UM HOMEM DA COMUNIDADE
Eis o que ele disse em entrevista, sempre em resposta a inquirições que lhe foram feitas (com certeza, poderia dizer muito mais:
— “Não era influência de ninguém, nem de religião, apenas me compadecia pelas crianças que requeriam assistência. Existiam muitos meninos e meninas no “Nosso Lar” dos saudosos Delcídio e Marília Comunian e isso comovia qualquer coração. Eu os atendi durante mais ou menos 16 anos, dentro de minhas possibilidades.”
— “Uma meretriz, de quem cuidei e melhorou do mal que lhe acometia, queria me gratificar pelo tratamento e queria me fazer seu herdeiro. Não aceitei. Depois me ofereceu uma casa. Aceitei e encaminhei a doação ao asilo da cidade”.
— Como médico, nada fiz demais, a medicina era muito complicada, começaram a surgir doenças novas, ou as mesmas conhecidas se multiplicavam, e tínhamos que nos virar. Não existiam especialidades, a gente era pediatra, ortopedista, cardiologista, parteiro, tudo ao mesmo tempo. Enfrentamos uma doença muito complicada, o tifo exantemático, ou ‘doença do carrapato’. Descoberta a cura alguns anos depois, mesmo assim continuou matando pessoas e, acredite, até hoje, já nos anos 2000, ainda pega um ou outro desprevenido. Geralmente, o paciente procura o médico muito tarde e não dá mais tempo de reverter a situação. Para atender a pacientes, era às vezes a cavalo e, como disse, muitos não podiam pagar pelo tratamento que recebiam”.
— “Naqueles tempos antigos não havia nem SUS, ninguém tinha plano de saúde, pagava a consulta quem queria ou podia. Eu atendia a muitos necessitados e nada cobrava, é claro. E sempre vivi recebendo donativos dos pacientes, galinhas, ovos, verduras, frutas, muitos se sentiam gratificados e assim vinham demonstrar seus sentimentos”.
— “Nunca contabilizei este total (das pessoas atendidas que eram salvas), até porque não sei se fui eu mesmo o salvador, ou se foi a obediência e os hábitos dos próprios pacientes. Já cuidei de muita gente e esse fato me deixa muito feliz até hoje”.
Foto: Vila de Utopia
Notícia Seca