Se conhecer o universo em que nos encontramos e tomar decisões com base em conclusões concretas sobre a origem de todo o complexo planetário ou, pelo menos do Planeta Terra, depender da ciência estaremos sempre estudando e voltando à estaca zero. Um momento de “só sei que nada sei”, pensamento socrático, da Antiguidade, estaria se repetindo nos estudos. Basta ler e refletir sobre este tema agora.
NOVAS DESCOBERTAS
Um artigo sobre descobertas arqueológicas no deserto do Kalahari (África) foi publicado na revista “Nature”. Informa que uma equipe internacional, liderada pela drª Jayne Wilkins, do Centro de Pesquisa Australiano para Evolução Humana da Universidade Griffith (Austrália), encontrou evidências longe de locais costeiros dos complexos comportamentos simbólicos e tecnológicos que definem os humanos modernos, remontando a 105 mil anos.
“Nossas descobertas nesse abrigo rochoso mostram que modelos excessivamente simplificados para as origens de nossa espécie não são mais aceitáveis. As evidências sugerem que muitas regiões do continente africano estiveram envolvidas, sendo o Kalahari apenas uma delas”, disse Wilkins.
DISTÂNCIA DA COSTA
“As evidências arqueológicas dos primeiros Homo Sapiens foram amplamente descobertas em locais costeiros da África do Sul, apoiando a ideia de que nossas origens estavam ligadas a ambientes costeiros”, prosseguiu ela. “Poucos sítios arqueológicos datáveis e bem preservados no interior da África Meridional podem nos contar sobre as origens do Homo Sapiens fora da costa. Um abrigo rochoso no Monte Ga-Mohana que fica acima de uma vasta savana no Kalahari é um desses locais.”
O abrigo rochoso é usado hoje para atividades rituais pela comunidade local. A pesquisa arqueológica revelou ali uma longa história de um lugar de significado espiritual.
Os pesquisadores escavaram 22 cristais de calcita branca e fragmentos de casca de ovo de avestruz, usados como recipientes de água, de depósitos datados de 105 mil anos atrás no local denominado Ga-Mohana Hill North Rockshelter. Naquela época, esse ambiente era muito mais úmido do que hoje.
ESPIRITUAL OU CULTURAL
“Nossa análise indica que os cristais não foram introduzidos nos depósitos por meio de processos naturais, mas foram objetos coletados deliberadamente, provavelmente ligados a crenças espirituais e rituais”, disse Wilkins.
“Os cristais apontam para o uso espiritual ou cultural do abrigo 105 mil anos atrás”, disse o dr. Sechaba Maape, da Universidade de Witwatersrand
(África do Sul). “Isso é notável, considerando que o local continua a ser usado para a prática de atividades rituais hoje.”
Os pesquisadores ficaram maravilhados ao descobrir que o conjunto de cristais coletados por humanos e fragmentos de casca de ovo de avestruz no Monte Ga-Mohana eram significativamente mais antigos do que o relatado em ambientes internos em outros lugares.
“Em locais costeiros, as primeiras evidências para esses tipos de comportamento datam da mesma época, 105 mil anos atrás”, disse Wilkins. “Isso sugere que os primeiros humanos do Kalahari não foram menos inovadores do que os da costa.”
IMPACTO MINIMIZADO
A cronologia de Ga-Mohana North Rockshelter foi determinada pela equipe de pesquisa usando datação por luminescência. “Essa técnica mede os sinais de luz natural que se acumulam ao longo do tempo nos grãos sedimentares de quartzo e feldspato”, disse o dr. Michael Meyer, da Universidade de Innsbruck (Áustria). “Você pode pensar em cada grão como um relógio miniaturizado. A partir dele podemos ler essa luz natural ou sinal de luminescência, nos dando a idade das camadas de sedimentos arqueológicos.”
Devido ao significado espiritual contínuo do Monte Ga-Mohana, os pesquisadores estão conscientes de minimizar seu impacto no uso do abrigo de rochas pelas comunidades locais após cada temporada.
“Não deixar rastros visíveis e trabalhar com a comunidade local é fundamental para a sustentabilidade do projeto”, disse Wilkins. “Para que o Monte Ga-Mohana possa continuar a fornecer novos conhecimentos sobre as origens e a evolução do Homo sapiens no Kalahari.”
E AGORA, JOSÉ?
Simples concluir que ambas as descobertas sobre a origem do universo apontam para a origem do ser humano costeiro ou distante, como há vida por toda parte. Difícil é fazer a ciência juntar as evidências e chegar a um só compêndio descritivo para que se estabeleça uma só estrutura de conclusões.
Há teses que admitem todas as hipóteses, mas que colocam acima de qualquer entendimento a necessidade de o ser humano aceitar o princípio de que o ponto de nova partida agora para estudos é estabelecer-se em um novo sentido, além dos cinco. Seria como alguém que quer morar num outro país de idioma diferente do seu e precisa entender a cultura e os costumes de seus habitantes. O primeiro passo é aprender a língua falada no local para, em seguida, tomar a segunda medida, que seria cumprir a sua missão estabelecida.
Prova evidente do ir e vir da ciência está estampada nos estudos do naturalista inglês Charles Darwin sobre a evolução humana. Por vezes descartadas suas revelações, de vez em quanto voltam à aceitação científica. Mas este é outro caminho a estudar.
Quanto às novas descobertas, resta a “eterna” pergunta: e agora, José?
Com: Revistas Nature e Planeta (01/04/021)/NS
Fotos: Jayne Wilkins