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(Capítulo 4)

Estamos no ano incerto de 2040. Não temos mais a dita milagrosa mineração. Chegou a Itabira um marqueteiro desconhecido e determinado. Ninguém viu a sua cara, ninguém sequer dele ouviu falar, mas ele amarrou sua égua na porta do palácio dilapidado. Portanto, não se sabe como apresentá-lo a quem quer que seja. Mas, para melhor entendimento, vamos dar-lhe um nome qualquer, um Zé Ninguém Irresponsável da Silva.

Ele tem audiência marcada com o senhor prefeito de Itabira, que também é um desconhecido. Faz mais de 16 anos esse Zé Ninguém frequenta o terceiro andar do Paço Municipal Juscelino Kubitschek de Oliveira. Só vem para buscar o seu vil metal: ele fez um acordo com o prefeito da época de continuar recebendo algum pagamento pelo seu trabalho a partir de 2021, quando montou um programa porreta para o “sem noção” dono da cadeira de chefia do executivo.

O PROJETO INFALÍVEL

Zé Ninguém nem entra em fila. Chega chutando portas e cadeiras. Recepcionistas estão treinadas a buscá-lo no meio da sala de espera. Ele já chega recebendo o seu quinhão, mas ultimamente tem pelejado muito porque todos os menos ignorantes sabiam que faltaria dinheiro nos cofres municipais itabiranos.

Zé Ninguém fez um projeto arrojado para a Prefeitura da Terra de Drummond. É o seguinte, resumidamente: “A partir de agora (2021) você esquece tudo o que falou na campanha eleitoral de 2020. E também não liga para sugestão alguma. A administração se baseará em construir picuinhas. O que são picuinhas?  Tapar buracos, capinar matos, pintar meios-fios, preparar pracinhas, o máximo que puder. E ser populista”.

 

As ideias precisam se encaixar num programa de governo que nada tem a ver com a cidade. Reza o contrato com a Prefeitura o seguinte: “1. Esqueça o metrô prometido. 2. Programa de educação como Unifei, nem pensar. 3. Parque Tecnológico, Aeroporto Industrial e Porto Seco, fora de discussão. 4. Abastecimento de água na cidade sai do contexto até Itabira não precisar mais de água porque a maioria do povo vai picar a mula. 5. Central de Resíduos, mesmo sendo com o dinheiro da Vale, como a água, trocar por migalhas”.

Lembra-se de Getúlio Vargas? Pois será exatamente o caudilho quem inspirará o lado externo do governo para sempre. Enganar o povo como Getúlio enganou e até continuar rolando no chão com as criancinhas que adoram cara feia e embuchada. Aí estaria um verdadeiro sacrifício para o “sem noção maior”.

 

Agora Zé Ninguém, que frequenta o paço desde 2021, não está mais recebendo a sua parte. O pagamento era perpétuo, até a décima oitava geração dos viventes do século 21.

Mas, se dane o Zé que rodeia o terceiro andar, onde nem papel existe mais. Os servidores municipais, desolados, foram construir a vida fora do espaço itabirano. O atual MAL desapareceu. Mas ele está, também, recebendo uma parte na distribuição da falta de receita. Só quero dizer que a falta de coragem do povo e a grande ilusão de ver a cidade em polvorosa, percebendo o dinheiro correr, tiveram o poder de arregalar os olhos do povaréu, mas muito tarde.

Uma pena. A doce ignorância de um povo sem noção fez e faz a pequenez de uma gente que nunca mais se levanta. As repetidas entrevistas dadas desde muito tempo por cidadãos e autoridades, como pelo presidente do Metabase, André Viana Madeira, de que Itabira se tornará uma cidade fantasma, soaram como linguagem de macaco no ouvido de macacos.

E ninguém teve medo de Itabira. Nem de fantasma.

 

(Continua na próxima semana)

NS
José Sana, jornalista, historiador, graduado em Letras, nasceu em São Sebastião do Rio Preto, reside em Itabira desde 1966.

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