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Estou de volta depois de alguns dias cuidando do bem-estar da família. Para trazer essa mensagem de hoje, contei mais uma vez com as páginas do diário de minha amiga Nessa narrativa ela ainda muito jovem, questiona a si mesma se tudo poderia ter sido diferente. Poderia sim, amiga. Desde que tenhamos maturidade suficiente para entendermos que somos nós os protagonistas de nossa história. Somos nós os autores e escultores de nossas vidas, por nossas escolhas de acordo com o livre arbítrio que nos foi dado por Deus, podemos mudar o curso. Espero que essa sua experiência que hoje transcrevo aqui sirva de reflexão para muitos e que possa dispersar pensamentos e ações positivas em todas as direções, como as flores da cerejeira sopradas pelo vento.

“Tudo aconteceu tão de repente… O tempo passou deixando para trás a infância vivida no lugarejo perdido no interior de Minas. Não sei como ela teve coragem de levar-me para uma cidade grande, quando terminei a 4ª série escolar e com apenas 11 anos de idade… Mamãe decidiu que eu iria concluir os estudos numa cidade mais desenvolvida, onde morava minha avó e tias. E se eu tivesse batido o pé e não aceitasse ir… Eu estava um pouco apavorada ao pensar em tudo isso, mas o medo do desconhecido foi sufocado pelos preparativos para minha partida e se transformou em ansiedade, emoção e às vezes até alegria… Sair de casa para estudar, passou a ser o máximo para uma adolescente do interior.

Quando o dia da partida finalmente chegou, levantamo-nos bem cedo para embarcar na única jardineira que trafegava por ali. A noite que antecedeu aquela viagem se transformou num flagelo, não só para mim. A cada revirada na cama, minha mãe esbravejava embora sussurrando, para que eu me aquietasse. Eu saia de mansinho no escuro tentando imaginar que pisava em plumas, tateando nas paredes do quarto e do corredor rumo ao banheiro. Mal deitava e novamente a barriga torcia e lá ia eu no mesmo ritual, sob os ouvidos atentos de minha mãe. De repente tropecei em algo e me choquei contra a parede antes mesmo de saber o que estava acontecendo. Voltei dessa vez correndo para o quarto e com toda a força pulei em cima da cama de minha mãe que começava a adormecer. Apesar do susto, respirei aliviada ao sentir que embora assustada ela compreendeu que aquela não era uma noite qualquer. Com toda a paciência e numa atitude de ternura acompanhou-me até o banheiro. Aconcheguei-me em seu abraço e adormeci a partir dali.

Durante a viagem fui pensando- “E se eu tivesse coragem para desistir?”, como eu diria à minha mãe? Pensei por várias vezes, tentei abrir a boca, mas não tive coragem. Lembro-me como se fosse hoje: Desembarcamos cedo na cidade que ficava na metade do caminho. E logo depois tomamos outro ônibus que nos deixou no trevo de acesso à cidade de nosso destino. Ali esperamos por outra condução.

Chovia quando chegamos e aquela chuva era o prenúncio das lágrimas que a partir daquele momento passariam a fazer parte da minha vida. Mamãe ficou de um dia para o outro e voltou. As providências para a matrícula no Colégio ficaram a cargo de uma tia. Quando vi mamãe voltando para casa, não sabia que doeria tanto aquela separação e, que nunca mais eu voltaria à minha terra para viver com quem verdadeiramente me amou”.

 

Maria Flor de Maio
Maria Flor de Maio Ferreira Muzzi reside em Caeté-MG. Aposentada como servidor público da Administração Direta do Estado no cargo de Gestor Fazendário. Trabalhou também como professora de Ensino Fundamental em Escolas Estaduais de Caeté. Casada, mãe de três filhos e seis netos; além de escritora, é poetisa.

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