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Em plena crise climática, com possibilidade de escassez ou colapso no acesso a água devido a alterações no regime de chuvas, e também de eventos extremos como no Rio Grande do Sul no ano passado, os interesses minerários “estão de olho” e já de mangas arregaçadas para garantir seus empreendimentos no município. Sejam gigantes (Vale a AngloGold) ou não (AVG, Crusader, CNS, MSol/Jaguar, Agrocity, Brava e Scavare), mineradoras só enxergam o município como subsolos de lucro através dos minérios a serem explodidos e transportados para venda, através do tráfego pesado e intenso de centenas de carretas (que já matou caeteenses), a maior parte para exportação em vagões do trem, mesmo que cheguem a ele através de “mini-minas” como a do Lopes em Santa Bárbara que causa transtornos graves em Rancho Novo e na cidade. Até mesmo a bela Serra da Piedade é diariamente triturada, apesar da sua importância e proteções que tem.

 

Se os impactos socioambientais da mineração são tão visíveis, que negacionismo é esse que ainda permeia o imaginário de parte da população? O que faz com que se mantenham reféns dessa atividade econômica? Provavelmente para muitos é o fato de serem vítimas, ao longo dos anos, de gestões públicas e políticas que não cuidam para que o desenvolvimento econômico de Caeté (associado à promoção de geração de renda e empregos) chegue de outras formas. E há sim essas formas, sendo a mais potente delas o turismo. Afinal, Caeté é um dos 22 municípios (num total de 853) indutores do desenvolvimento turístico regional, de acordo com pesquisa do Observatório do Turismo de Minas Gerais. Não fomentar esse potencial vem prejudicando o município e atende precisamente aos interesses minerários que precisam de uma população desesperada por uma saída para a sobrevivência.

A “bola da vez” é o Projeto Apolo da Vale que pretende: 1) Transformar a deslumbrante Serra do Gandarela num imenso buraco (7 km de cava com 422 hectares e mais de 100 metros profundidade) com rebaixamento de lençol freático, precisamente na zona aquífera mais rica de águas subterrâneas de alta qualidade; 2) Interferir com o potencial turístico regional e a conservação da biodiversidade e promover restrições ao lazer nos atrativos naturais na região, como cachoeiras e trilhas de ciclistas; 3) Colocar 2 gigantescas pilhas para armazenar um total de 230 milhões de m3 com altura de 239 m e 294 m (prédios com 68 e 84 andares), uma delas com drenagem no sentido de Morro Vermelho; 4) Sobrecarregar com tráfego intenso e pesado as comunidades de Rancho Novo e Morro Vermelho e com mais trânsito a sede urbana; 5) Inundar de poeira, vibrações e ruídos 24 horas por dia; 6) Ampliar muito os problemas de segurança pública (aumento da criminalidade), os problemas sociais (prostituição adulta e infantil e gravidez precoce), o atendimento nos serviços como saúde (maior incapacidade de atendimento) e o acesso a habitação (aumento dos aluguéis).

É uma questão de escolha, que não pode ser feita somente por empresas e agentes públicos e privados com interesses econômicos imediatistas e que desconsideram a realidade ambiental que vivemos e as futuras gerações de caeteenses. Não é a toa que chegaram a Caeté farmácias, supermercados e outros comércios que já estão prejudicando os comerciantes caeteenses.

Vamos ter Caeté subjugada pela mineração, para atender o lucro de acionistas, como está a vizinha Barão de Cocais e Itabira (inclusive precisando buscar água em município vizinho)? Ou vamos ter Caeté livre para trilhar seu enorme potencial turístico a 50 km de Belo Horizonte (polo de turismo para visitantes que apreciam cultura, gastronomia, artes e eventos), com a Serra da Piedade, o Santuário da Padroeira de Minas Gerais, o Parque Nacional da Serra do Gandarela, importante patrimônio cultural material e imaterial e, ainda, qualidade do ar e clima ameno? Manter a preciosa qualidade ambiental que ainda temos e águas que garantem o futuro ou trilhar o caminho que não tem volta, que é entregar Caeté à voracidade da mineração?

 

Maria Teresa Corujo (Teca) – Ambientalista e  moradora de Caeté

 

NS
José Sana, jornalista, historiador, graduado em Letras, nasceu em São Sebastião do Rio Preto, reside em Itabira desde 1966.

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