Foto Itabira (Acervo: Roneijober Andrade)
Sou um tatu da roça. Bobo como um tatupeba. Pior: não tenho cara nem de esperto, dizem meus amigos chegados, contradizendo o “mineirim caipira”. Por isso deixei a política. Mas vou me defender: escolho as minhas companhias silenciosas em livros e artigos de graduação, pós-graduação, mestrado, doutorado, PHD, exemplos.
Agora, por exemplo, para tentar esclarecer o momento itabirano, que considero negro como as nuvens de anteontem, que cobriram o céu municipal, recorro a uma das preferidas autoras eminentemente itabirana. Esta não é nem a décima vez que tento focalizar o futuro de Itabira. Desde 1966, quando aqui cheguei, tenho procurado ser fiel à minha opção de ter escolhido esta cidade para viver.
A TERCEIRA ITABIRA
Maria das Graças Souza e Silva, Baginha, em artigo de mestrado transformado em livro (A Terceira Itabira: os espaços político, econômico, socioespacial e a questão ambiental —São Paulo: Hucitec, 2004, 254 p), obra muito discutida nas rodas historico-literárias itabiranas, das cidades mineradoras e das monoindustriais, dá sua luz às dúvidas que continuam soltas por aí.
Diz a autora: “O título do livro ‘A Terceira Itabira’ é uma alusão ao questionamento de Drummond quanto ao destino de Itabira após a exploração de suas riquezas minerais”. A seguir, explica, perguntando: “Haverá uma terceira e diversa Itabira? (Andrade, 1967, p.574).
“Diante da pergunta de Drummond, o livro se apresenta muito maior que uma pesquisa: é uma resposta para a cidade! Uma lição que deve ser estudada para evitar os erros do passado e ensinar como planejar, urgentemente, o futuro”.
PARA AONDE CAMINHA ITABIRA?
E agora, caro prefeito Marco Antônio Lage? Ou transferindo de Drummond a pergunta, diria: “E agora, José?” Um dos filhos de Marco tem o prenome José, vamos de filho para pai. O senhor prefeito não pode negar que não o alertei e não lhe ofereci, na bandeja, a solução. Sei que teve contatos com as Três Marias, ou nós a oferecemos, a inteligência, boa vontade e bondade delas para auxiliar.
Elas reuniram-se (faltou a presença de Maria Cecília de Souza Minayo, que reside no Rio de Janeiro) e estiveram a autora do livro com outra autora de outras obras referentes a Itabira, Maria do Rosário Guimarães de Souza, Zara.
Também, publicamos em sites e blogs a simples sugestão de considerar, os trabalhos científicos das filhas de Itabira, por opção, já que nasceram em Rio Piracicaba e são presentes de Deus à nossa cidade.
Em seu discurso de posse, senhor prefeito, está bem escrita a disposição política do verbo ‘empreender’, agora desprezado. Como um José qualquer (ou Izé porque sou da roça, é o que andam dizendo nos bastidores), qual investimento chegou a Itabira? Cite um…
Promessas, sim, essas choveram. A principal delas, feita solenemente, em 2 de outubro de 2021, na apresentação do chamado Plano de Metas, que colocaria 20% do orçamento de quatro anos em investimentos, evaporou. Hoje se vê o resultado de quase dois anos e meio de governo: zero empreendimento, zero investimento, zero esperança.
E não têm desculpas, apesar de transferirem culpas a governos anteriores, isto já caiu do galho. O senhor casou-se com uma viúva chamada Itabira e a herança era conhecida. Ainda teve orçamento de capitais brasileiras. A terra itabirana está movimentada e a ilusão enche de esperanças os bobos da roça (desta turma não faço parte) com o “descomissionamento de barragens”, termo que significa simplesmente “Adeus, Itabira.Assinado: Vale”.
Quem não se lembra, na pandemia: a Justiça fechou as atividade de mineração durante dez dias? O senhor prefeito mostrou-se desnorteado com aqueles momentos. Daqui a dez anos não serão dez dias, nem meses, nem anos, mas para sempre. E o que resolverá fazer uma demagogia como “tarifa zero de passagem?” Alguém vai para aonde?
O prognóstico otimista da geógrafa, pesquisadora, historiadora e mestre Baginha, na sua simplicidade, talvez, não assine mais o que escreveu, palestrou e divulgou em 2003/2004. Já se passaram duas décadas e, depois do alerta, o que se fez? Nada mesmo, repetindo para perturbar!
Baginha (Acervo familiar)
Fica aqui o registro mais uma vez de que, vou assinar e continuar jogando minha água mole a cabeças duras dos politiqueiros só interessados em votos. Digo eu, que não mais disputo cargo eletivo, assino e assumo, palavras minhas, sem aspas: Itabira não será nem segunda completa, quanto menos a terceira viva. Até o retrato na parede cairá. Lamentavelmente.
José Sana
03/05/2023
P.S.: Maria das Graças Souza e Silva aí está, vive entre nós, é atuante, autora citada acima, não poderia ser convidada pelos vereadores para explicar mais uma vez se há tempo para sonhar com a Terceira Itabira?
PS: Senhor prefeito de Itabira, eleito às custas de enganos, desculpe-me: mande recado direto, indiretas não!