Um assunto toma conta dos grupos de WhatsApp de Itabira durante a semana. Dois jovens, possivelmente sob efeito de drogas, sobem a Avenida das Rosas quebrando carros e danificando residências. Os integrantes são uníssonos ao perguntar: “Onde está a polícia que não faz nada?” Não! Definitivamente não é caso de polícia. Itabira carece de um intenso trabalho preventivo sobre drogas em todas as esferas do município, como também de atenção e cuidados. A polícia cabe combater o tráfico. Aos órgãos competentes disponibilizar a prevenção e tratamento.
Pode parecer impossível de se fazer, mas não é. São Paulo nos mostra que é possível quando existe vontade dos órgãos responsáveis. Um grande desafio sempre foi o de acabar com a maior Cracolândia do país, um problema crônico de saúde e segurança pública que prejudica há anos a utilização do espaço público, bem como a oferta de bens e serviços nas regiões onde o tráfico de drogas e o consumo dominam.
Neste ano foi criado, pelo governo do estado, o “HUB Cuidados em Crack e outras Drogas”, unidade que conta com o acolhimento assistido com avaliação dos riscos médicos e clínicos; diversos leitos de observação hospitalar 24 h para acolhimento do dependente que solicitar apoio e ajuda; centro de monitoramento dos processos de tratamento, recuperação e reinserção, entre outros diversos atendimentos. Ao todo, 200 profissionais de saúde com experiência em dependência química trabalham na unidade, cuidando e encaminhando para internação centenas de doentes. Todo o trabalho desenvolvido tem sido de excelência para quem sofre do Transtorno de Uso por Substâncias (TUS), com indicadores que comprovam que é possível cuidar e recuperar.
São muitas as ações que procuram tratar de um problema grave e complexo, como a Síndrome da Dependência. Alunos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolveram uma vacina capaz de impedir os efeitos da cocaína no Sistema Nervoso Central (SNC), que já se encontra em adiantada fase de estudos.
Enquanto isso, em Itabira, que conta com uma população estimada, segundo o IBGE 2021, em 121.717 habitantes, não encontramos nenhum serviço efetivo de prevenção, cuidado e tratamento, capaz de atender e recuperar os milhares de dependentes do município. Não é somente atender por atender. Há que se fazer o mais importante diagnóstico. Quantos profissionais são capacitados em dependência química para o atendimento? Quantas pessoas estão em recuperação? Quantas vieram a óbito? Quantas foram assassinadas pelo uso e tráfico? Quantas estão presas?
Os familiares, sem opção, estão buscando em outros municípios o cuidado e tratamento necessário para uma doença crônica, progressiva, incurável e potencialmente fatal, reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Órgãos competentes e alguns profissionais da saúde fecham os olhos para a realidade drástica da cidade, enquanto Grupos de Apoio e Ajuda Mútua, como o AA e Amor Exigente, sem nenhum apoio, procuram minimizar os impactos na família e dependentes, desenvolvendo um trabalho voluntário que deveria ser de todos.
Estamos chegando em um novo período eleitoral. Com certeza, promessas para solucionar o problema serão apresentadas e discutidas. Fica a pergunta: Será realizado? Ou será apenas mais uma maneira de envolver o eleitor que enfrenta de perto esse drama em sua família?
SÔNIA RODRIGUES