Telefonemas pedem reprise deste texto. Mensagens via redes sociais, idem. Até os chamados gritos proferidos do outro lado da rua ou da avenida. Atendo, mas faço uns cortes para atualizar os acontecimentos, sem alterar a verdade inviolável. “A ordem dos fatores não altera o viaduto”, sopra de lado o irreverente Pé de Pato, personagem sempre presente.
A TERCEIRA ITABIRA
Maria das Graças Souza e Silva, Baginha, em artigo de mestrado transformado em livro (A Terceira Itabira: os espaços político, econômico, socioespacial e a questão ambiental —São Paulo: Hucitec, 2004, 254 p), obra muito discutida nas rodas historico-literárias itabiranas, das cidades mineradoras e das monoindustriais, dá sua luz às dúvidas que continuam soltas por aí.
Diz a autora: “O título do livro ‘A Terceira Itabira’ é uma alusão ao questionamento de Drummond quanto ao destino de Itabira após a exploração de suas riquezas minerais”. A seguir, explica, perguntando: “Haverá uma terceira e diversa Itabira? (Andrade, 1967, p.574).
“Diante da pergunta de Drummond, o livro se apresenta muito maior que uma pesquisa: é uma resposta para a cidade! Uma lição que deve ser estudada para evitar os erros do passado e ensinar como planejar, urgentemente, o futuro”.
ITABIRA, PARA AONDE TU VAIS?
E agora, caro prefeito Marco Antônio Lage? Ou transferindo de Drummond a pergunta, diria: “E agora, José?” Um dos filhos de Marco tem o prenome José, vamos de filho para pai. O senhor prefeito não pode negar que não o alertei e não lhe ofereci, na bandeja, a solução. Sei que teve contatos com as Três Marias, ou nós a oferecemos, a inteligência, boa vontade e bondade delas para auxiliar.
Elas reuniram-se (faltou a presença de Maria Cecília de Souza Minayo, que reside no Rio de Janeiro) e estiveram a autora do livro com outra autora de outras obras referentes a Itabira, Maria do Rosário Guimarães de Souza, Zara.
Também, publicamos em sites e blogs a simples sugestão de considerar, os trabalhos científicos das filhas de Itabira, por opção, já que nasceram em Rio Piracicaba e são presentes de Deus à nossa cidade.
Em seu discurso de posse, senhor prefeito, está bem escrita a disposição política do verbo ‘empreender’, agora desprezado. Como um José qualquer (ou Izé porque sou da roça, é o que andam dizendo nos bastidores), qual investimento chegou a Itabira? Cite um…
Promessas, sim, essas choveram. A principal delas, feita solenemente, em 2 de outubro de 2021, na apresentação do chamado Plano de Metas, que colocaria 20% do orçamento de quatro anos em investimentos, evaporou. Hoje se vê o resultado de dois anos e meio de governo: zero empreendimento, zero investimento, zero esperança.
E não têm desculpas, apesar de transferirem culpas a governos anteriores, isto já caiu do galho. O senhor casou-se com uma viúva chamada Itabira e a herança era conhecida. Ainda teve orçamento de capitais brasileiras. A terra itabirana está movimentada e a ilusão enche de esperanças os bobos da roça (desta turma não faço parte) com o “descomissionamento de barragens”, termo que significa simplesmente “Adeus, Itabira. Assinado: Vale”.
Quem não se lembra, na pandemia: a Justiça fechou as atividade de mineração durante 12 dias? O senhor prefeito mostrou-se desnorteado com aqueles momentos. Daqui a dez anos não serão 12 dias, nem meses, nem anos, mas para sempre. E o que resolverá fazer uma demagogia como “tarifa zero de passagem?”, festas sobre festas, arruma aqui e arruma ali? Alguém vai para aonde? Tem escola, tem saúde, tem estrada, tem festa, mas quem existirá? Itabira será uma cidade para ninguém?
O prognóstico otimista da geógrafa, pesquisadora, historiadora e mestre Baginha, na sua simplicidade, talvez, não assine mais o que escreveu, palestrou e divulgou em 2003/2004. Já se passaram duas décadas e, depois do alerta, o que se fez? Nada mesmo, repetindo para perturbar! Ah, sei o que se fez: um “enrolo” inacreditável com a Unifei, que está no jogo de empurra.
Fica aqui o registro mais uma vez de que, vou assinar e continuar jogando minha água mole a cabeças duras dos politiqueiros só interessados em votos. Digo eu, que não mais disputo cargo eletivo, assino e assumo, palavras minhas, sem aspas: Itabira não será nem segunda completa, quanto menos a terceira viva. Até o retrato na parede cairá. Lamentavelmente.
José Sana
05/07/2023
Fotos: Arquivo
Sim, José Sana,
Muitas coisas que escrevi, em 2002, reescreveria hoje.
Quando fiz a pesquisa e os estudos para escrever – A Terceira Itabira – cheguei à conclusão de que os atores políticos, econômicos e sociais necessitariam conhecer a realidade local, se unirem para agirem no sentido da busca de alternativas e soluções que viabilizassem um desenvolvimento sustentado para o município pós mineração. Alertei também que, era imperativa a mobilização de todos esses atores em prol da busca desse desenvolvimento sustentado, sobretudo o poder executivo e o legislativo se movimentassem nesse sentido.
Artur Bernardes governador de Minas, no início do sec. XX, alegando que – “Minério só dá uma safra” exigia dos empresários que solicitavam autorização para exploração do minério de ferro, em Itabira, a instalação de uma siderúrgica na cidade para que sua economia não ficasse dependente só da mineração, No entanto, durante o governo de Getúlio Vargas, em 1942, por meio dos Acordos de Washington, essa exigência não se concretizou e a economia de Itabira ficou, ao longo do tempo, essencialmente depende de grande parte dos recursos provenientes da mineração.
Durante minha pesquisa, detectei que alguns grupos locais se mobilizavam reivindicando melhorias e alternativas que garantissem a sobrevivência econômica, social e ambiental da cidade. A maioria dos entrevistados confiava nessa sobrevivência, talvez baseada em atividades econômicas menos poluentes e baseadas em tecnologia de ponta.
Percebo que as mudanças nas estruturas econômicas e sociais locais ainda são tímidas em relação às necessidades da cidade. Reconheço que houve progresso nos setores de educação superior e no de saúde.
Constato que somente alguns membros dos poderes municipais conhecem a realidade de Itabira e, fico a pensar – como legislar, planejar e executar políticas públicas sem ter a ciência de: para que, para quem e por que – se legisla, se planeja e se executa? Só se muda uma realidade conhecendo-a
Continuo afirmando que – sem a união e mobilização dos poderes – legislativos e executivos e, também, da sociedade civil organizada pensando e agindo em prol dos destinos de Itabira – ficaremos a ver só buracos – daqui a uns anos e sem perspectivas para a sustentabilidade da economia e da sociedade locais.
Maria das Graças Souza e Silva (Baginha)
Só a Terceira Itabira salvará Itabira.