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Marco Antônio Gomes (MAG) é um gentleman que não pisa em mosquito nem arreda barata seca com a ponta do sapato debaixo da mesa. Médico respeitado, filhos seguindo seu caminho, pastor evangélico de renome nos bairros itabiranos e na região. Pai de família exemplar, marido amante da dignidade, religiosidade incontestável, verdadeiro filho do Altíssimo.

Conheço-o desde os idos de 1970, por motivos profissionais dele. Seus diagnósticos, acertados e bem  resolvidos, curaram milhares de pacientes e impacientes, acredito.  Caso chegue  aos cem anos, ou mais, sem alguma aventura arriscada, poderá ser  foco de uma  biografia sem sequer um ponto de interrogação no item virtudes.

Mas o Demônio, muito citado por ele, inclusive para atacar a Esquerda, demoveu-o  a entrar na arena de leões famintos. “Mea culpa”, até eu entrei do lado de Belzebu, inconscientemente, e ajudei-o a mergulhar-se na jaula inimiga. Nada de maldade, deixei-me ser levado pela ilusão, esquecendo-me que a política não foi inventada para amadores. Ele embriagou-se como se fosse um viciado em alcoolismo, não teve tanta culpa.

Filho do Altíssimo, que naquela hora não ficou à parte, só foi consultado  depois que a procissão passou, caiu de maduro como um mamão verde. Aceitar trapaças, praticar crimes, entrar nas mentiras do marketing desonesto — MAG nada disso fez. Nem se fez de idiota, tornou-se  imbecil por simples inocência. Deixou a fraqueza vencer a resistência.

Então, deu um tiro no pé direito, logo do lado que mais declarava estima. Havia batido forte, sob orientação dos amigos Portela, que não aceitava  a LGBTQIA. Mas um branco passou em sua página de distração e acabou aceitando as questões que arguia. A cada proximidade do pleito deste ano mais era vista abraçado ao que chamava “gente do lado de lá”, nada mais que dormir com o inimigo.

Membros de sua igreja cobravam uma posição clara, mas já não tinha mais forças para recuar, mesmo se fizesse como Jesus e passasse 40 dias jejuando no deserto. Ele permaneceu até mais, bateu seu Altíssimo de goleada, cumpriu 1.001 noites resistindo, ou seja esqueceu o Ser do Alto e empatou com bombril, só para mostrar firme sua resistência.

O povo pedia atenção à saúde, abandonada; Itabira vive sob a secura da falta de água, que impede até investimentos; a única até agora mais forte fonte de receitas, a Unifei tornou-se cisma do governo marqueteiro; esqueceu as famílias dos dependentes de uma penitenciária local, do mesmo jeito a segurança pública.

Aprovou o que detestou: festinhas, inaugurações de meios-fios, pintura de escolas, varrição de ruas, e vêm aí meia dúzia de pracinhas. E nem se sabe que a arrecadação futura terá quem sustente sequer o funcionalismo, aposentados e pensionistas.

Pelo contrário, veio o segundo tiro agora no pé esquerdo mesmo: ao invés de ser anunciado pelo titular, praticou o inverso da moeda: “A chapa oficial será a mesma”, ou seja, o vice, que vagueou-se pelo lado de fora, não muda e promete abraçar de novo seus aguardados belzebus. Itabira corre o risco de ser uma cidade fantasma, como disse o sindicalista mais forte da região.

“A relação entre o amor e o ódio pode ser explicada pela ambivalência emocional, uma situação muito comum em que o indivíduo tem sentimentos conflitantes em relação a outra pessoa.” A frase é de psicólogos que quer dizer: só Freud explica a carreira política de Marco Antônio Gomes, bom moço, bom cidadão e analfabeto político.

 

José Sana

Em 16/03/2024

NS
José Sana, jornalista, historiador, graduado em Letras, nasceu em São Sebastião do Rio Preto, reside em Itabira desde 1966.

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