As noites frias do mês de junho trazem junto uma tendência à nostalgia, à
introspecção. E aquela senhora do sobradinho verde, naquele momento, não sentia nada que fosse diferente de outras tantas senhoras mães: A saudade dos filhos. A falta da infância corrida.
O vento gelado soprando pelas frestas das janelas entra sem pedir licença,
dilacerando suas entranhas. Nesses momentos os pensamentos em devaneios buscam justificativas para o presente nos acontecimentos de um passado pouco distante.
Parece que foi ontem a chegada de seus filhos ao mundo, trazendo além da expectativa, a insegurança pelas vidas que agora passavam à sua responsabilidade. Mal acabara de sair de um parto, nem havia se dado conta de que era ainda uma criança para cuidar de outra criança, acaba sendo atropelada por outra gravidez. Desespero, insegurança, alegria e
até amor se misturam a um turbilhão de incertezas. O coração quase sai do peito.
E agora?
Sai de casa para o trabalho deixando a filha pequena e levando em seu ventre
uma gravidez de três meses. Começa o dia letivo como outro qualquer, pois trabalha como professora do Ensino Fundamental. Os alunos que estavam atentos à lição, sequer perceberam que a professora sentiu um mal súbito e sai da sala de aula. Na cantina é socorrida pela servente. Estava tendo um aborto.
Como? Se não sentia nem uma dor?
Questionava meio confusa. Levada às pressas para a maternidade da “Santa Casa” local, embora só houvesse perdido sangue, o médico plantonista não deu esperanças de que o feto estaria seguro. O desespero tomou conta: “_será que pela força dos sentimentos de rejeição tentei abortar meu filho? Meu Deus, não!” _” Dê-me outra chance, Senhor!”
Clamou a Deus.
Naquele momento tomou consciência do amor que sentia por aquela criança. E assim, depois de alguns meses de repouso, nasceu seu segundo filho, um menino.
(Trecho extraído do “Diário de Uma Mãe – Autoria desconhecida)