concentração de outro assunto.

Algo diferente acontece e, de repente, inteirando-me das novidades nas redes sociais, um nome me chama à atenção, ele que não entraria jamais naquele momento. Ao lado de minha esposa, passando em frente uma conhecida residência,  reclamamos sua ausência do cotidiano. Sentimos, sim, a falta de  Maria Aparecida Pinto Coelho Rodrigues Alves, seu nome completo.

A família Pinto Coelho vive em minha vida a partir dos nomes dos patriarcas: Osvaldolino Pinto Coelho da Cunha e Dona Cyra. O primeiro, pai; a segunda, mestre das palavras. Depois, vieram na sequência de uns mais próximos e de outros menores. Regina Maria foi uma das mulheres, isto pelo fato de ser a primeira vereadora eleita presidente da Câmara Municipal de Itabira, em 1974, minha colega.

José Carlos Pinto Coelho, também seu irmão, meu professor de Contabilidade Pública, depois colega na Companhia. Observação que não pode faltar: depois de minha aprovação em concurso dentro da própria empresa, ele me escolheu para substituí-lo como supervisor, quando subiu para o cargo de gerente.

Aparecida, ou Cida, chegou ao meu convívio quando eu cursava História na Funcesi. É claro que estava na idade provecta porque voltei aos bancos escolares depois da descoberta de prótese para os ouvidos. Vou resumir apenas nisto: eu não ouvia; apenas era um expert em leitura labial.

Depois de acompanhar uma de minhas filhas, Flávia, no Ensino Médio, vibrando por aprender a Língua Pátria com ela, tornei-me seu aluno na disciplina “Português Instrumental”. Foi quando conheci de verdade a grande professora que conseguia inspirar alunos a estimar um idioma tão maltratado, terrivelmente pisoteado, mas de uma riqueza imbatível.

Antes de contar apenas um causo para que seu nome fique gravado em minhas páginas na internet, lembro-me das missas das 10 na Igreja da Saúde, onde nos encontrávamos, religiosamente, aos domingos e éramos aproximação certa no “Abraço da Paz”.

Quando um de nós se ausentava, a reclamação vinha na semana seguinte ou num eventual encontro pelas ruas da cidade. Nossos assuntos eram nossos orgulhos, os filhos e netos e, sem falha alguma, tira-dúvidas da Língua Portuguesa. É claro que, nesse caso, o questionador era sempre eu, ela sabia de tudo.

Neste dia 29 de agosto de 2023, ocorreu sua partida dolorosa e indesejada. Registro agora os meus sentimentos aos demais filhos de Deus que a amam para sempre. Assim, relembro um causo ocorrido com ela em sala de aula. Vamos lá. Dia de prova de sua disciplina. Ágil, conclui meu desafio. Entreguei o dever. Saí pensando comigo: “Vou tirar nota máxima”.

Que nada! Na aula seguinte, a entrega dos resultados. Ao chegar a minha vez, me chamou com um gesto de mão e falou o seguinte: “Tome sua prova e vá à sala ao lado, que está vazia, e complete o seu trabalho”. Assustado, peguei a folha, fiz o que pediu; quando virei a folha seguinte, estava sem respostas. Distraído e sozinho, corei. Completei, retornei  à sala anterior e devolvi meu exercício, agora todo pronto, agradecendo-lhe, sem graça, a gentileza.

E corei mais ainda ao ouvir a sua explicação:

— Olhe, pedi para completar a prova porque adivinhei que você, jamais deixaria uma prova em branco. Só advirto a ser mais atencioso.

Dedico essa virada de lauda ao que ela merece: virou sua página  para outra etapa, agora, certamente com o prêmio pela vida exemplar transcorrida com familiares, milhares de alunos, amigos e uma Itabira inteira que a reconhece para sempre.

José Sana

Em 30/08/2023

Foto: Álbum da Família

NS
José Sana, jornalista, historiador, graduado em Letras, nasceu em São Sebastião do Rio Preto, reside em Itabira desde 1966.

    A DEPENDÊNCIA QUÍMICA E A DESTRUIÇÃO FAMILIAR

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