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A prefeitura de Cabritolândia quer implantar uma nova lei. Isto parece preparação de aborto certo. Uma lei que não será sequer concebida no útero de mandachuva algum.

Imagine que o essencial seja carne. E proteínas são mesmo indispensáveis? Revogaram a lei? Muitos estão restringidos de ter carne em casa, até porque não têm ganhos suficientes para investir em açougues. Compram um franguinho daqui e um ovo dali, uma muxiba para embromar o estômago.

Essencial para muitos são carne, verduras, legumes, frutas — produtos proibitivos para algumas classes que sobrevivem por teimosia a duras penas. Outros já vivem não dos essenciais, mas dos possíveis. A cabritada mantém-se firme e bem porque sabe assaltar hortas. Pula a cerca e dane-se o dono. Espertinha que nem pulga.

Arroz, feijão, macarrão são essenciais? Em parte,  sim, e em outra parte apenas para “encher o pangu”, como falam na roça. A maioria da população vive desses três ingredientes que, para os de classes A e B são apenas um complemento, e para o resto enganadores em cozinhas de panelas e armários.

Taioba, capim, couve, almeirão, jiló, mandioca, batata, repolho, alface, tomate, quiabo, chuchu, abóbora são produtos  essenciais? Muita gente adora e recomenda. Mas há quem detesta. Repugna. Cabrito, por exemplo, adora um jiló cru ou cozido. E com angu. Por falar em angu, para uns bodes ricos sobram amores por fubá e canjiquinha, que para eles  são produtos de luxo. Será que serão proibidos de comprar as merrecas originárias das roças de milho?

Então, tá! Já que tem gente sobrando para trabalhar nas teorias em frente aos computadores — faltam somente fiscais da prefeitura para vigiar cabritos nas ruas — tentem uns desocupados quaisquer separar essenciais de não-essenciais. Encham a barriga do povo de “macarroz com arrão”, como dizia meu avô. O cara come até se entupir e continua com as pernas tremulando como vara de bambu. Vai nessa que a Covid adora gente de perna moleca!

Não se sabe porque tal questão foi levantada em Cabritolândia.  Alguém que tem minhoca na cabeça? Há poucos dias apresentaram aquela estapafúrdia questão do CPF. Foi uma cutucada na Justiça para cair de maduro como um jenipapo.

Não se iludam não. A ideia de vender somente “macarroz com arrão” não vai pro “fugaz a gão”, mas sim para alcançar  o mesmo destino dos CPF negados: dar trabalho desnecessário à Justiça e atrapalhar a vida de quem quer ter autodefesa no organismo. Aglomerações aumentarão. Os cabritos vão lá saber o que pode e o que não pode. E não aceitarão o que não pode o senhor Bode. E berram para fazer mais confusão.

Uma comida fraca pode ser o pior caminho a percorrer. A Cabra Macha fará a sua compra com a lista própria, feita de acordo com o seu poderio econômico e a sua necessidade nutricional, ou é a prefeitura que vai relacionar a sua preferência? E quem vai comprar capim pra ela? Ela paga até com cartão, não se iluda não.

Um cabrito vira-folha  resolveu desobedecer a ordem e começou a vender por conta própria, recebendo as listas dos jilós e das mandiocas não essenciais pra turma racional.

“Navegar é preciso. Viver não é preciso” (Fernando Pessoa. Até a cabritada sabe disso.

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