Primeiro lembrete ao leitor-internauta: este site não faz sensacionalismo. Segundo lembrete, que é um alerta: cidadão que mora em Itabira, você (se servido pela distribuição do Pará, até este fim de semana) está consumindo água não tratada.
Desde 27 de março, NS está tentando entrevista com a nova diretora da autarquia, Karina Rocha Lobo. O setor de Comunicação Social da Prefeitura previu que seria agendada para esta semana. Surge mais um item a ser abordado: o itabirano está ingerindo água sem tratamento, uma novidade que, segundo servidores do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), não ocorre há pelo menos 30 anos.
REALIDADE DURA DE ENGOLIR
Itabira tem cerca de 40 reservatórios de água, que recebem, teoricamente, o produto limpo e devidamente tratado. Os maiores são os dos bairros Bela Vista, Amazonas, Gabiroba e Juca Batista. Contudo, neste fim de semana (31 de abril a 2 de maio), foi constatado o que técnicos do SAAE consideram “verdadeiro crime”: o reservatório do Bairro Pará, que comporta 350 mil litros, estava com suas dimensões totalmente imundas medidos cerca de 5 centímetros de sujeira (minério de ferro). O líquido é consumido pela população itabirana. A partir de ontem, domingo (2), a situação deve ter sido resolvida no mencionado reservatório. Mas fica a pergunta: e os demais 39 que atendem a cidade, incluindo os poços artesianos?
O tempo em que a sujeira está sendo consumida pelo itabirano e seus visitantes é calculado pelos mesmos técnicos em um ano, ou mais, isto é, desde quando a água já faltava de forma assustadora na cidade. Providências concretas para solução do problema sempre caminharam em ritmo lento, estilo blá-blá-blá. Além da água com aparência de boa para o consumo, e não é, a sua turbidez assustadora foi sentida e reclamada fortemente pela população no período eleitoral.
VINTE E UM ANOS ESPERANDO SOLUÇÃO
O povo de Itabira, pelo menos grande parte dele, não sabe que, em 2 de fevereiro de 1998 foi realizada a primeira audiência para tratar do assunto. E, no dia 18 de maio de 2000, foi assinada, solenemente, no Centro Cultural de Itabira, a primeira Licença Operacional Corretiva (LOC) entre a Vale, Prefeitura de Itabira e Ministério Público Estadual. O documento prevê, na condicionante 12-A, a solução completa, que deveria ter sido executada pela mineradora. A construção de uma nova e super Estação de Tratamento de Água (ETA) estava ligada à autorização para minerar, fato que nunca se interrompeu em toda a permanência da empresa na cidade por tal razão.
São 21 anos de inércia e falta de solução, e mais dois de preparação, ou seja, pode-se dizer que há 23 anos a administração municipal já sabia que a crise viria, como aí está. O governo anterior, de Ronaldo Magalhães, apresentou, sim, um belo vídeo, como publicidade impactante, que dá a entender que tudo estaria às mil maravilhas. As imagens parecem livrar a própria Vale de eventual culpa — e poucos conhecem os porquês —, mas esquecem o que dizem entendidos da questão: que antes de 2027 Itabira continuará sendo uma cidade sem-água, como existem os sem-teto, os sem-terra e agora, também, em consequência da pandemia, os sem-dinheiro e mais do que nunca, os sem-emprego.
A questão da água não é simplesmente a falta, que desafia a atração de investimentos, mas a saúde da população colocada em risco. Enquanto o prazo de saída da Vale de Itabira está limitado ao ano 2028 (ou seria 2030? Ou 2031?), aportam-se novos desafios. A questão se resume nesta denúncia um tanto quanto inesperada de que a cidade toda pode estar consumindo água não tratada.
RISCOS EM INGERIR ÁGUA CONTAMINADA
Segundo os próprios técnicos com os quais Notícia Seca falou, são riscos sérios e iminentes a quem consome água sem o tratamento adequado: doenças e sintomas, como diarreia, febre, hepatite A, infecções intestinais e outras que a medicina define como verminose.
A desidratação também é um risco ao se consumir água contaminada, então é importante que se mantenham hidratadas, principalmente, as crianças, com água saudável.
Importante também, que todos os condomínios residenciais e residências comuns mantenham limpos seus reservatórios e se faça, urgentemente, um levantamento de doenças que assolaram ou assolam a população durante todo esse tempo, recorrendo-se aos hospitais, clínicas, médicos especializados e laboratórios. Para os técnicos, a origem suja tem que ser eliminada. E ela está exatamente na fonte, nos reservatórios do SAAE.
Será que enfrentamos apenas a pandemia do Coronavírus, já que nos esquecemos da dengue e, agora, da sujeira do principal produto que a natureza oferece ao ser humano?
Notícia Seca
Fotos: Divulgação