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O mundo está pegando fogo. Lula da Silva se embriaga numa briga interminável e particular contra Donald Trump. E Itabira? Resposta: vivendo uma disputa de quem é dono do picolé que está em plena fase de derretimento e não vai sobrar nem o “pau”

 Cheguei a Itabira para morar exatamente na sexta-feira,  27 de maio de 1966, depois de uma longa bateria de concursos na cidade, em Belo Horizonte e dentro da própria mineradora, a então Companhia Vale do Rio Doce. No dia seguinte, sábado, quando arrumei um quarto para morar — a cidade estava sem até buracos para ratos se aconchegarem —  carteira assinada, assisti a primeira palestra a respeito de mineração e a CVRD.

Minas fechadas em Itabira, governo local faz quem não vê e produção influi, é claro na arrecadação municipal que vai criar uma “cidade fantasma” (Foto Trem Itabirano)

Vibrando e orgulhoso de trabalhar na empresa que era praticamente só itabirana e capixaba, meu astral rastejou  ao ouvir mais ou menos as seguintes palavras indignas de serem ditas naquele tempo de vacas se engordando com promessas de infinitude: “Bom fim de semana para todos e felicidades até quando o minério de ferro se exaurir”. Desci a escadaria do escritório do Areão (não havia ainda elevadores), peguei minha carteira profissional na Divisão de Pessoal, assinada por Sinval Silva, entregue pela competente Maria Emídia Campos Morais, enfiei-a no bolso e marchei solitário até a rua Água Santa número 160, Pensão São Cristóvão, dos inesquecíveis Carolino Salles e Dona Lilice.

“O MUNDO VAI ACABAR?”

A frase “corre, corre, corre, dizia o Leão, rei dos animais, porque o mundo iria acabar, mas era uma fábula infantil” — esse enredo de uma história as crianças recebiam em tom de urgência, porque anunciava o fim dos tempos. A meninice mais esperta sorria porque não se justificava fugir num só mundo que até então parecia existir.

O mundo ainda  não acabou, embora amantes de cenas apocalípticas desenhem em literatura, imagens e todo tipo de ficção o seu fim. Mas, arranquem as aspas e troquem o mundo por Itabira porque de verdade a terra de Drummond está à beira do precipício. Mesmo assim, até pelo seu (des) governo, os sinais de desmonte de uma urbe se escancaram aos olhos e sentimentos de pessoas que se dizem normais, mas não é verdade, a maioria faz parte da idiotice, da cegueira de olhos arregalados.

“ITABIRA VAI ACABAR?”

Caminhões vão se estacionando, é o fim da mineração de ferro, fim dos dólares para as cidades que desperdiçaram riquezas (Foto de FCS)

 

Desde aquele sábado de manhã em que minha carteira profissional foi assinada na Vale e ouvi do palestrante do escritório do Areão, o saudoso Sinésio Valeriano Alves, a palavra “exaustão das minas”, sinto não tenha dormido um sono cem por cento reparador, seguidamente profundo. Ressalva para o período em que construímos uma família feliz. Como somos escravos da natureza, o sofrimento fez meio de campo, diria, com a alegria de viver.

“Agora vocês medem”, me atribuem tal frase na família, por brincadeira. A produção minerária da Vale vem despencando e já perdeu totalmente os freios (vejam quadro de produção nesta matéria). O governo itabirano faz o jogo do desespero, demite, sacrifica, cria medidas incompreensíveis como aumentar os vencimentos de protegidos e reduzir os dos que desamam, ou odeiam. Até aí, está explicada com justiça a revolta dos atingidos pelo golpe, mas tenho motivos inacreditáveis ainda não analisados pelos revolucionários.

Sem querer, ou querendo mesmo, o governo itabirano só não focalizou ainda o grupo dos chamados “puxa-sacos” definitivos e os de plantão porque, afinal, eles evitam a derrocada do super marketing que sustenta a desgraça itabirana. Aí se explica que, embora estejamos no terceiro milênio, Itabira vive a plena “época em que os bichos falavam”. O nosso problema é existir, meus amigos, e não comer 20 marmitex por mês. Aposentados, pensionistas, funcionários, protegidos e até os que mamam diretamente nas tetas municipais comerão o pão que o diabo amassou dentro de muito pouco tempo. Isso é mostrado pelos gráficos da própria mineradora. O governo sabe que a governança é egoísta e para seus interesses próprios, como foi visto na reeleição.

Então, gente que briga por vale-alimentação e a favor de aumento salarial tal como dos amantes do poder, se bem que merecem, não acham melhor juntarem-se a esta proposta: vamos parar de chupar picolé e apenas lutar com coragem  para que Itabira não seja a cidade que do “já teve”, do acabou, do  se foi, a terra fantasma dos tempos modernos.

Vejam quem quer se manter informado: a queda desenfreada da produção de minério de ferro em Itabira, fator que já começou a transformar a arrecadação municipal em zero vezes zero

José Sana

Em 28/07/2025

Fotos: O Trem Itabirano, FCS e redes sociais

NS
José Sana, jornalista, historiador, graduado em Letras, nasceu em São Sebastião do Rio Preto, reside em Itabira desde 1966.

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