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30/06/2024

Foto: Arquivo pessoal – Aos 44 anos, Cibele Xavier, uma das primeiras mulheres a operar um caminhão fora de estrada na Vale, comemora a indicação na 1ª edição do Prêmio MINA, na categoria “Mulher na Operação”

 

 

Filha de itabirana, nascida curitibana, Cibele Xavier Drummond conta que encontrou na terra do poeta maior seu lugarzinho no mundo. Aos 44 anos, ela comemora um reconhecimento profissional para poucas pessoas. Cibele é finalista da 1ª edição do Prêmio MINA, na categoria “Mulher na Operação”, criado para reconhecer as mulheres que são destaque na mineração.

O prêmio é uma iniciativa do movimento voluntário Women in Mining (WIN) Brasil, que busca maior diversidade, equidade e inclusão em um mercado predominantemente masculino. E foi nesse ambiente que Cibele trilhou um caminho profissional repleto de desafios, superação, esforço e pioneirismo.

Coordenadora de operação de mina, Cibele é casada, mãe de dois filhos e dois pets. Sua história na mineração começou cedo, aos 22 anos, na mineradora Vale. “Meu pai trabalhava na empresa e, quando eu tinha 9 anos, em uma visita, tive a chance de conhecer de perto um caminhão fora de estrada. Foi amor à primeira vista. Falei para o meu pai: ‘eu vou dirigir um desse!’ E ele, me respondeu: ‘claro que não, isso não é coisa para mulher’. E, em 1989, realmente não era”, relembra.

Mas, como a própria Cibele faz questão de frisar, o universo quis que fosse possível. “Quando a Vale abriu processo seletivo, eu já estava pronta e habilitada com minha carteira D. Fiz a inscrição e, depois de sete meses de concurso, oito exaustivas e difíceis etapas, mais de 3 mil candidatos para 20 vagas, eu ainda tinha uma certeza… aquela era a minha chance”, recorda emocionada.

A realidade da mulher na mineração

Cibele se tornou uma das primeiras mulheres da Vale, no Brasil, a operar equipamentos de mina, fora de estrada. Mas, se ilude quem acha que, com um sonho conquistado, a caminhada dela foi fácil. Ao longo dos 19 anos em que esteve na mineradora itabirana os desafios foram muitos.

“AS MULHERES OPERACIONAIS DAQUELA ÉPOCA PASSARAM POR COISAS DO TIPO: TRABALHO DE REVEZAMENTO DE TURNO COM FILHOS PEQUENOS; POEIRA NA PELE E NO CABELO; AMAMENTAÇÃO E ORDENHA SEM LOCAL ADEQUADO; PÉ INCHADO NA BOTINA POR GRAVIDEZ; UNIFORMES DESCARACTERIZADOS PARA MULHERES OPERACIONAIS; CICLOS MENSTRUAIS TURBULENTOS; RETORNO DE LICENÇA MATERNIDADE SEM POSTO DE TRABALHO”, NARRA.

Havia uma série de outros impasse. A coordenadora de operação de mina cita condições ainda mais extremas, como o fato de os equipamentos não terem adequações para mulheres, além de pouca ou nenhuma disponibilidade de banheiro. “Fazíamos xixi em copinhos ou garrafas. Precisávamos de calços para dar altura em escadas e pedais de equipamentos. As mulheres viviam sob aprovações e julgamentos. As posições nunca ocupadas por mulheres eram um paradigma para o ambiente dominado por homens. Eu era a única representante em reuniões, tive que ser dura e firme, trabalhar mais tempo e intensivamente para não parecer fraca…”, descreve.

Carreira paralela: Cibele cantora

Mas, engana-se quem acha que as adequações para enfrentar os percalços do trabalho na mineração fizeram de Cibele uma mulher forjada a ferro e poeira. Para além de toda a dedicação nas operações de mina, ela desenvolveu outra carreira, completamente oposta, como cantora.

“ESSA É AQUELA PAIXÃO QUE TOCA A ALMA! COMECEI NA MÚSICA AOS 15 ANOS, DANÇANDO EM UMA BANDA DE BAILE DE ITABIRA. FORAM ANOS E ANOS DE PALCOS, ENTRE FESTAS E CARNAVAIS, SENDO MOTIVADA PELA ALEGRIA DAS PESSOAS. ME TORNEI CANTORA, POR UM ACASO, SEM ESTUDO, SEM AULA DE CANTO, NA UNHA MESMO. GRAVAMOS MÚSICA, FIZEMOS FESTIVAIS DE INVERNO, FESTA DO DOZE EM OURO PRETO, FESTAS PARTICULARES, FORMATURAS, SHOWMÍCIOS, CARNAVAIS. POSSO DIZER QUE CONHECI PELO MENOS 150 CIDADES DIFERENTES COM A MÚSICA”, REVELA.

