Diria que um deputado para Itabira chega em boa hora: quando a cidade se sente cada vez mais ameaçada pelas incertezas do hoje e do amanhã.
Bernardo Mucida, que era o primeiro suplente na Assembleia Legislativa, votado em 2018 pelo PSB, tornou-se mais um fio de esperança na luta pela sobrevivência (Itabira está cercada por 15 barragens de rejeito de minério de ferro) e pela ameaça do chamado “bolsão de pobreza” com o anúncio de sua saída definitiva do Sistema Sul, em 2028.
O fantasma do empobrecimento que foi inventado pela própria empresa Vale, depois de sua criação em 1942, por Israel Pinheiro, o primeiro superintendente e presidente.
Privatizada em 1997, a empresa extinguiu aquele que evitaria os dramas previstos pós-mineração, o chamado Fundo de Desenvolvimento da Zona do Rio Doce, que destinava 8% do lucro da empresa para socorrer os municípios de sua área de influência. Ele não teve substituto.
Agora é confiar ou confiar e nunca deixar de confiar em um deputado para que se junte às autoridades itabiranas (prefeito, vice-prefeito e vereadores) e à sociedade civil
para resolver a inquietante dúvida do futuro.
Notícia Seca ouviu o deputado estadual Bernardo Mucida neste dia 12, exatamente na data de lançamento deste site. Vamos ao diálogo:
Notícia Seca — O novo deputado aí está. Já se adaptou às novas funções?
Bernardo Mucida — Tenho pouco mais de um mês de mandato, mas acumulo uma década de vida pública. Como professor, advogado, cientista político e vereador em Itabira fui aprendendo na melhor escola que é a própria vida. As tarefas para as quais fui eleito são novas. A Assembleia Legislativa é um novo espaço para se conhecer e as exigências desses tempos virtuais, onde a vida flui online, são desafios ainda maiores.
Mas o fundamental é não abrir mão dos princípios como a ética, a transparência e a atuação parlamentar sempre pautada pela minha consciência e pelo dever de honrar a todos que represento.
NS — Eleito por vários municípios, o senhor já mantém contato com todos os que o elegeram como majoritário?
BM — Meu compromisso é de não separar a atuação parlamentar na Assembleia Legislativa do contato cotidiano com a população que me elegeu. Para que isso aconteça no dia a dia, estou formando uma espécie de gabinete itinerante e interativo para dialogar presencialmente e virtualmente com todos os que queiram contribuir para o mandato e para a melhoria de vida de nossas comunidades. Nesses poucos dias de mandato já conquistei uma vitória importante para nossos municípios. Fui eleito vice-presidente da Comissão de Minas e Energia e serei titular da Comissão de Desenvolvimento Econômico. São duas comissões estratégicas para nós discutirmos o presente e o futuro de nossas cidades mineradoras. Além disso, e não menos importante, também integrarei o colegiado da Comissão de Participação Popular. Nessas comissões, vamos debater e propor projetos fundamentais para a nossa região e que são foco do meu mandato como Deputado Estadual.
“Penso que a eleição do Marco Antônio,
quase simultânea com minha posse na
Assembleia, é o melhor para nossa cidade e
região. Tenho diálogo constante com ele”
NS — O prefeito Marco Antônio anunciou que fará um governo de cidade-polo. O senhor está por dentro desta questão? Já a discutiram?
BM — Em primeiro lugar, é preciso registrar que Itabira tem um prefeito e um deputado estadual em total sintonia. Penso que a eleição do Marco Antônio, quase simultânea com minha posse na Assembleia, é o melhor para nossa cidade e região. Tenho diálogo constante com ele. Comungamos dos mesmos princípios e das mesmas preocupações.
Temos que pensar hoje, a Itabira de amanhã. E promover o desenvolvimento de Itabira e o futuro dela como cidade sustentável só faz sentido pensando a região como um todo. Por isso tenho amizade e ótimo diálogo com vários prefeitos da região, como o Nozinho, de São Gonçalo, o Décio, de Barão, Saulo, de Catas Altas, e estou ampliando espaços em meu mandato para debatermos, propormos e discutirmos coletivamente o futuro de nossas cidades.
“Vou lutar pela diversificação econômica de Itabira e
região. Isso significa buscar investimentos para a
cidade criar oportunidades para a qualificação
profissional de nossos jovens”
NS — Itabira é a sua principal cidade, o seu berço político. O senhor tem muitos e bons projetos para a cidade?
BM — Itabira me conhece e me deu uma votação muito grande nas duas últimas eleições que disputei (para prefeito em 2016 e para deputado estadual em 2018).
Honrarei a cada um desses votos, exercendo um mandato que ajude nossa cidade em todos os setores, sem prejuízo da abrangência do mandato que também exige minha atenção para as cidades vizinhas. Vou lutar pela diversificação econômica de Itabira e região. Isso significa buscar investimentos para a cidade criar oportunidades para a qualificação profissional de nossos jovens. A diversificação passa por ser referência na área da saúde, tecnologia e inovação, ser polo de educação universitária, ter um turismo pujante em transversalidade com a cultura. Itabira tem potencial para tudo isso e no que depender de minha atuação e articulação, trabalharei incansavelmente.
O turismo, por exemplo, é uma área que no pós-pandemia vai gerar emprego e renda numa escala muito grande e precisamos preparar nossa cidade para as novas exigências que o próprio desenvolvimento exige.
