– Sei lá. As vezes tenho a impressão de que não tem nada de novo na música, que tudo vem sendo copiado, um eterno cover, do cover, do cover. As vezes a gente tem a sensação de que não existe mais gente que pensa, nem poesia, nem ousadia, nem arte.
– Ah..isso é por causa da preguiça mental decorrente do conforto dos nossos tempos Pra que a gente vai querer escrever um texto, se o chatgpt faz pra gente? Pra que fazer música, se o SUNO faz. Pra que estudar, se no google tem tudo? Pra que reflexão, se temos a IA pra pensar pra nós?
– Pois é. Tá tudo dominado. A gente tem até de fingir que é burro pra conviver em sociedade.
– Quem fica querendo saber demais as coisas, corre o risco de descobrir coisas que não deve. Melhor se acomodar, assistir o que todos assistem, ouvir o que todos ouvem, vestir as mesmas roupas, consumir os mesmos produtos. E não ficar querendo saber demais as coisas.
– Pois é. Eu casei, me estabeleci. Não quero mais saber de revolução nenhuma.
– Pois é. Eu tenho um problema sério. Sou rebelde. Sou curioso, gosto de pesquisar…
– Larga disso, meu amigo. Isso vai lhe fazer mal.
– O que faz mal é a mediocridade.
– O que faz mal é andar na contra mão do mundo. Vc vai ser atropelado.
– Vou nada. Sou um curioso. Confesso meu vício. E fico tentando garimpar, procurando coisas novas que desafiem minha inteligência e me causem aquele espanto que a gente procura na arte.
– Eu não. Eu prefiro andar na linha.
– Não estou falando em desafiar as leis, sô. Mas desafiar a lógica vigente e procurar novidades pra dar uma chacoalhada na alma.
– Acho que você está mesmo doente. Bem mais fácil seguir o fluxo.
– Amigo, lembra quando a gente ouvia Lps e Cds juntos? Como a gente ouvia quando chegava um disco dos Titãs, do Pink Floyd? Lembra quando nos emocionávamos com Emerson Lake e Powell?
– Lembro, meu amigo. Mas são tempos que não voltam mais.
– Mas é claro. Povo não ouve mais os graves, nem os agudos, nem os efeitos, as camadas de sons, os timbres. Ouvem nesses sonzinhos ridículos.
– Mas não tem mais ninguém fazendo som legal, meu camarada. O que manda é o sertanejo, o funk, a pisadinha e o pagode.
– Aí é que tá. Tem gente fazendo som inteligente sim. O problema é que não chega. Ou seus algoritmos é que estão lhe entregando o que você merece. Vou te dar uma sugestão aqui de duas bandas novas muito interessantes. Procure lá no youtube. PAPANGU, uma banda de João Pessoa. Experimentalismo, personalidade. E a paulista Bratislava. Ouça a música FOGO. Depois me diga o que acha.
– Aposto que é rock pesado, essas coisas alternativas.
– São novidades sonoras, tem ousadia, tem letras, tem guitarras, harmonias diferentes, performance.
– Por que não curte um sertanejão como todo mundo? Eu parei de resistir à correnteza. Deixo a vida me levar. Sinceramente, você tá velho pra essas coisas.
– Velha é a mentalidade acomodada, que se conforma, se amolda, se submete a tudo.
– Adolescência tardia é foda.
– kkk. Sou apenas um rebelde com causa.
– Ah é? E qual é a causa?
– A causa é não perdermos a humanidade, não virarmos máquinas…
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