Nunca fomos tão conectados e tão distantes, tão informados e vazios.
A dopamina, nos mantém hipnotizados, rolando feeds infinitos como se fossem os rosários da era digital.
As cenas se repetem: pessoas que não conseguem atravessar a rua sem consultar seus celulares, motoristas que teimam em teclar em pleno trânsito,
E, claro, a necessidade patológica de postar, porque se não há registro, não houve vida. Religião, autoajuda, fotos do lanche da tarde, sorrisos e poses em festas. Tudo vira conteúdo, tudo vira pó.
Que isso, moço. Isso é diversão.
Ok. entre uma diversão e outra a gente precisa comer…e pagar as contas.
Os livros? As revistas? Estão empoeirando nas estantes. Quem tem tempo para páginas de papel, quando se pode participar, comentar, comprar, ver vídeos de gato e meme de político?
A produtividade despenca, a cognição regride, mas tudo bem, pelo menos temos audiência.
O mais incrível é que ninguém parece perceber. Ou se notam, dão de ombros. Não há revolta, não há resistência, só uma leve resignação, abafada pela anfetamina digital, a droga mas danosa jamais inventada. E totalmente liberada e acessível.
Talvez ainda dê para salvar alguns de nós. Quem sabe ainda possamos vencer a gravidade desse Nibiru digital? Será que ainda existe salvação? Será que podemos abdicar do conforto e comodidade da vida digital e buscarmos o retorno a cultura analógica, de sensibilização tátil e sensitiva? Será que existe alguém disposto a desligar a matrix? Quem sabe participar de uma roda de viola, ler um livro de papel, sentir o cheiro da tinta, ouvir o mundo sem filtros, tocar coisas que não sejam telas?
Mas vem chegando a IAs pra completar o quadro de abdução completa, com potencial pra configurar um mundo novo. As vezes meio jetsons, as vezes apocalipse da civilização humana, embora espelho da própria.
Aproveitemos o tempo. O que vem ninguém sabe. Os doidos quase sempre ascendem com suas asas coladas com grude. Agradeçamos ao sol que derrete as asas dos falsos anjos. E acordemos antes que nos percamos irremediavelmente e nos tornemos avatares de nós mesmos. Se é que já não somos…