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Vem, Itabira te espera! Encravada no Vale do Aço, no Centro-Leste, na Zona Metalúrgica de Minas Gerais, a terra de Carlos Drummond de Andrade e, por enquanto da Vale, te espera de braços abertos.

Vem e não perguntes alguma sabedoria do homem do boteco ou da esquina, ele sabe nem votar, votou errado e se perguntares em que zona está, vai dizer que na zona da Escurinha.

Vem saber como se faz tudo errado, um governo imediatista, se joga tudo no hoje, estamos vendendo o almoço para sobrar alguma coisa para o jantar.

Vem, itabirano ausente, vem saber o que fizeram e fazem com tua terra. Desde as ações de Percival Farquhar, em 1910, norte-americano que comprou hematita a preço de itabirito duro, a cidade padece sem saber  e só “leva tinta”, como diz o matuto das grotas, com saudade do Mato Dentro.

Vem, preguiçosos e irresponsáveis diante das cousas públicas, não é só votar de olhos fechados e ficar na porta da venda, como Tutu Caramujo, agora às vésperas de sofrer a tal derrota incomparável.

Vem, sofredor com o erro do governante atual, um aventureiro lamprão que, ao invés de desfrutar-se dos bilhões que transbordam dos cofres da prefeitura, aplaude a governança, mesmo vendo-a enfiar o Cfem suado e passageiro em praças, pracinhas, praçonas e festas, festinhas e festanças.

Vem, conhecedor da história itabirana, que sabe há anos da  procura que se faz da vocação econômica da terra da Pós-Vale, já fomos siderúrgicos, polo madeireiros, metalmecânicos, e pensamos na cidade universitária, agora mostramos a cara  em montes de carros buzinando nas ruas enquanto não vem o “bolsão de miséria” anunciado pela própria Vale, está escrito.

Vem, gente gastadora de dinheiro, que sapeca bilhões de dólares de impostos da mineração, que nem precisa ser cobrada, todos conhecem a política do leva e não traz imposta pela fraqueza de maus gestores do dinheiro público.

Vem também, vizinho ou distante. conhecedor de cidade anti-higiênica, como se faz para ficar tanto tempo sem tratar o lixo, quando se tem leis assinadas há 25 anos para transformar tudo em riqueza.

Vem, aproveita e aprecia uma cidade imunda nas suas vias mais visitadas, como as avenidas Mauro Ribeiro Lage e João Pinheiro, locais de caminhadas e onde fezes oferecem mau cheiro e outras coisas que se sabe.

Vem presenciar a barulhada que se faz nas ruas, avenidas, becos e vielas, com carros que parecem famintos de arrebentar ouvidos de seres humanos, seja quais sejam, durante o dia e a noite, a prefeitura não fiscaliza porque dá a alma e a mãe para não ver um voto escapar.

Vem, se já veio antes das eleições do ano passado, saber como tiraram recursos de dentro do baú milionário, investindo tudo no mandato dos exploradores que chegaram com fome e ainda dizem que não vão largar as tetas gordas do poder.

Vem, agora comparar como está Itabira, sempre sugada, sabendo que os mandachuvas agora fazem das tripas o coração para mostrar o lado bom que se despede de nós. Os buracos duros na queda não aguentaram virar o ano de 2024 para 2025.

Vem, observa que na cidade não há um plano de emergência para socorrer os que, idiotas por causa do desgoverno, não sabem que as receitas do município vão minguando e, em breve, adeus ItabiraPrev, Valia, tudo que depende da mineração de ferro.

Vem, enxerga de perto toda a verdade e deixo de graça, para reflexão, a última estrofe de um triste poema de Carlos Drummond de Andrade:

 

“Tive ouro, tive gado, tive fazendas.

Hoje sou funcionário público.

Itabira é apenas uma fotografia na parede.

Mas como dói!”

 

José Sana

NS
José Sana, jornalista, historiador, graduado em Letras, nasceu em São Sebastião do Rio Preto, reside em Itabira desde 1966.

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    Mary Sana
    Mary Sana
    11 days ago

    Que abandono!
    Itabira, quem te viu e quem te vê nessa circunstância de total desgoverno!
    As prioridades, será que literalmente estão sendo obedecidas a bem da população?
    Quando os cuidados com a cidade são relegados a segundo plano, as necessidades urgentes da população também não são do interesse público.
    Fim de linha.

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