Era precisamente 1.º de novembro de 2005, 14 horas, estava eu em Lavras, cidade situada a 230 km de Belo Horizonte, 370 km de São Paulo e 420 km do Rio de Janeiro, quando atendi a um chamado de Itabira, da DeFato. A comunicação se resumia no seguinte: “O reitor está à sua disposição para entrevista, na Unifei, em Itajubá, até 19 horas de hoje”. Acabava de almoçar num restaurante no centro da cidade, corri ao mapa e obtive a resposta confirmada pela caixa: estamos a 240 km de Itajubá, tempo de viagem de 3 horas. Paguei a conta e pé na estrada.
O homem me esperava, super pronto. Como se percebem era véspera de feriado, uma terça-feira. E varamos a noite conversando. Saí impressionado com a simplicidade e o currículo do mestre Aquino, de uns 60 anos, calculei. (errei por pouco, hoje tem 77). Ocorreu no seu gabinete, na Universidade Federal de Itajubá (Unifei), da tarde para a noite, a primeira ida à imprensa do assunto.
Quer dizer: sou o maior admirador da iniciativa de tornar Itabira um eminente polo universitário. A entrevista está registrada nas páginas 8 a 10, na edição 155, de novembro de 2005. Isso significa que, em Itajubá fui para o hotel, peguei no notebook e mandei a entrevista para a redação porque a revista estava sendo rodada com um dia de atraso.
E depois, onde mais vi o professor? Impossível responder. Tivemos vários encontros: em Itabira, Belo Horizonte, Itajubá, Brasília, gabinetes de deputados, senadores, vice-presidente da República, táxis pelas ruas, voos em idas e vindas, restaurantes etc. Fácil ser amigo dele, até pela cultura portuguesa que ele adquiriu na terra natal Ilha da Madeira, Itajubá e Moçambique.
Um grande momento que tivemos foi em conversa no gabinete do vice-presidente José Alencar Gomes da Silva, quando esse disse ao reitor Renato Aquino, ao prefeito João Izael Querino Coelho e aos vereadores José Celso de Assis e Gilberto Magalhães, e a mim, que se empenharia ao máximo pela concretização do sonho universitário de Itabira.
Outro bom e inesquecível momento ocorreu em Itabira, após reunião com os parceiros do projeto — Vale, Ministério da Educação (MEC) e o prefeito Izael —, quando Renato acabava de analisar e rejeitar o primeiro projeto arquitetônico da Unifei/Itabira. Aquino, depois de um severo questionamento que lhe fiz, ameaçou-me de peito aberto: “Quer saber como será a nossa Unifei? Vá ao Sul da França, precisamente Sophia Antipolis e conheça o maior Parque Tecnológico do Mundo; o modelo inspira o nosso trabalho”. Sabem como foi a minha resposta? “Fechado! Vou lá!”
Mãos apertadas. Saí dali e fui atrás de Padre Dickens, natural do Haiti, que morava em Itabira e acertamos aulas de francês. Estudei nove meses e fomos ao fio da meada. A partir daquele momento, conhecendo a nossa futura primeira reação contra a exaustão mineral, passei a ser um pontual fiscalizador da obra, incluindo as dificuldades de construção e desenvolvimento dos nove primeiros cursos instalados.
E chegaram as eleições. Espontaneamente ofereci apoio ao então candidato a prefeito, que se tornou entusiasta de nossos encontros, recebi em contraposição apenas uma quarentena da misteriosa Covid-19. A resposta que o chefe do executivo itabirano deu foi a seguinte, depois da eleição: “Município não investe em obra do Governo Federal”. Mas eu sabia e sei que professores e outros gastos são mantidos por Brasília. Será que alguém disse tal verdade ao “Senhor dos Anéis?”
Preciso voltar ao cidadão português e lamentar que Itabira vive chutando baldes seguidamente. Veja esta: Renato Nunes estava em Itabira, acreditem, nesta semana, quando o Ecossistema Itajubá HardTech conquistou o Prêmio Nacional de Inovação, na Categoria Médio Porte. Não disse que ele é engenheiro eletricista, portador de mestrado, doutorado, prêmios aos montes e, para somar HD em Humildade. Aprendeu a gostar de Itabira e aí está o maior e imperdoável erro itabirano. O único forasteiro dos últimos anos que fez mais pela cidade. E algo que interessa muito a todos, o futuro.
José Sana
Em 29/09/2023
NOTA AO PÉ DA PÁGINA
É evidente que, depois de tentar resumir a importância de um profissional à frente da iniciativa chamada Unifei, um ou outro, até muitos, ficam esquecidos ou não citados. Uma ou duas páginas apenas não representam a vida de uma centenária instituição que chega, mesmo paralisada em Itabira, ao topo de todos os empreendimentos. Mas vale lembrar que há alguém do porte de um engenheiro como Kleber Carvalho Guerra, com certeza a mola propulsora da Universidade Federal de Itajubá/Itabira, com destaque inicial para consultoria prestada à Vale.
E também se destacam nomes de Itajubá no contexto de trabalho de Itabira, podem acreditar que ainda serão citados e homenageados.