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Um dos raros leitores que tenho me escreve questionando a minha crença política. Também quer saber se sou contra ou a favor da reeleição de Marco Antônio Lage. Quer ser conhecedor de tudo em mim: religião, time de futebol, sexo, preconceitos, manias, sabonete, pasta dental, superstição, se fumo, se bebo e quer mais uma ruma de informações. Só faltou perguntar qual cueca uso, se a moderna ou a antiga samba-canção.

Entendo a curiosidade desses frequentadores de redes sociais, mas restrito à vida de gente famosa e não a lambedor de rapadura. Tanto é que minha resposta foi a seguinte: “Amigo, por qual o interesse de tanta curiosidade tão desimportante?” A réplica ainda não chegou. Imagino que era uma zoada e o assunto esteja encerrado.

Confesso que esperava dele uma pergunta sobre o prefeito, não sobre mim. E colocaria a curiosidade restrita a apenas ideologia política e gestão de tudo. Como administrar uma cidade? Como enxergar o futuro de um município, região e país? Aí encerraria o assunto com a pergunta: qual o perfil de uma cidade que cresceu em função de uma atividade extrativa mineral de larga escala por estas Minas Gerais?

Abro um parágrafo para afirmar que cidades do porte de João Monlevade, Ipatinga, as urbes da Grande BH, são asseguradas por uma economia secundária. Itabira está presa a uma economia primária. Sua riqueza, que lhe permitiu o crescimento e o padrão de vida acima do normal não tem garantia de continuidade. Ou melhor, a dona da atividade, a Vale, já anunciou que trancará suas minas e vai embora de nossas plagas. Ela proporciona uma corrida de dinheiro acima de R$ 1 bilhão por ano e vai deixar a possibilidade de outras arrecadações abaixo de R$ 200 milhões, ou menos. Fecho o parágrafo.

Agora, a pergunta que, infelizmente, sugere uma resposta desanimadora : o que Marco Antônio Lage, prefeito animado da cidade, fez para entrarmos na trilha das providências concretas para um futuro seguro? Resposta mais que apática mas segura: nada, nada, nada, nada, nada, nada. Sem mentira, sem erro. Viria uma nova pergunta: o que ele fez com a dinheirama que passou por sua caneta?

Qualquer coisa ele andou debulhando com essa mina de recursos, como reformas de escolas, mata-burros, postos médicos, tapamento de buracos (ainda não tapou todos e estamos quase no fim do mandato), festas seguidas por festanças, facilita (coisinha à toa, gastos de publicidade sem dó. Haveria uma tréplica? Talvez.  Explicarão que o chefe veio para ajudar pessoas. Prefeito é para administrar município e nunca encher a pança de quem quer que seja. Governar, moço! Repita comigo: ser gestor de cidades e não de barrigas.

Ah, ele está assinando uma ordem de serviço para asfaltamento de minguados 12 quilômetros de estrada, de Ipoema a Senhora do Carmo, distritos que merecem progredir, mas que não sustentam uma vida sem uma empresa como a Vale.

Comparando os números, com os de governos anteriores, que os mal-intencionados odeiam (em parte, eu também mas salvo parte de todos), foram asfaltados mais de 125 quilômetros (vou mostrar todos os detalhes em outro texto). As 12 merrecas de quilômetros  de terra que constituirão a obra-prima do governo atual são a última respiração de uma gestão indigesta.

Eu próprio defenderia o senhor prefeito, mas, infelizmente, o alcance de sua visão não passa da ponta do nariz para trás. Faz dó, mas ao agir administrativamente como age, o prefeito de Itabira está assinando seu atestado de óbito como gestor e o nosso como jecas-tatus. Ele próprio já abriu o verbo comigo assim:

“Você, se fosse o prefeito de Itabira, deixaria crianças sem escolas, pessoas doentes sem atendimento, uma cidade jogada às traças?” Dei-lhe a resposta: “O que foi feito com 2 bilhões de reais arrecadados nos últimos dois anos?” Ele quis que eu dissesse algo como adjetivos pejorativos, mas respondi-lhe que “urubu velho não entra em armadilha de urubu novo”.

Conclusão: se for concretizada a Itabira bem-arrumada, bonitinha, cheirosa, uma cidadezinha decorada e florida, de sonhos marcolinos, teremos tudo isso, mas ninguém haverá para desfilar pelas belas ruas, ou somente mendigos dormindo em imóveis abandonados. Culpados: nós, que achamos que uma economia primária se arruma na última hora. E Marco Antônio Lage, um aventureiro perdido no horizonte de sua vida.

Vocês conhecem o Castelinho do Bairro Pará, se não me engano do Chico Rato? Seremos uma cidade repleta dessas casas mal-assombradas, lá da antiga Rua do Bongue, do Santeiro Alfredo Duval que,  há mais de 50 anos está abandonado, infestado de ratos, gambás, morcegos, baratas e assombrações.

José Sana

28/07/2023

Fotos: Arquivo

Nota ao pé da página

Como me dói escrever um texto como este!

NS
José Sana, jornalista, historiador, graduado em Letras, nasceu em São Sebastião do Rio Preto, reside em Itabira desde 1966.

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