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De acordo com apurações da reportagem, Itabira, como milhares de cidades do Brasil e do mundo, está repleta de viciados em drogas e bebidas alcoólicas. Eles têm ponto de reuniões. A maioria é composta de dependentes químicos, protegidos pela lei. Não se vê falar neles. Fecham-se comércios que nada têm a ver com drogas; proíbem reuniões presenciais de todos os caracteres — comerciais, religiosas, culturais, estudantis etc. — e multam botecos, bares e restaurantes; enfim, montam um suposto cerco contra o Coronavírus e esquecem o grande perigo que anda solto pelas ruas à cata de um baseado, ou crak, ou LCD, ou ecstasy, ou cocaína. E aí tudo pode acontecer, como fatos ocorrem e são do conhecimento das autoridades e do povo.

A denúncia é que em Itabira reúnem-se na noite-madrugada, seja rico (de renomadas famílias), seja pobre, seja mediano, eles costumam formar um sarau e resolver entre eles, mas às vezes o sem-dinheiro leva desvantagem. Surge, de vez em quando um problema ainda complicado: suicidam-se os desesperados e até nisso Itabira está despreparada para atender, já que o Centro de Valorização da Vida (CVV) atende precariamente nesta pandemia.

Uma entrevista vamos mostrar agora para que autoridades e a comunidade em geral ajudem a resolver este problema, que fica mais sério ainda quando o viciado passeia durante a noite, tem vários contatos e volta para casa, para aonde leva a Covid-19, que atinge famílias e mais famílias. Sônia Rogrigues foi a profissional ouvida nesta reportagem. Na segunda-feira (19) será a vez do vice-prefeito e médico Dr. Marco Antônio Gomes falar. Ele já foi entrevistado e mostrou sua preocupação e empenho para enfrentar mais um problema que, para muita gente, parecia, ou parece, desconhecido.

Sônia Rodrigues, itabirana, é terapeuta holística em Toxicodependência; conselheira em Dependência Química; professora no curso de Formação de Conselheiros em Dependência Química no Exército Brasileiro; consultora e professora em Comunidades Terapêuticas e palestrante em empresas e entidades afins. Ao todo, ela soma 25 anos de experiência nos temas mencionados, incluindo Tratamento Ambulatorial e Aconselhamento em Famílias.

Especialista em tratamento de dependência química expõe uma das várias premiações recebidas, do Exército e outras, por trabalho prestado.

Especialista em tratamento de dependência química expõe uma das várias premiações recebidas, do Exército e outras, por trabalho prestado.

Professora Sônia Rodrigues fazendo palestras para várias equipes do Exército Brasileiro com o tema sempre em foco: dependência química

Professora Sônia Rodrigues fazendo palestras para várias equipes do Exército Brasileiro com o tema sempre em foco: dependência química

SONIA RODRIGUES COM A PALAVRA:

DEPENDÊNCIA QUÍMICA EM ITABIRA

“Não existe nenhuma pesquisa que possa comprovar o número exato de dependentes químicos em Itabira. Mas são muitos. Centenas. Talvez milhares. Itabira vive a trágica realidade de crianças de seis anos, até idosos com mais de 67 anos portadores da doença da adicção. São inúmeras as drogas utilizadas por eles, desde as lícitas, como também as ilícitas e atualmente as sintéticas de alto poder viciante e causadoras de inúmeras doenças mentais e físicas, levando, inclusive, ao suicídio. A dependência química é definida pela 11ª edição da Classificação Internacional de Doenças (CID-11) da Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma Doença: conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após o uso repetido de determinada substância.

A dependência química está classificada entre os transtornos psiquiátricos, sendo considerada uma doença crônica que pode ser tratada e controlada simultaneamente como doença e como problema social, (OMS, 2001). No Brasil foi reconhecida como doença, em 2006. É uma doença complexa, crônica, progressiva, incurável e potencialmente fatal. Um Dependente Químico (DQ) afeta 28 pessoas: familiares, policiais, hospitais. A doença afeta a família gravemente, que desenvolve uma nova doença: a codependência. Tão complexa como a dependência e exige um tratamento duradouro. Reconhecida também como uma doença emocional e comportamental, chegando na maioria das vezes a desencadear problemas graves e com dores crônicas. O maior problema que encontramos para a recuperação de um dependente químico é o preconceito. Preconceito de todas as pessoas, da família e até do adicto”.

Dependência Química

TRATAMENTO EM ITABIRA

“Em Itabira existe (para tratamento) o Centro de Atenção Psicossocial em Álcool e DrogasCAPS AD, que faz o tratamento ambulatorial. Tem também a Fazenda Esperança, que atende a uma média de 30 pessoas. Os pacientes são ainda, por serem inúmeros, encaminhados para outras cidades para tratamento, tanto em Comunidades Terapêuticas como em Clínicas Especializadas. Os Grupos de Apoio como NA e AA que realizam um excelente trabalho para a recuperação, atualmente estão desativados. Somente um Grupo de AA está fazendo as reuniões semanais. O Grupo Amor Exigente, que trata das famílias e também dependentes em sobriedade, continua com as reuniões semanais, via online”.

