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Bom dia, peço licença para tecer umas linhas sobre o saudoso nosso bispo Dom Mário. Primeiro digo que ele foi um meu inimigo feroz. Brigamos no ar de um programa e nos debatemos em outras polêmicas fora de estúdios das rádios Itabira e a antiga Antártida.

Como Deus escreve certo em linhas tortas, chegou a nossa vez de fazer, definitivamente, as pazes, ocorrida da seguinte forma: ele fez 25 anos de episcopado e o estádio Israel Pinheiro abrigou 25 mil católicos para homenageá-lo. Antes, porém, a comissão organizadora precisava registrar o evento em imagens. Recebi uma comitiva de amigos dele e meus, tentando me contratar para filmar a ocorrência.

 

Abro um parágrafo para informar que somente Cácio Duarte Guerra, então presidente da Câmara Municipal, e eu tínhamos equipamentos de filmagens e edição de imagens. Por isso, recebemos a visita da comissão para os propor um contrato. Fecho um parágrafo e abro outro apenas para acrescentar que ambos – Cácio e eu – éramos “inimigos” dele, cada um por um motivo. Esse não é o assunto do momento. Porquanto, fecho o parágrafo.

 

Peguei a câmera digital e duas fitas VHS e parti para o trabalho. A solenidade teve seu início, uma festa jamais vista nas religiões. Tinha eu um notável orientador que é Silvério Bragança, mas havia momentos em que somente eu e o bispo encontrávamos no espaço em que se joga futebol. De minha vez, eu deitava na grama, rolava no chão, fazia verdadeiras acrobacias em meus cinquenta e poucos anos e tivemos momentos de glória, emocionei-me em várias vezes. Ele, por sua vez, deixou com alguém um recado assim transmitido: “Vê-lo naqueles gestos humildes, me acompanhando no estádio, me trouxe uma mensagem de paz e muito amor”. Esee foi o pagamento pelo meu trabalho, ser um mensageiro da paz.

 

Aproveito estas curtas linhas para esclarecer que foi intenso a seguir o relacionamento com ele daí para a frente. Acusam-no de “politiqueiro” e não é verdade. Sua conduta confundia-se com política quando era provocado. Ele dava a resposta que doía no aviltante como uma faca no peito.

 

Por interpretações várias, Dom Mário Teixeira Gurgel, ainda hoje, embora mais amado que detestado, arrancava algum sentimento de ódio no praticante de política. Também Cristo não foi 100% amado, pelo contrário pareceu ter menos virtudes que Barrabás, e isso basta para encerrar nesse tópico.

 

Vou acrescentar apenas: – que ele não usava a democracia para se expressar porque era dono de um cargo superior e discutível; que respeitava todos, como Cristo o fez para não separar as ovelhas; e olhem esta: dizia sempre, no altar, mandando recado para os celebrantes de missas que uma homilia (pregação sequente ao Evangelho) nunca pode durar mais que cinco minutos. As homilias itabiranas duram até horas, ou mais…

 

Para quem não sabe, nunca fui de babar bispo algum, nem padre. Fui, sim, um coroinha que rezava a missa em Latim e traduzia os textos da “língua-mãe”.

 

Encerro assim: tenho saudade de meus professores de Latim, como Aristides, Padre Raul, Dom Mário e Padre Manoel de Melili, Mas, maldita seja a administração de Itabira que não consegue fazer pelo futuro senão um marketing barato de enganação.

Deus, mude isso! Interceda, Dom Mário Teixeira Gurgel!

 

José Sana

29/03/2025

Fotos : NS

NS
José Sana, jornalista, historiador, graduado em Letras, nasceu em São Sebastião do Rio Preto, reside em Itabira desde 1966.

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