“O itabirano vive hoje sob dois pesadelos. Dorme
cercado por barragens e com a incerteza do que será
de seu emprego e de sua renda quando
a Vale fechar as portas”
NS — Como o senhor vê a possibilidade de a Vale fechar as portas no Sistema Sul a partir de 2028? Pensa que há a possibilidade de reverter esta anunciada decisão?
BM — O itabirano vive hoje sob dois pesadelos. Dorme cercado por barragens e com a incerteza do que será de seu emprego e de sua renda quando a Vale fechar as portas. E isso não se trata de uma questão de ‘se’, e sim de ‘quando’. Minério não dá duas safras e, mais cedo ou mais tarde, ele acaba e fica apenas um legado de destruição e de saudade dos tempos de fartura. Precisamos discutir com urgência com a Vale, qual Itabira ela vai e quer deixar no pós-mineração? Um exemplo de sucesso mundial que inspire tantas outras cidades mineradoras e faça a imagem da empresa se valorizar ainda mais ou uma cidade em crise, sem perspectivas de futuro. Queremos a Vale como parceira na construção de uma Itabira que seja exemplo para o mundo de cidade mineradora sustentável.
NS — O senhor pretende abrir (ou já abriu?) um escritório em Itabira?
BM — O agravamento da pandemia tem atrasado algumas ações. A prioridade, neste momento, é salvar vidas. Mas o escritório de Itabira estará inaugurado e em pleno funcionamento nos próximos dias. E eu pretendo que o mesmo não se restrinja a ser um espaço para recebimento de demandas clientelistas. Quero que o mesmo seja uma extensão do meu Gabinete na Assembleia, seja um espaço de participação e discussão política constante. Eu mesmo, além da minha assessoria, estarei frequentemente participando ativa e cotidianamente da vida da cidade.
NS — No caso da pandemia. Com certeza, ela está dificultando em muito seus
contatos. O que tem feito para tornar mais acessível o seu contato com as suas
bases?
BM — Na medida do possível, e cumprindo todos os protocolos de segurança sanitária, tenho visitado várias cidades, algumas já fui por duas ou três vezes nesse espaço de tempo.
“O itabirano vive hoje sob dois pesadelos. Dorme
cercado por barragens e com a incerteza do que será
de seu emprego e de sua renda quando
a Vale fechar as portas”
Gosto muito da política olho no olho, direta, ouvir as pessoas, sentir a pulsação das ruas são as melhores ferramentas para se fazer a boa política. Mantenho contato direto e presença constante nas redes sociais, no meu Whatsapp, não só para informar como para ampliar os canais de diálogo com os eleitores. E assim que a situação permitir pretendo iniciar uma série de debates e seminários em cada município para planejarmos e executarmos um Plano de Ação para nossas cidades sustentáveis no pós-mineração.
NS — O senhor tem um projeto de abrangência regional? Acredita que poderá
executá-lo?
BM — Se eu não acreditasse não valeria a pena estar na política. Os recursos
mesmo a nível federal e estadual – são escassos e é cada vez mais premente a
competência na formulação de projetos e a articulação política para viabilizá-los. Quero estabelecer uma parceria constante com as prefeituras, câmaras municipais e entidades representativas da sociedade civil para tornar isto possível. Cada uma de nossas cidades, isoladamente, pode até obter pequenas conquistas. Se pensarmos os projetos a nível regional todos ganharão muito mais. Estou à disposição para essa tarefa.
Neste momento irei me debruçar sobre o
Projeto de Lei encaminhado pelo Governo
Estadual à Assembleia, solicitando autorização
para o uso de cerca de 11 bilhões do acordo
empreendido com a Vale pelo trágico acidente
de Brumadinho. Temos condições de emendá-lo
e fazer com que parte desses recursos sejam
usados em nossa região”
NS — Pode citar alguma sua iniciativa que está em andamento?
BM— Neste momento irei me debruçar sobre o Projeto de Lei encaminhado pelo Governo Estadual à Assembleia solicitando autorização para o uso de cerca de 11 bilhões do acordo empreendido com a Vale como pagamento por danos coletivos em virtude do trágico acidente de Brumadinho. Temos condições de emendá-lo e fazer com que parte desses recursos sejam usados em nossa região. Precisamos sempre lembrar que essa região é o berço da Vale e da mineração do ferro no Brasil, que contribuiu muito com nosso Estado e nosso País, e por isso, merece ter parte dos recursos do acordo investidos aqui.
NS — Novos projetos para o futuro…
BM — Meu primeiro projeto é, humildemente, exercer este mandato com a consciência tranquila de estar cumprindo bem um dever a mim confiado. A partir daí quero deixar um legado, uma marca, que é abrir a discussão e começar a construir cidades sustentáveis. Como desafio ainda maior, ouso dizer que quero participar de um novo acordo com a Vale. Não pelos danos coletivos passados, como no caso de Brumadinho.
Mas um acordo diante do futuro. As mineradoras precisam, desde já, investir no futuro e dotar nossas cidades de novos paradigmas e de infraestrutura para o seu desenvolvimento sem o minério. Acredito que um deputado deve ir além do papel constitucional de representante popular para o qual foi eleito. Deve ser a voz e a consciência de uma sociedade que clama por participação nas decisões governamentais.
Resumindo, um mandato é feito de sonhos, planejamentos e de realizações. Tudo junto e misturado. Para começar ontem.
NS — Muito obrigado. Sucesso!
Brander Gomes/José Sana
Fotos: ALEMG
12/03/2021
Um idealista pé no chão este Bernardo Mucida! Tão jovem este visionário que gosta de Itabira.
Ao deputado Bernardo Mucida.