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Vou repetir, então, minhas escusas ao escritor, jornalista, teatrólogo e não sei mais quem ele era e é. Ele bordou e transbordou contos inimagináveis, ficcionistas, mas pelo menos reais. Dá para entender? Acho que sim. Inventava passagens que aconteciam na vida. A diferença é que ele se especializou em amor, paixão, traição, tragédia. Nos seus folhetins teve um pseudônimo de nome Suzana Flag. Mas essa história é outra.

Eleição

— Ou amigo, estou pensando em me candidatar a vereador, que tal?

— Boa ideia, mas você não acha que está muito cedo para falar sobre isso?

— Estou falando só com você, moço.

— Tudo bem, mas estou lhe advertindo porque um dito cujo se lançou com super antecipação e isso, no meu entender, pegou mal. Acho que se lascou.

— Obrigado pela dica…

— Não precisa agradecer, vou lhe mostrar uma verdade que ocorre no sub mundo da política, mas, antes, vou apelar para Drummond num de seus célebres poemas. Depois lhe mostro onde estão os ratos.

Quadrilha

Carlos Drummond de Andrade

João amava Teresa que amava Raimundo

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili

que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes

que não tinha entrado na história

(CDA, Alguma Poesia, 1930)

O poeminha  apresenta uma sequência de personagens interligadas em sentimentos não correspondidos, formando uma espécie de cadeia amorosa. Isto é com Drummond. O que arranco dele é o relacionamento entre pessoas que pensam assim: “Em política só não é permitido perder”. Moraram? Ou sacaram? Ou nem  sentiram o peso da vida como ela nunca foi, nem é e nem será?

Raciocínio

A hoje conhecida (ou falada) Inteligência Artificial (IA), para os ditos entendidos é um ramo da ciência da computação que se concentra no desenvolvimento de sistemas e algoritmos capazes de realizar tarefas que normalmente exigem inteligência humana. A IA inclui o raciocínio como parte do todo. Mas discordo pelo seguinte fato: o português (ou francês, ou inglês, ou espanhol, ou todos os idiomas) podem ser transformados pelo raciocínio. Agora não é o nosso tema, mas, sim, como está no título, retorno à vida como ela não é.

Política

Vamos fazer uma salada. Junte tudo de uma vez e chegue a uma conclusão no fim desta história, partindo da turma que Drummond apresenta em sua quadrilha. Insisto: na quadrilha de Carlos Drummond de Andrade e não nessa. Pegue cada peça e a encaixe de acordo com o seu entendimento, ou bel-prazer, ao que chama de realidade itabirana nestes dias eleitorais. Compreenda o seguinte: a partir da hora do aparecimento de marqueteiros no mercado— agora não é somente um mandador em cada campanha, são muitos, até os piolhos de comitê, Pedro Rapadura e Pé de Pato metem o dedo. E comece a observar o que cada um faz. É um fuzuê que vira num imaginário liquidificador.

Ratos

Voltando ao primeiro diálogo desta miscelânia bagunçada e analfabética, que tento imitar, não, busco contradizer Nelson Rodrigues, percebe-se que um  maluco alucinado, louco  pelo poder, passando da hora de ser internado de tanta insanidade, solta babas desesperadas numa frase mais ou menos assim, mesmo fora de época e de local: “Eu sou inarredável candidato!” E uiva, rosna, guincha, coaxa,

Então, no início desta prosa enfadonha, é dito no diálogo que existem ratos na história e quero, então, desde já, com muita clareza, esclarecer quem são os ratos e mostrar esses roedores frente a frente.

O esclarecedor desce com o amigo, de carro, estaciona na Avenida João Pinheiro, que foi canalizada no governo Li Guerra, explicando, também que na época era permitido pelas leis. Desceram na outra avenida, a Carlos de Paula Andrade e de lá, com uma lanterna super potente, enxergam o desfile de ratazanas prenhes e não prenhes, vivendo a vida que pediram a deus, se é que eles creem em deus. Acho que não.

Conclusão

Depois disso, ora, ora, ficou claro que a quadrilha de Drummond é fichinha diante da  quadrilha dos ratos, os traidores, surrupiadores, verdadeiros culpados por existir um submundo na política. Quem forçou  a geração dessa epopeia todos já sabem.

Aí entram os verdadeiros inventores da mentira, hipocrisia, safadeza, corrupção. E, por trás ou mesmo pela frente, a vida como ela é de verdade. Criaram o nome de período eleitoral, lei que transgridem na maior cara de pau, às vezes insinuando um prefixo “pré”. Nesse tempo, ou época, não é apenas o determinado pela Justiça, mas o também inventado pelos ratos barriga branca ou não, como comentam por aí. E vai…

José Sana

7 de setembro de 2024

Fotos: redes sociais

 

P.S.   1. Qualquer semelhança com o mundo, nada tem a ver com o submundo citado neste conto, ou crônica, ou o que queiram denominar.

  1. Este texto não deve dar “ibope”. Se der, tem segundo capítulo.

Zé do Burro e Vice-Versa às 12:48

NS
José Sana, jornalista, historiador, graduado em Letras, nasceu em São Sebastião do Rio Preto, reside em Itabira desde 1966.

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