Dependência Química

ONDE ELES ESTÃO?

“Não só a Praça Acrísio eles se reúnem (os dependentes químicos e viciados) praticamente em todas as noites, mas em Itabira existem vários locais considerados como “Cracolândias”. São inúmeros espalhados por toda a cidade e na zona rural também. Há poucos dias morreu um que ingeriu etanol. A Polícia sabe sim, todos sabemos, mas não é um caso para polícia. Por ser uma doença, pela Lei 13.840, os dependentes químicos precisam ser encaminhados para tratamento à Rede de Saúde Pública, Comunidades Terapêuticas ou Clinicas Especializadas.

Não tenho conhecimento sobre se a Secretaria de Saúde sabe (que eles levam o vírus para casa quando saem para buscar drogas). Pela Lei 13.840 a DQ é de competência conjunta dos Ministérios da Cidadania, da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, da Saúde, dos Órgãos de Segurança Pública e da Anvisa Por ser uma doença Multifatorial — “Biopsicossocialespiritualcultural” — demanda ações e atividades de vários setores para a recuperação e reinserção social”.

SONIA FARIA UM TRABALHO PARA ITABIRA?

Professora e consultora Sônia Rodrigues com equipe de alunos do Exército Brasileiro

Professora e consultora Sônia Rodrigues com equipe de alunos do Exército Brasileiro

“Sim, mas não é simples assim. Um trabalho sobre dependência química requer, desde a prevenção primária, até a reinserção, cuidado e acompanhamento do adicto e seus familiares; capacitação, treinamento, seminários, campanhas educativas, integração entre as redes de apoio. É muito abrangente. Toda dependência de um modo geral, atualmente sendo a tecnologia uma das maiores e mais devastadoras, merece uma atenção diferenciada e um maior cuidado, pois o impacto na vida do ser humano é imenso e, na maioria das vezes, irreversível. Para atuar aqui em Itabira, necessitaria de uma equipe multidisciplinar capacitada.

Trabalho para o Exército Brasileiro com Capacitação de Conselheiros em Dependência Química. Tenho várias outras atividades, como Coordenadora do Grupo Amor Exigente, Aconselhamento, Capacitação para criação e organização de CT em Juiz de Fora.

A responsabilidade é do município: Tratar, cuidar e reintegrar na comunidade. Conforme a lei 13.840, cabe a Polícia a repreensão do tráfico de drogas. E a PM de Itabira tem realizado muitas apreensões de drogas”.

CONCLUINDO

 Sônia Rodrigues apresentou um projeto para execução em Itabira, onde a situação, como se vê, é gravíssima. Pessoas que acompanham o que se passa em Itabira têm segurança em dizer que não resolve combater a Covid-19 se não partir para resolver os as questões que se desenrolam nas ruas, avenidas e praças da cidade.

Aguarde entrevista com o médico e vice-prefeito de Itabira, Dr. Marco Antônio Gomes. Este assunto não pode morrer. A menos que as autoridades e o povo de Itabira pretendam jogar o lixo debaixo do tapete.

Notícia Seca/José Sana

Fotos: Divulgação e Álbum de Família

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Darliete Araujo Martins
Darliete Araujo Martins
2 years ago

Este é outro grave problema a ser enfrentado pela sociedade que não compreende a dependência quimica como uma doença social. Essa dependência é uma válvula de escape para muitos problemas que a sociedade , que as pessoas não querem ver ou enfrentar. O enfrentamento do problema pelos serviços de saúde, embora tenha avançado muito nos últimos 20 anos, com leis protetivas, específicas, casas de recuperação, medicamentos disponíveis, ainda está longe de sua eficácia. Tratar um caso de dependência química é como matar um leão todos os dias, e começar do zero. E preciso paciência, zelo, AMOR, MUITO AMOR, AMOR INCONDICIONAL E PERMANENTE.
Nossa sociedade discrimina e penaliza o drogadito. As famílias têm mais vergonha que amor por ele, o “ovelha negra”. O dependente é um peso, um ser à margem da sociedade para muitos. Ele, no entanto, é fruto de uma sociedade preconceituosa e mal resolvida, ele é mais uma questão social a ser enfrentada pelas autoridades com coragem, determinação, recursos financeiros e humanos, muito humanos.
As casas de recuperação ainda são inacessíveis para muitos, são dispendiosas, além de poucas. No acompanhamento dos dependentes falta apoio, carinho, resiliência e dedicação de muitas famílias. E não é fácil mesmo!
Mas o que nos falta é CORAGEM!
Coragem para enfrentar os desafios de toda ordem.
Coragem para construir uma sociedade melhor, mais humana, mais digna, mais aberta ao diálogo, e menos desumana, desleal e preconceituosa.

Afra Regina Sana
Afra Regina Sana
2 years ago

Excelente reportagem! Assunto de suma importancia. Muito triste e complicada essa realidade!😒🤔🤔🤔

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