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Estamos frente a frente com a realidade belíssima e sem embaraços. O fato que contarei agora não é  sequer uma réstea de esclarecimento do título deste texto, mas se torna de equação a solução. Espero que possa ser entendido: ao invés de trazer encargo para a família, a sociedade e o mundo, ela deixou aberto o caminho para uma vida melhor.

Tentarei simplificar para ser entendido. A descoberta, que talvez não seja minha, mas explico assim: fui a uma casa buscar livros, sempre livros. São escritos das “Três Marias” itabiranas, as quais não param de inspirar-me.  O dono da casa é o meu amigo Silvério Bragança, testemunha presencial de meu trabalho comunitário em três décadas.

Comemorando seu aniversário

Os livros emprestados (meu Deus, será que devolvi?) completavam a minha coleção extraída das inteligências ímpares de Maria Cecília, Maria do Rosário e Maria das Graças. Silvério, cunhado delas, sabia que tinha ido à casa das Marias. Então, sapecou a pergunta:

— Você esteve com Santa? O que achou dela? Viu as obras dela?

Emudeci-me. Porque estava somente perseguindo as Marias doutoras, mestres e professoras. Pensei comigo: “Não sabia que há uma Santa por lá”. Daí a minha automática decisão: volto à casa “santificada” para conhecer mais um deslumbramento que sinto pelas riquezas de Itabira. Fico realmente embevecido com aquela menina de imaginários 60 anos, educação fina, simpatia singular, habilidade, inteligência, visão do mundo.

No aeroporto

Comecei a ver suas façanhas: desenhos, pinturas, bordados. Isto somente mostra uma luz de que há algo divino por trás daquele mundo encantado de recados em imagens, sentimentos, considerando a profundidade das mensagens expressas.

Em seguida, observo mais detalhes sobre a produção de suas artes, como “faz ponto básico de tricô” e passa o resto de tempo com exercício físico em piscinas, pilates, danças, massagens, viagens.

Sobre esta última investida, não eram deslocamentos por essas bandas limítrofes de Itabira, não, mas com os seus limites  imitava a “patativa, bem-te-vi, canário, pintassilgo, juriti”, como está escrito no Hino de Itabira. “Ela voa no progresso”, seguindo a melodia que cantava, exibindo a sua felicidade desembaraçada.

Criatura feliz, sim, como poucos conseguem entender. Notável em fatos como: fazer check-in, mover-se em aeroportos, conhecer boeings, aviões de carreira, entender de movimentos de embarcar, desembarcar, estar em revista, saber as regras de segurança para voos tranquilos. E sua superável solidão no meio de multidões.

Agora, prestem a atenção: Santa, pura, limpa, perfeita, inocente, inteligente, nasceu na Fazenda dos Borges, município de Rio Piracicaba, em 5 de fevereiro de 1952. Filha de Maria do Rosário Guimarães e Antônio Clementino de Souza.

Sua genitora teve um parto difícil, procedimento acompanhado por parteira, na roça. Mas sua “santidade” superou a deficiência mental que protegeu sua vida. Atingiu a parturiente a ausência ou diminuição de oxigenação cerebral, que a ciência chama de hipóxia ou anoxia neonatal, definida como segundos que decidem uma vida. O milagre de sua vida começa aí.

O casal teve oito mulheres (todas de nome Maria) e três homens.

Ah, faltou escrever aqui o seu nome que, a meu ver, deveria ser mesmo Santa ou Santinha, como foi conhecida na sociedade. Contudo, recebeu o registro de Maria das Dores Guimarães de Souza no cartório e na pia batismal. Neste domingo, hoje, 5 de fevereiro, ela completa (muitos usam o verbo condicional, completaria) mas insisto no presente do indicativo quando merefiro a seres imortais: Santa faz 71 anos de idade. Faleceu em 21 de fevereiro de 2021.

Volto à minha justificativa de tê-la visto, como muitos outros a conheceram, como Santa. Suas proezas a tornam uma menina diferente, realizada, graças aos que as acompanharam, além das sete Marias irmãs três irmãos homens, o Instituto Pestalozzi (BH), o Grupo Escolar Dr. Pedro Guerra (Itabira).

A análise, até mesmo sem sentimentalismo, somada às obras de arte, incontáveis, que deixou para a posteridade garantem-lhe um lugar de destaque na História de Itabira. E do mundo, quem sabe!

José Sana

Em 5/2/2023

NS
José Sana, jornalista, historiador, graduado em Letras, nasceu em São Sebastião do Rio Preto, reside em Itabira desde 1966.

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    Roneijober
    Roneijober
    2 years ago

    Linda homenagem, lindo texto. Parabéns a José (e) San(t)a

    Edna
    Edna
    2 years ago

    Muito bacana esse texto. Parabéns, José Sana!

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