Para ela, a música ajudou na trajetória profissional na mineração. Cibele explica que a arte influenciou diretamente na capacidade de lidar com desafios como, ambiente cheio de estereótipos e preconceitos. “As experiências com público, com as adversidades de bandas com poucos recursos e, principalmente, o desejo de fazer as pessoas felizes, aprendi com a música. Quando estou triste, tem um ritual que utilizo que é estabelecer uma meta de fazer um número x de pessoas sorrirem. Porque o desafio do músico é fazer pessoas felizes! Até hoje, nos intervalos da vida cotidiana, me descomprimo tocando com amigos!”.

Foto: Arquivo pessoal

Uma entre mil

O caminho que Cibele Xavier traçou na mineração não se resume à experiência na Vale. Entre um turno e outro, ela trabalhou como instrutora de formação profissional no SENAI FIEMG e professora do curso técnico de mineração. Depois de 19 anos, escolheu viver novos desafios e integrou, durante dois anos, a gigante de tecnologia, Hexagon. Porém, o amor pela operação de mina falou mais alto e, em 2023, entrou na Anglo American. “Nunca tive pretensão dos cargos que ocupei. A maioria deles foi por processos seletivos, poucas vezes fui escolhida sem passar por baterias de provas. Por isso, sempre deixo nas mãos de Deus. A gente põe o pé, Deus põe o piso!”, conta agradecida.

Foto: Arquivo pessoal – Passagem pela Hexagon

Foto: Arquivo pessoal – Atualmente, na Anglo American

Sobre sua indicação ao Prêmio MINA, ela diz que a primeira reação foi chorar! “Não tenho vergonha de admitir isso, porque em meio a tantas mulheres maravilhosas, mais jovens, que tiveram a oportunidade de estudar e mostrar para que vieram, eu, geração 40+, tive a possibilidade de contar a minha história. Mexeu comigo! Deus sabe como foi abrir as portas, hoje utilizadas por muitas mulheres no cenário de mineração, da parte operacional mesmo, em campo, no meu tempo. Muitas mulheres desistiram, algumas não se movimentaram profissionalmente e outras foram injustamente retiradas do cenário. Uma pena…”, revela, se emocionando novamente.

Cibele não esconde o orgulho em ser indicada, apesar de achar que sua história nunca seria relevante. “Eu só vivi. Nunca imaginei que houvesse algum diferencial por ter passado os perrengues que passei. Vendo esse movimento arrimado pela WIN, fico grata que alguém, em algum momento, entendeu a importância de oportunizar um ambiente mais diverso, com equilíbrio e equidade”.

Foto: Arquivo pessoal

Sobre ser inspiração para outras mulheres, Cibele não se vê ocupando esse posto. “Apesar de ter uma história legal, todas nós temos o nosso desafio e nenhum deles é menos importante. Sou muito honesta nas minhas relações e abordagens. As meninas que trabalham comigo, têm toda liberdade para me acessar. Isso pode ser confundido com inspiração, mas mulheres inspiradoras são as que deixam legado”, enfatiza.

Para dar continuidade na construção de seu próprio legado, Cibele Xavier entende o Prêmio MINA como a possibilidade de representar as outras mulheres.

“HOUVE HOMENS ÓTIMOS E SENSÍVEIS, MAS PRINCIPALMENTE MUITAS MULHERES, COM SORORIDADE, APOIANDO UMAS ÀS OUTRAS PARA SE MANTEREM DE PÉ. SER FINALISTA, ENTRE MAIS DE MIL INDICAÇÕES, JÁ É UMA VITÓRIA! REPRESENTAR AS PESSOAS INCRÍVEIS QUE COMPARTILHARAM MOMENTOS NESTA TRAJETÓRIA É UMA RESPONSABILIDADE ENORME! MAS LÁ, COM A GRAÇA DE DEUS, VOU LEVAR COMIGO O NOME DE TODAS AS MULHERES MARAVILHOSAS DA CONSTRUÇÃO DESSE RECONHECIMENTO!”, CELEBRA.

Como votar

Agora, a conquista desse prêmio está ainda mais perto, já que basta votar em Cibele Xavier, no site do WIN Brasil. Ela é indicada na categoria “Mulher na Operação”. A votação acontece até o dia 12 de julho.

Os vencedores receberão o Troféu MINA, em um dos palcos da EXPOSIBRAM 2024, no Expominas, em Belo Horizonte, no dia 10 de setembro.

NS
José Sana, jornalista, historiador, graduado em Letras, nasceu em São Sebastião do Rio Preto, reside em Itabira desde 1966.

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