Até 2030, Cedro Mineração projeta ter 100% da produção em pellet feed de redução direta (Cedro/Divulgação)
EXAME Solutions
Publicado em 3 de outubro de 2024 às 12h00.
Última atualização em 3 de outubro de 2024 às 14h42.
Alinhado à demanda crescente da indústria siderúrgica por soluções mais sustentáveis, o Brasil, segundo maior produtor de minério de ferro do mundo, vem se destacando no mercado internacional por um produto diferenciado: o pellet feed de redução direta (PFRD), conhecido como minério verde.
O que é o pellet feed?
Mais fino, mais rico e com baixos níveis de impurezas, essa matéria-prima é destinada à produção de pelotas de minério de ferro que, quando utilizadas em processos de redução direta na siderurgia, diminuem até 50% as emissões de carbono.
Considerando que este é o setor industrial com maior lançamento global de CO2 na atmosfera, trata-se de um impacto extremamente relevante.
Crescente demanda global
Pela qualidade excepcional e uma alternativa promissora para a descarbonização, existe hoje uma alta demanda mundial pelo pellet feed de redução direta. Oriente Médio e Europa, por exemplo, já estão dando total prioridade para o minério verde. Porém, são poucos os produtores – o Brasil é um deles, e com a produção em expansão.
Em Minas Gerais, a Cedro Mineração, especializada em extração, beneficiamento e comercialização do minério de ferro, pretende produzir mais de 25 milhões de toneladas/ano de pellet feed até 2030, tornando-se uma referência no setor.
A mineradora, que tem a sustentabilidade como eixo central, quer ter 100% da produção em PFRD até o fim da década.
“A empresa está focada em migrar da produção de sinter feed (outro produto do minério de ferro) para o pellet feed, especialmente para redução direta”, afirma Lucas Kallas, presidente do conselho da Cedro Participações. “Há uma demanda crescente por soluções tecnológicas que permitam uma produção de aço mais limpa e eficiente, o que nos direcionou a realizar investimentos expressivos para transformar nossa produção compatível com processos de redução direta”, acrescenta.
Mais puro, mais sustentável, mais rentável
Os fundamentos da estratégia da Cedro são claros e justificam o investimento bilionário. Além da diferenciação no mercado pela sustentabilidade, a produção de pellet feed garante, por exemplo, economia em transporte, uma vez que a concentração de minério é maior do que no sinter feed (67%, contra 60% do SF), além de uma operação mais limpa, com ganhos operacionais.
Mas, principalmente, o PFRD é bom para as vendas. Com um teor de ferro tão elevado e baixos níveis de impurezas, como sílica (1%) e alumina (0,5%), o produto pode ser vendido a preços mais altos que os do minério de ferro tradicional.
“O pellet feed atende às rigorosas exigências da indústria siderúrgica moderna, que valoriza a eficiência energética e a qualidade superior do produto final. Esse nível de pureza é um avanço expressivo em comparação com os produtos tradicionais do mercado”, salienta Kallas.
Consequentemente, a economia nacional também ganha. Nos últimos anos, o Brasil vem perdendo participação e competitividade no mercado mundial de minério de ferro diante do maior produtor, a Austrália.
No atual contexto de transição energética, porém, abre-se uma nova janela de competitividade com o PFRD, sendo possível o país se posicionar para ganhar mercado. Afinal, a produção de pellet feed requer muita energia, e energia limpa, o que temos em abundância.
Ampliar a produção do minério verde é ainda uma forma de agregar valor ao minério de ferro nacional, com impulso à industrialização, geração de empregos, investimentos e impostos no mercado brasileiro.
Setor ainda enfrenta entraves para produção
Vale mencionar que, mesmo com os benefícios para o país e o empenho de companhias como a Cedro Mineração em investir pesado no novo produto, há entraves para que o setor faça os investimentos necessários na expansão sustentável da indústria mineral. A escassez de mecanismos de financiamento e incentivo é o principal.
A produção de pellet feed requer altos investimentos em processos e infraestrutura, que podem ser de três a quatro vezes maiores do que os feitos em uma planta convencional e, no caso da Cedro, precisarão ser feitos em um curto período, de dois a três anos. Isso requer que o governo crie meios que facilitem esses investimentos.
Abrindo caminhos
Uma alternativa seriam as debêntures incentivadas, propostas por Lucas Kallas em eventos recentes, que são oferecidas a outros setores. Também conhecidas como debêntures de infraestrutura, são títulos que permitem às empresas captar recursos no mercado para financiar projetos de infraestrutura, tendo como contrapartida a isenção ou redução de Imposto de Renda sobre os lucros obtidos.
De acordo com dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o setor financeiro direciona apenas 0,9% dos R$ 2,1 trilhões que aporta na iniciativa privada do país.
“Só que a mineração é um dos setores econômicos mais importantes, responde por mais de 30% do saldo da balança comercial, atrai investimentos bilionários para o país e arrecada muitos tributos. Não me parece equilibrada essa relação”, avaliou recentemente Raul Jungmann, diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), em um evento do setor.
Além desta, há ainda outras questões, como a constitucionalização das Taxas de Fiscalização sobre Recursos Minerais (TFRM) sem regulação de alíquotas e a discussão sobre a incidência do Imposto Seletivo na mineração, como proposto na reforma tributária.
Segundo Jungmann, o IS, uma tributação que não existe em nenhum outro lugar do mundo, pode provocar um custo de até 5 bilhões de reais por ano ao setor, o que afetaria fortemente a competitividade internacional do minério de ferro brasileiro.
Reflexos positivos em toda a cadeia
Apesar dos ventos não tão favoráveis, Kallas, um empreendedor conhecido pela sólida visão de futuro, já vem colocando em prática os planos da mineradora.
A companhia está convertendo a planta da cidade de Mariana para a produção de minério de redução direta e expandindo as operações com a construção de uma inovadora planta de beneficiamento a úmido, em que introduzirá etapas adicionais como moagem e flotação.
Sem o uso de barragens, a tecnologia da nova planta é mais um passo importante na direção de uma produção mais sustentável.
“O mercado tradicional muitas vezes depende de processos de beneficiamento a seco, ou utiliza barragens de rejeitos, resultando em maiores impactos ambientais e produtos com menor pureza. A rota de processamento a úmido, sem barragens, representa uma inovação significativa”, pontua o empresário.
A expectativa, com as mudanças, é também impactar positivamente toda a cadeia. Com a integração com fornecedores de equipamentos e tecnologias para beneficiamento a úmido, espera-se fortalecer, por exemplo, o segmento de suprimentos de alta tecnologia dentro do Brasil, reduzindo a dependência de importações de tecnologias específicas e promovendo um ambiente mais robusto na mineração.
Com a produção de pellet feed de alta qualidade, uma matéria-prima com especificações superiores para a produção de aço com menor impacto ambiental, a Cedro Mineração quer se posicionar como parceira estratégica para as siderúrgicas que buscam melhorar a eficiência energética e reduzir as emissões de carbono.
“Essa integração fortalece não apenas a posição competitiva da Cedro no mercado global de minério de ferro, mas também contribui para o desenvolvimento econômico e tecnológico de toda a cadeia produtiva envolvida, criando um ciclo virtuoso de inovação e crescimento sustentável”, finaliza Kallas.