Em comemoração ao Dia Mundial da Água, Notícia Seca ouviu uma série de envolvidos no “Projeto Mãe D’Água” os quais abordaram também a questão do rebaixamento do lençol freático, cujas consequências levam a cidade a uma crise sem precedentes, segundo eles.
Desta vez, NS falou com João Izael, que participou da última campanha eleitoral e foi testemunha de uma série de propostas e que contribuiu, ele, para uma vitória esmagadora da oposição ao candidato que tentava a reeleição.
Leiam:
UM POUCO DE TUDO
Notícia Seca — Fale alguma coisa sobre o que o senhor considera ser as suas melhores realizações como prefeito durante oito anos em Itabira, como preâmbulo para chegarmos ao tema principal desta nossa conversa…
João Izael — Olha, quem deve lembrar de nossas realizações, ou das realizações de todos os políticos são os eleitores. Mas sei e reconheço que todos não têm este dever, muitos nem sabem e acho que nem precisam saber. Deixo por sua conta a lembrança de algum feito que sei ter acompanhado como repórter e editor de revista.
NS — Mas o senhor pode falar do que foi feito em seu governo resumidamente?
João Izael — A Unifei, que vocês acompanharam de perto, obras de um grupo de pessoas como Renato Aquino, vice-presidente José Alencar, deputado José Santana de Vasconcelos, engenheiro Kléber Guerra, este representando a Vale; a Escola Nota 10 no Bairro Santa Marta/Santa Ruth; o asfaltamento para os distritos; o acompanhamento da gestão para asfaltamento Itabira a Nova Era, obra do governo do Estado, mas da qual também participamos com ações como de acesso, com viaduto e outras obras; a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE); ações sociais concretas, que podem ser lembradas e que beneficiaram, principalmente, as classes menos favorecidas; e uma iniciativa voltada para o abastecimento de água de Itabira, o “Projeto Mãe D’Água”. Não estou prestando contas, apenas mencionando iniciativas que, modéstia à parte, considero importantes. Tudo com a efetiva participação da Câmara de Vereadores, não citando nomes para não cometer injustiças, e de equipes da Prefeitura.
“MÃE D’ÁGUA” COMO UM TODO
NS — Agora vamos falar do “Projeto Mãe D’Água”. Como se desenrolaram as discussões para se chegar a ele?
João Izael — Como os demais projetos, foi uma iniciativa que tomamos em equipe com o pessoal do Meio Ambiente e, principalmente, do Saae (Serviço Autônomo de Água e Esgoto). Na verdade, tudo começou com o conhecimento de um edital lançado pelo Ministério do Meio Ambiente, algo assim voltado para a revitalização de bacias hidrográficas. Reunimo-nos com Ilacir (Ferreira da Silva), que era diretor do Saae, engenheiro Dartson (Piedade Fonseca) e o técnico Gilmar Bretas (Martins Cruz) e daí partimos de um conjunto de medidas a que denominamos “Mãe D’Água”. E, graças a esta equipe, conseguimos motivar centenas de pessoas para chegarmos não somente a um prêmio até certo ponto simbólico, de R$ 500 mil, mas principalmente, um protótipo de solução para todos os municípios brasileiros, ou do mundo, principalmente para Itabira, que já sofria, na época, 2006, de falta de água.
NS — Lembra-se dos prêmios alcançados?
João Izael — Foram muitos, incontáveis, mas o mais importante foi o primeiro, a abertura e que passamos a ter uma espécie de modelo para todo o município. Era, realmente, nossa intenção estendê-lo a toda a zona rural.
NS — O senhor quer dizer que o mais importante prêmio foi oferecer uma solução para o aumento do volume de água em todas as nascentes e em todos os ribeirões de Itabira e outras cidades?
João Izael — Isto mesmo. É o que sempre chamei de trabalhar não visando a próxima eleição, mas a próxima geração ou para a posteridade. Sei que muita gente não enxerga isso, mas insisto que o político precisa agir assim, o exemplo aí está e pode ser aproveitado não somente pelo nosso atual prefeito, mas todos os demais que vierem.
PLANEJAMENTO PARA O EMPREENDIMENTO CRESCER
NS — Foi até atração turística, não?
João Izael — De certa forma muita gente veio a Itabira conhecer o andamento do trabalho desenvolvido pelo Saae e, principalmente, o viveiro de plantas que instalamos no Posto Agropecuário. Já são cerca de 15 anos, mas me lembro que muitas escolas aqui vieram para conhecer a inovação.
NS — As estações de tratamento de água eram Gatos, Três Fontes, Pureza e já existiam poços artesianos construídos pela Vale. Não deu tempo de desenvolver o projeto voltado para as outras estações?
João Izael — Isto. Trabalhamos até o final do mandato este projeto, deixamos para o sucessor. Daí para cá foi deixado, até porque pensavam, talvez, que não compensasse, não rendesse votos, além de ser uma obra totalmente rural, voltada efetivamente para o meio ambiente. Nem todo mundo aprecia ver a natureza equilibrada.
NS — O senhor acha que o atual prefeito pode reinstalá-lo?
João Izael — Não resta dúvidas. Os resultados não vêm assim a curto prazo, mas chegam, sim. A adoção de regras favoráveis à natureza, que são a proteção do meio ambiente, a preservação da água e o interesse em repor o bem que ela nos traz, tudo isso justifica o empreendimento em volta das nascentes, córregos, riachos, ribeirões.
NS — Acredita que a Prefeitura venha buscar parceiros para uma iniciativa maior de mudar toda a visão da região com a preservação da natureza?
João Izael — É claro que sim. Depois que o projeto foi implantado, o tempo em uso, deu para entender que era uma solução para todo mundo. Agora, por exemplo, poderia o prefeito chamar a Vale e resolver com ela a reposição do que ela levou, o rebaixamento do lençol freático de Itabira. Todo o município poderia ser beneficiado pela preservação de nascentes e matas ciliares. A simplicidade de se criar mudas e plantá-las nas margens dos ribeirões, este o segredo atrativo do “Mãe D’Água”.
NS — Rapidamente sobre a questão da água: acredita que a solução possa vir de outra fonte que não seja o Rio Tanque, distante 21 quilômetros da cidade, com montanhas no trecho, demandando alto custo de energia para captação e “transporte” como está previsto?
João Izael — Com todas as dificuldades, não consigo ainda me convencer de outra iniciativa que não seja esta, em primeiro lugar por causa da quantidade que de lá se pode trazer. Mas é um fator a ser discutido, embora o tempo seja curto e o desenvolvimento exija pressa em nossas atitudes. Tempo curto, exigência máxima, decisão rápida, 2028 vem aí.
NS — Mais alguma ideia?
João Izael — Na verdade, o atual governo municipal está a par de nossos problemas, esses foram discutidos durante a campanha e basta agora recolocá-los na mesa. Mas é preciso dar um tempo aos Marco Antônio, um tempo maior, eles pegaram peso mesmo diante de uma pandemia sem precedentes que enfrentamos. O governo municipal está totalmente voltado para a questão da saúde e precisamos nos juntar a eles para resolver todos os problemas.
NS — Obrigado.
Fotos: Arquivo NS
25/03/2021