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Qualquer cidadão que chegasse ontem (29) na Estação Rodoviária de Itabira e, como turista — a cidade recebe drummondianos para a semana do poeta — e fosse direto à banca de jornais e revistas, tivesse mais uns dez minutos para manusear o “Diário de Itabira” e lesse a seção “Pinga-Fogo”, pegaria em seu caderno de anotações e faria a seguinte escrita: “Itabira é terra de Drummond, que não conseguiu afastar-se do preconceito”.

O jornal retratou fatos sucedidos entre uma vereadora, que não estava presente — Rosilene Félix Guimarães — e outras amadas e seus seguidores. O visitante, ou turista, se fosse atraído também  por exemplos deixados por Carlos Drummond de Andrade, na certa daria meia volta, iria ao guichê e compraria um bilhete de volta ao seu local de origem.

 

DIRETAS  E  INDIRETAS

Enquanto isso, Rosilene Félix Guimarães, que é também advogada, foi conduzida a um campo de concentração nazista, onde, não se sabe a razão — se por ser vereadora oposicionista, mulher, negra, pode-se perceber pela Indefesa, ainda em pleno uso das prerrogativas de seu mandato, sem se importar com isso. Pelo contrário, Rose  homenageou as duas candidatas eleitas  na reunião anterior, elegantemente, Dulci Citi e Jordana Madeira, mesmo sendo metralhada. Que lição!

Relatou o jornal humilhações vividas pela “condenada” a uma inquisição itabirana, atacada por mísseis desferidos do front de guerra, inexplicavelmente, sem se saber que o alvo sofria de Machismo, Racismo, Sexismo, Homofobia, Bullying e todas as humilhações que estavam, com certeza, entaladas nos rancorosos participantes de um linchamento injusto.

Se o turista não fosse embora, resolvesse dar uma passada na Câmara Municipal, anotaria ou perguntaria, com certeza: “Quem é essa tal de Rosilene Félix, que  crime ela cometeu, matou mais que os nazistas na Segunda Guerra Mundial e por que estaria na  Lista de Schindler ou é apenas uma neo Joana D’arc, que aceita passivamente ser incinerada?”

E ficaria estupefato ao constatar que a Dra. Rose apenas cumpriu seu papel constitucional e regimental, de fiscalizadora do Poder Executivo, seguindo à risca as leis, trabalhou em CPIs e fez críticas ao desempenho do prefeito, usando a liberdade e a responsabilidade que a lei lhe confere.

Não somente Rosilene Félix compôs a equipe de oposição ao prefeito, mas outros vereadores como Neidson Freitas, Heraldo Noronha, Luciano Sobrinho, Rodrigo Diguerê, Júlio do Combem, Robertinho da Auto Escola, Sidney do Salão, Weverton Vetão e Tãozinho Leite e ela própria, num total de dez, maioria absoluta. E os ultrajes iam sempre em sua direção e fariam lembrar uma passagem bíblica: “Atire a primeira pedra…”

Caderno debaixo do braço, o visitante retornaria, sim, desta vez irredutivelmente, à Estação Rodoviária Genaro Mafra, onde reembarcaria em sua condução, carregando uma decepção jamais vista ou simplesmente  uma decisão: “Nunca mais volto aqui”.

“ITABIRANAS SUB-REPRESENTADAS?”

Ah, é preciso acrescentar que as informações do jornal partiram do Pontal Comunidade, da emissora Pontal, programa apresentado pelo radialista José Geraldo Rodrigues. Uma das expressões faladas e publicadas pelos adeptos das eleitas e por elas aquiescentes,  foram as seguintes: “… as mulheres itabiranas sempre foram sub representadas, agora sim, teremos representante que fará a diferença no Legislativo”.

Será que é permissível dizer que já passaram pela Câmara Municipal as vereadoras  Regina Maria Pinto Coelho (que foi até presidente), Edwiges Maria Barbosa e Silva Costa (Dona Dudu), Emerenciana Nitinha Drummond Lage, Maria José Pandolfi (que foi presidente), Vanessa Porto, Martha Mousinho, Marcela Cristina Lopes da Silva, Laudiceia, Cleonice e a própria Rosilene? Acrescentam-se agora, duas grandes “esperanças”, símbolo de independência, que são as elogiadas Dulce Citi e Jordana Madeira?

TEREMOS DEMOCRACIA?

É claríssimo que não, arrisco um prognóstico. Definitivamente não teremos liberdade de expressão daqui para a frente, considerando as manifestações que continuam sendo praticadas. Não mais se pode dizer que a barba do prefeito é branca alternada com preta, que ele dança bonitinho, que promete e até cumpre que é o único itabirano que bebe água limpa, que bateu o recorde na construção de praças. Faltará que um corajoso mande fazer uma placa e a afixe na entrada da sede da Câmara Municipal com o anúncio escancarado: “É proibido falar mal do Poder Executivo”.

Ódio, rancor, fúria — escolha você o que está passando desde a vitória magistral de 76% de frente no inesquecível 6 de outubro. E rasguem o regimento interno do Poder Legislativo até que o Brasil também não se torne uma republiqueta da Venezuela. É proibido também sequer pensar que ainda existe na Constituição a palavra Democracia. Liberdade, gente, nem sonhar.

 

José Sana

Em 30/10/2024

Foto: Redes Sociais

 

P.S – 1 : Não sou advogado, não tenho procuração, nem sequer me encomendaram esta defesa, que considero fraca diante do que acaba de ocorrer. E espero que alguém de bom senso faça deter a enxurrada de humilhações. Perder ou ganhar faz parte do jogo da eleição e que Deus ilumina tanto os vencedores quanto os vencidos.

P.S – 2 : Quem me conhece sabe o meu motivo real de tomar este partido de defesa: sou insuportavelmente contrário à injustiça, à ditadura, à tirania, ao preconceito.

PS – 3 : Enquanto não vem uma fábrica qualquer, mesmo de rapadura, a de preconceitos dá suas caras em Itabira, oficialmente.

NS
José Sana, jornalista, historiador, graduado em Letras, nasceu em São Sebastião do Rio Preto, reside em Itabira desde 1966.

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