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Diz o matuto: “Ele só pensa naquilo”. E deita com a tarifa; acorda com a tarifa; leva a tarifa para o breakfast;  retira-a debaixo do travesseiro, em cima dele.  No déjeuner, lá vem a danadinha da tarifa com gosto de picanha, frango ao molho pardo, tudo chamado de tarifa rebaixada. “E vou criar a ‘Tarifa Zero’ no fim do ano”.

Segunda-feira vai à Globo, na Capital. Terça-feira ao jornal O Tempo, em Betim. Quarta-feira é dia de esperar para quinta-feira fazer a devida distribuição da tarifa. Sexta, idem para um mesmo tema: Tarifa Zero. Chato mas é verdade.

Sábado reúne-se com lideranças para avaliar o invariável. Mas, infelizmente, esses líderes são como todos os puxa-sacos de todos os tempos: só pensam em cargos, só querem curtir as benesses do poder. Disse Drummond como lição que precisa ser refletida: “O Poder está sempre explicando que não pode tanto assim” (O Avesso das Coisas, 2017).

SEM INVESTIMENTOS, NADA FEITO!

De 20 anos para cá, em todos os governos de Itabira, o recurso orçamentário disponível para investimentos estanca em 5%. Mesmo agora, quando Itabira se naufraga em bilhões, nada resta para obras necessárias, para dar esperança ao poder, imaginem quando o presumível caos bater às nossas portas! Gente, amigos, povo do Céu, Itabira está com o pé na cova. Cidade ex-rica, sem um centavo para investir. Não vêem?

A Prefeitura de Itabira tem compromissos com dezenas de entidades que não andam sem a ajudazinha super necessária. É o Combem, a Aoadi, a Apae, hospitais, sendo um vindo de um presente de  grego doado pela Vale, Saúde, Educação, Cultura. E soma com as atitudes do prefeito de dar prioridade a festas e festanças. “Ah, isso é que dá voto!”

EXPERIÊNCIA FRACASSADA

Uma cidade próxima a Itabira (não é Barão de Cocais) adotou a tal tarifa zeríssima e entrou pelo cano. Teve que criar uma alternativa paga e outra pública. A paga é utilizada pelos que precisam ser atendidos, a outra está no fundo do poço: ônibus estragados, mau atendimento, super lotação, empurra-empurra pra cá e pra lá, horários descumpridos, promessas de melhorias que nunca se cumprem.

Agora, o mais sério: Itabira encontra-se em pleno processo de “descomissionamento” de barragens, obras de despedida da Vale. Quer dizer: fim da mineração, término da receita altíssima, adeus à farra dos bilhões, arremate da dinheirama despejada na cidade. Estamos vivendo o tempo surreal,  estamos aí nas portas de 2031 e  passou da hora da tomada de medidas sérias, determinadas e decisivas com vistas aos anos imprevisíveis. Continuando, Itabira estará vendendo — e a preço de irresponsabilidade — a sua merecida vida eterna usurpada por um filho que prometeu ser leal e nos ataca com os burros n’água.

FALHAS JURÍDICAS E MENSAGENS DE APELO

E mais sério ainda: há falhas comprometedoras no projeto, que não obedece a Lei de Responsabilidade Fiscal (sem apresentar o impacto financeiro para 2025). A empresa que ganha mais dez anos de prazo para receber valores altíssimos, pode estar beirando ganhos de quase R$ 200 milhões com o preço da passagem de coletivo urbano a R$ 3,00. Com o anúncio maluco do prefeito, mandado não se sabe por quem, do seu único sonho, a Tarifa Zero, aí estaremos não mais com o pé na cova, mas dentro dela e sufocados.

Tenho recebido incontáveis pedidos: “Escreva sobre isso, fale a respeito daquilo”, “você não tem mandato mas tem clarividência” e não param de pedir.  “Sana, a situação é mais crítica do que a sociedade itabirana é capaz de entender… Ela ainda não consegue fazer a leitura real da tragédia que está se potencializando a cada dia que passa…” (um grande empreendedor).

Prometi que iria apresentar sugestões para cada problema que surgisse. Só consigo, por enquanto, transmitir o que me enviam. Eis uma mensagem: “Os vereadores deveriam  não votar o projeto do prefeito agora, mas exigir uma proposta atualizada  de transporte para seis meses. Neste prazo o Executivo apresentaria um novo projeto com subsídios para seis meses e abriria uma licitação inteligente,  de forma que os cofres públicos não tenham de bancar passagem de ônibus em Itabira”. Outra sugestão: “De qualquer maneira, tem de derrubar o monopólio de transporte coletivo que em Itabira parece ser eterno”.

CONCLUINDO

Itabirano, não faça a penúltima burrada de sua vida! A última seria acreditar que a Tarifa Zero, um sonho que pode virar pesadelo, garante o tempo de nossos descendentes. Responsabilidade já!

A futura geração não vai aceitar que seja rato de laboratório.

Salve melhor juízo.

José Sana

Em 20 de abril de 2023

NS
José Sana, jornalista, historiador, graduado em Letras, nasceu em São Sebastião do Rio Preto, reside em Itabira desde 1966.

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