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Quem viveu a época dos vinis, fitas K7 e CDs sabe que ouvir música era uma experiência que envolvia todos os sentidos. Havia o ritual de escolher o álbum na loja, passar os dedos pela capa, ler as letras no encarte e, finalmente, colocar o disco no toca-discos ou a fita toca-fitas. Era uma relação quase íntima com a música, algo que ia além do ouvido.

Hoje, com o streaming, a praticidade é inegável. Milhões de músicas estão a um clique de distância, mas essa facilidade veio com um preço: a materialidade desapareceu. A música virou algo etéreo, intocável, sem peso ou forma. Para muitos, essa falta de algo palpável deixou um vazio. Afinal, como guardar uma lembrança de algo que não existe fisicamente? Como presentear alguém com uma playlist?

Essa nostalgia da materialidade tem movido artistas, designers e fãs a repensarem como a música pode ser vivida e compartilhada. Não se trata apenas de voltar ao passado, mas de criar novas formas de conectar o físico ao digital. Será que isso é possível? Será que existe essa demanda ou é apenas romantismo exótico? Imagine, por exemplo, um pen drive em formato criativo. Além de armazenar músicas, ele pode vir com conteúdo exclusivo, como fotos, vídeos e outras ações criativas, transformando um simples objeto em uma experiência multimídia.

Outra ideia que vem ganhando força é a criação de álbuns físicos híbridos. Um vinil ou CD moderno poderia vir com um código para download na nuvem, mas também incluir um livro de arte, pôsteres, adesivos ou até pequenos objetos colecionáveis relacionados ao álbum. Artistas internacionais como Taylor Swift e Billie Eilish já exploram essa tendência, lançando edições especiais que transformam o álbum em um item de colecionador. No Brasil ainda não vi algo similar.

Mas aí, né meu amigo. Só para quem tem dimdim pra bancar.
Se a ideia é monetizar ou chamar atenção para o trabalho musical, camisetas com capas de álbuns estampadas, com frases de músicas icônicas ou até mesmo livros físicos que contam a história por trás das canções são formas de manter a música viva no cotidiano. Esses objetos não apenas geram monetização para os artistas, mas também criam uma conexão emocional com os fãs.

E há espaço, claro, para o resgate de objetos nostálgicos com funcionalidades modernas. Relicários estilizados. Já vi uma radiola com toda a aparência de coisa antiga mesmo, mas que, em vez de fitas, reproduz músicas de um pen drive ou via Bluetooth. Esses objetos podem servir como decoração, item de coleção e, ao mesmo tempo, conectar-se ao mundo digital. Um paleativo né?

A materialidade da música não precisa se limitar a objetos. Eventos ao vivo, com versões diferenciadas, acústicas ou elétrificadas, feats, conversas com fãs, lives, feiras e festivais são formas de reconstruir essa conexão. A música é, afinal, uma arte que envolve todos os sentidos.

De qualquer forma, enquanto o streaming continua a dominar o mercado, há um movimento crescente de pessoas que buscam resgatar ou reinventar a materialidade da música. Seja através de objetos criativos, experiências interativas ou edições especiais, o desafio é encontrar um equilíbrio entre o passado e o futuro, entre o analógico e o digital. Afinal, a música não é apenas som – é memória, é história, é algo que merece ser tocado, sentido e guardado.

E você, o que guardaria da música que ama? Um vinil, uma camiseta, um livro ou algo que ainda está por ser inventado? A nostalgia da materialidade nos lembra que, mesmo em um mundo digital, ainda há espaço para o que podemos tatear, segurar com as mãos e guardar no coração.

Marcos Martino
Marcos Martino é alvinopolitano, compositor, cantor, produtor musical, articulista, ex-assessor de Comunicação da Prefeitura e ex-presidente da Casa da Cultura de João Monlevade.

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