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A primeira tolice é datada de 1910, em Estocolmo, Suécia. O fato ocorreu no I Congresso Internacional de Mineração. Alguém se ergue da cadeira e diz mais ou menos as seguintes palavras: “Foi descoberta no Brasil, no estado chamado Minas Gerais, na cidade de nome Itabira do Mato Dentro, a maior concentração de reserva de minério de ferro de alta qualidade no mundo. O local, já medido geologicamente se chama Pico do Cauê.

 

No ano seguinte estava criado por um aventureiro presente no encontro, Percival Facquar a empresa de nome Itabira Iron Co. Deu trabalho ao bandeirante Facquar. Aproveitou mais de  31 anos para que o governo nacionalista de Getúlio Vargas expropriasse os bens e valores que tinham sido comprados a preço de banana nas mãos de itabiranos babacas.

 

A segunda bestice começou a ocorrer na França, em 1968. Estudantes partiram para destruir as cidades, principalmente Paris, anunciando que era a segunda Revolução Francesa. Atacaram a Bastilha, libertaram os presos, quebraram bloquetes em carros pelas ruas.

 

Charles De Gaulle era o presidente francês. Parou o movimento que queria reprisar 1789, os estudantes só não encontraram uma nova Maria Antonieta para decapitar. De Gaulle escolheu seu ministro da Educação para tomar as devidas providências. O escolhido foi Edgard Faure, que escreveu o livro “Apprendre à être” (Aprender a ser), que originou um movimento chamado Cidade Educativa.

 

A seguir, a escolha do Brasil para ser palco da experiência, pois era o que estudantes da França queriam: um novo modelo educacional para não somente a França, mas também o mundo. A partir da indicação do Brasil, houve uma nova escolha que recaiu em Minas Gerais, com influência do radialista  Dirceu Pereira, que comandava  o programa “Mineiros Frente a Frente” pela Rádio Guarani de Belo Horizonte.

 

Aí começa uma verdadeira gincana em que se inscreveram centenas de cidades mineiras, em demoradas etapas, com indicações eliminatórias e julgamentos a cargo de uma equipe mista internacional.

Eu tive a honra de apresentar aos jurados detalhes de  como funcionava um projeto elaborado por comunidades itabiranas, as quais elas próprias denominaram “Plano Funil”.

 

Os trabalhos se arrastaram por meses a fio até que em março de 1975 foram eleitas duas comunas assim denominadas: “As primeiras cidades educativas do mundo”. Festas válidas e não sem motivos realizaram-se em Itabira e Itaúna comemorando a grande façanha.

Mas, e agora? Itaúna teve mais aproveitamento e até criou uma Universidade. Itabira deixou até de ir buscar um prêmio simples, mas que fazia parte das doações que viriam a seguir, uma Kombi zero quilômetro.

 

Em entrevista com ex-primeira-dama francesa, Danielle Mitterrand, em 2011, quando ela esteve no Brasil, declarou que se lembrava da ocorrência e que sempre foi militante de movimentos pelo meio ambiente e educação  em todo o mundo. De acordo com palavras dela e de outras informações, o projeto Cidade Educativa tinha o objetivo de levar à França a experiência mineira e trazer os resultados, formando a nova filosofia que era necessária naquele contexto. Mas, os fatores política e politicagem se misturaram, tanto em Itabira quanto em Itaúna. A grande arrancada parou no meio do caminho como uma pedra drummondiana.

 

Faltam a terceira (Pelotização I), a quarta (Polo Madeireiro) , a quinta (Pelotização II), a sexta (Privatização com os presentes de grego), a sétima (ação reconhecida pela Bolsa de Valores de Nova York), a oitava (o golpe no Valeriodoce) e a nona (a segunda safra do minério de ferro, o itabirito.

Finalmente, a décima babaquice itabirana começa em 2021 e segue. O atual mandatário nada vez em quatro anos, a não ser queimar mais de quatro bilhões. Não deu sequência ao projeto da Unifei, nem do Porto Seco, nem do Parque Científico e Tecnológico, nem do Aeroporto Industrial. Vivemos quatro anos de gambiarras, obrinhas, pracinhas (aos montes) e total recrudescimento do neopopulismo e instituição do projeto “mulher é quem manda”.

 

Retrocesso? Ei-lo ao vivo e a cores, com a velha política em ação. Trabalho eminentemente doméstico e ações praticadas no lero-lero via lives e centenas de horas em palanques.

 

Temos tempo ainda, por mais impossível que seja. A ideia é esta:  mude Itabira, ou vamos padecer no alerta feito pelo primeiro presidente da Vale, Israel Pinheiro da Silva, quando criou o Fundo de Desenvolvimento do Vale do Rio Doce. Disse ele solenemente: “Não vamos permitir que as nossas cidades se tornem um ‘bolsão de pobreza!’”

 

José Sana

Em 11/10/2024

NS
José Sana, jornalista, historiador, graduado em Letras, nasceu em São Sebastião do Rio Preto, reside em Itabira desde 1966.

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