A primeira escola de jornalismo cujas aulas frequentei foi o Diário de Minas, verdadeira faculdade que ensinava o melhor das letras comunicativas. A segunda foi a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Belo Horizonte (FAFI-BH) e a terceira o jornal Estado de Minas. Boas e grandes lembranças de épocas imemoriais.
Devo citar quatro mestres que me traçaram o caminho no jornalismo: Maurílio Brandão, Vargas Vilaça, Márcio Prado e João Lintz Brandão, este último como instrutor de revisão do Estado de Minas, Diário da Tarde e do Diário Oficial de Minas Gerais.
Para fazer o primeiro teste de repórter policial, o redator-chefe Maurílio me apresentou a máquina de escrever Olivetti, cujo estado era de plenamente conservada. O tema foi “Desastre de Avião”; os dados tinham poucos, tive de perguntar, o resto inventar. Aprovado, era uma terça-feira, 8 de janeiro de 1963, havia quatro dias tinha completado 18 anos. Nas mãos de Vargas Vilaça começava o meu purgatório de muito entusiasmo, nutrido desde os 11 anos de idade de sonhos jornalísticos.
Aí aprendi as primeiras letras de reportagens, visitando pronto-socorro, hospitais, delegacias de polícia, prisões; entrevistando personagens importantes e, principalmente, bandidos de PHD de altíssimas prateleiras de cima. Mas o assunto de hoje é simplesmente como e por que o jornalismo mudou de lá para cá — década de 1960 anos 2020.
ANTIGAMENTE ERA ASSIM
No jornalismo, “lead” é a abertura de uma notícia, que deve conter as informações principais sobre o fato a ser narrado. O lead deve responder às perguntas fundamentais do jornalismo: quem, o que, quando, onde, como e por quê. Tem a função de despertar o interesse do leitor para que continue a ler o texto. Preparar uma atmosfera para o desenvolvimento da leitura,
“O ‘lead’ é um dos maiores cuidados do jornalista. É importante que o jornalista conheça e pratique diversos formatos para entender como fazer um bom lead jornalístico”. Foram mais ou menos essas as primeiras palavras sobre o tema passadas a mim pelo meu amigo desde meu tempo de Guanhães até o Diário de Minas. Ele, brilhante cronista, escritor e jornalista Márcio Rubens Prado, falecido em 2014, a quem fiquei devendo até os sanduíches dos fechamentos de edições lá pelas noites adentro.
O detalhamento do lead vem a seguir. Normalmente, são respostas às questões que, naturalmente, o leitor deseja obter. No caso do desastre de avião, os nomes das vítimas, as causas do acidente, as consequências e outros detalhes. O exigente leitor deseja saber de tudo se o assunto também lhe interessa.
HOJE É ASSIM…
O jornalismo virou ao avesso na questão do lead digital. Isso é o resultado do aparecimento da internet, que puxou milhares de fontes, sites, agentes de informação, principalmente. Por uma questão de interesse de se obter pontos para matérias mais lidas, o jornalista atual é levado a deixar o internauta às vezes a ver navios. Como dizem nas redações, primeiro ele “enche linguiça” e vai “cozinhando o galo” até deixar cansado o leitor.
O objetivo é segurar a informação que seria o lead no caso da época antiga, empurrando-a para o fim. E tem ainda outro jogo de empurra: o pobre internauta se perde nos respingos de um computador ou celular, as publicidades cercam até o raciocínio de quem tem até o coração batendo para chegar à conclusão.
Isso tudo quando não vem a famosa fake news ou até mesmo uma meia fake, quando o informante usa estratégias para justificar algum suspense ou mesmo uma mentira deslavada.
Assim, nem parece que houve melhora na informação ou na imprensa. Antigamente, chegava-se a uma conclusão sobre o noticiário e fim de papo. Hoje, noticiam até a morte de quem nem está em estado pré-agônico. Como exemplo, Hebe Camargo e Silvio Santos já morreram várias vezes, de acordo com os desrespeitos da internet.
José Sana
12/03/2025
Imagens: rede