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Um grupo de políticos e empresários, a maioria ligada ao setor de transporte de Minas Gerais, e seus familiares, tomou, na terça-feira, dia 23, a primeira das duas doses da vacina da Pfizer contra a Covid-19, em Belo Horizonte. Eles compraram o imunizante por iniciativa própria e não repassaram ao SUS (Sistema Único de Saúde), como prevê a lei. A segunda dose está prevista para ser aplicada nas cerca de cinquenta pessoas daqui a trinta dias. As duas doses custaram a cada pessoa 600 reais.

O PREMIADO E A LEI

O ex-senador Clesio Andrade sobre a vacina comprada por empresários: “Fui convidado, foi gratuito para mim” Ex-presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), foi um dos agraciados. “Estou com 69 anos, minha vacinação [pelo SUS] seria na semana que vem, eu nem precisava, mas tomei. Fui convidado, foi gratuito para mim”, disse ele à Piauí. Uma fonte familiarizada com o caso disse à revista que a vacina era da Pfizer, mas o laboratório nega que tenha vendido seu imunizante no Brasil “fora do âmbito do programa nacional de imunização”.

Ex-senador Clesio Adrade afirmou que foi convidado e recebeu a dose gratuitamente

Ex-senador Clesio Adrade afirmou que foi convidado e recebeu a dose gratuitamente.

Uma empresa de ônibus teria sido improvisada para a execução da vacinação das cinquenta pessoas imunizadas.

O Congresso aprovou, há cerca de vinte dias, um projeto de autoria do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que autoriza a compra de vacinas pela iniciativa privada, mas determina que todas as doses devem ser doadas ao SUS até que os grupos de risco – 77,2 milhões de pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde – tenham sido plenamente imunizados em todo o país. O Brasil vacinou menos de 15 milhões de pessoas até agora.

Mesmo depois da imunização dos grupos prioritários, as vacinas compradas pela iniciativa privada devem ser divididas meio a meio com o SUS, numa operação fiscalizada pela pasta. O Ministério da Saúde enviou uma nota na qual diz que “as doses contratadas pela pasta da Pfizer/BionTech ainda não chegaram ao Brasil. A previsão do laboratório é entregar a primeira remessa a partir de abril ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) – que é a base da vacinação de todos os brasileiros contra a Covid-19”.

MAIS PRIVILEGIADOS

O deputado estadual de Minas Alencar da Silveira (PDT) também foi vacinado, segundo relatos de pessoas presentes. Silveira contou às pessoas que estavam no local da vacinação, que já tinha tido Covid, mas foi que seu médico autorizara que se imunizasse. À Piauí, Silveira conformou que já tinha sido infectado pelo novo Coronavírus, mas negou que tivesse participado da imunização paralela. “Não estou sabendo, não. Até gostaria, mas estou com Coronavírus, nem posso”, afirmou.

De acordo com relatos, o grupo foi vacinado por uma enfermeira que se atrasou porque estava imunizando outro grupo na Belgo-Mineira, mineradora hoje pertencente à ArcellorMittal Aços. Em nota, a ArcelorMittal afirmou que nunca comprou nenhuma vacina para o combate à Covid-19 da Pfizer ou de qualquer outra empresa farmacêutica. “A empresa nunca fez nenhum contato com a Pfizer ou qualquer outra empresa do setor farmacêutico para compra direta de vacinas contra o Coronavírus.

Vacinação Particular

A Abertta Saúde, empresa de gestão de saúde da ArcelorMittal, atua como posto avançado de vacinação do SUS junto às Secretarias Municipais de Saúde de Belo Horizonte e de Contagem. No entanto, a ArcelorMittal desconhece qualquer atuação de seus profissionais em atos correlacionados à vacinação fora dos protocolos do Ministério da Saúde e do Programa Nacional de Imunização – PNI.”

FALA O FABRICANTE

Em nota, a Pfizer disse que “nega qualquer venda ou distribuição de sua vacina contra a COVID-19 no Brasil fora do âmbito do Programa Nacional de Imunização. O imunizante COMIRNATY ainda não está disponível em território brasileiro. A Pfizer e a BioNTech fecharam um acordo com o Ministério da Saúde contemplando o fornecimento de 100 milhões de doses da vacina contra a COVID-19 ao longo de 2021”.

Após a publicação da reportagem, o deputado estadual João Vítor Xavier (Cidadania), presidente da CPI dos Fura-Filas da Vacina na Assembleia de Minas, afirmou que, na quinta-feira, vai “ouvir Ministério Público, corregedoria e ouvidoria do governo”. O objetivo é averiguar se a CPI tem competência para investigar o caso.

Com: Reportagem transcrita da Revista Piauí/THAIS BILENKY

Foto: Pedro França/Agência Senado/Divulgação

NS
José Sana, jornalista, historiador, graduado em Letras, nasceu em São Sebastião do Rio Preto, reside em Itabira desde 1966.

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