(Capítulo 3)
Continuamos em 2040, a procissão já passou e não precisa mais tirar o chapéu. Ninguém arrancou suas boinas, bonés e casquetes. Agora, em reunião realizada debaixo de uma árvore no Bairro Bela Vista (todos os botecos, casas, apartamentos e lojas estão fechados) a última turma da resistência resolveu tomar uma medida final: ressuscitar o itabirano, morto, chorado e velado.
Como escreveu meu saudoso amigo Marconi Ferreira, que deixa saudade imensa entre seus milhares de amigos, havia aglomeração para ver o Capeta do Campestre e a Loira do Parente. A sociedade tinha esperança do crescimento da Vale e, na expectativa, expunha aperitivos, vendendo sucos e água doce acompanhados por balaios de pasteis e bombons. Os clientes eram os apreciadores do terror e do horror. Isso nos anos 1960 e 1970. O dinheiro corria como Fittipaldi nas pistas de Fórmula I no Hipódromo da Esquina dos Aflitos.
Nas casas em que o Capeta do Campestre comparecia, chegava primeiro o Monsenhor Jose Lopes dos Santos. Agora, acabou isso, Zé Lopão não está mais aqui. Mas o mundão de gente prossegue a sua arrancada, só que agora com mais balaios que antes, mais ambulantes em comparação com os fregueses de antigamente. A Loira do Parente gerava mais expectativa e enchia a pracinha, porque naquele lugar tinha o atrativo da novidade. Itabira transformou-se na mais sugada das cidadezinhas quaisquer depois do “bye-bye” da Vale.
Chegaram os dois — a Loira, também conhecida como Princesa da Aliança, deixando a sepultura aberta e perfumada, e o Capeta, esse com o nome popular de Loio-L0iro — mas só os dotados de atrativos mediúnicos viram suas estampas. Reuniram-se, como fazem os embromadores. E fizeram um acordo chamado “Força-Tarefa para salvar Itabira”. Ninguém mais acreditava, o prefeito era um tal de anjo mau seguido do sobrenome Deslumbrado. Um forasteiro no meio de mil ergueu uma faixa com os dizeres chamados de triunfais: “O amanhã feito hoje”.
O povo não tinha forças nem para bater palmas de contentamento, quanto menos dinheiro para comprar pastel. A multidão assentou-se no chão, os bancos da pracinha estavam sujos de cocôs de passarinhos e galinhas e ainda reinava um mau cheiro ao redor. Caiu a noite e as luzes não foram acesas porque ninguém mais em Itabira paga sequer a taxa de iluminação. A Cemig teve que escurecer toda Itabira, à noite. Durante o dia era somente na parte da manhã.
A vida por aqui era uma ocorrência inédita. Por falta de investimentos nas atividades econômicas “acabou-se o que era doce”. Os restantes aposentados e pensionistas que não padeceram recebiam seus tostões e compravam nos armazéns do centro da cidade. Os jovens zarparam para outras plagas. Quem não pôde sair da ex-terra mineral foi caçar serviço nas cidades vizinhas. João Monlevade aproveitou-se dessa super crise, mas, aos poucos, começou a fraquejar com a incrível debandada de viúvos e viúvas das folhas de pagamento.
A esperada Força-Tarefa do Além acabou dando namoro da Loira com o Capeta, aparecendo filhos endiabrados e piorando mais a situação. A união satânica também gerou revolta contra os responsáveis pelo total empobrecimento de Itabira e sua transformação no sempre temido “Bolsão de Pobreza”.
O único evento que deu resultado satisfatório, ultimamente, considerando que a turma destruidora sabe promover festinhas vagabundas, foi o lançamento de uma promoção chamada “Troféu Cegueira 2025”. Contemplados foram os próprios promotores da Força-Tarefa atual. A realização rendeu a quantia de R$ 18,30.
Os partidários do metrô desapareceram, mas ainda tem gente que levanta outra bandeira, que pode tornar Itabira o maior exemplo de como se queima dinheiro a rodo. Os itabiranos ganharam na megasena da virada todo mês e agora vê que seus bolsos estavam furados. Já em 2024 o mote das campanhas eleitorais “malistas” era o mais simples possível: “O amanhã começa ontem”.
(Continua na próxima semana)
Sensacional!!!