By Um exemplo bem simples da ameaça que nos ronda e deveria servir para, pelo menos, reflexão: na pandemia do Coronavírus que acontecem recentemente, a Justiça fechou a mineração em Itabira por 15 dias diante da calamidade que devastava a cidade. Quinze dias sem arrecadar impostos serviram para deixar o prefeito com pulgas do tamanho de elefantes nas orelhas. Os milhões que entram diariamente nos cofres municipais nem pingaram mais. Isto é uma novidade secular. Um aviso e uma certeza avassaladora: a burrice grassa no contexto local. E estarrece.
E, então, quando, ao invés de 15 dias, vierem 15 meses, 15 anos, ou mais? Onde tirar 480 milhões de reais por ano para pagar os funcionários? Como contribuir com os aposentados e pensionistas pela ItabiraPrev? Não entendo o porquê funcionários, aposentados e pensionistas municipais não começaram sequer a discutir a questão e a procurar a resposta para seguinte questão: como arrancar dinheiro no itabirito duro?
Nunca fui contribuinte nem beneficiário da ItabiraPrev. E você, que tem todo mês 2, 5, 10 , 20, 30, 40 mil mensais molhando a sua conta, o que vai arrumar sem a complementação pontual? Quem se preocupa sou somente eu? Levanto-me da cama, leio, converso, faço pesquisa, peço informações, escrevo, descanso, recolho-me e começo a ter pesadelos com o porvir. Falo com meia dúzia de beneficiários que encolhe os ombros. O que considero o mais conhecedor do assunto, especialista mesmo, argumenta assim: “Não sei!”
Quando Nero teria ordenado seus soldados a incendiar Roma, o objetivo dele simbolizava dois focos: ou destruir a parte que não o agradava, ou atacar os já perseguidos cristãos. Chamo a atenção para o seguinte: conhecido como imperador tirano e autoritário, Nero ascendeu ao poder em Roma ainda jovem e foi a causa de conspirações as mais complicadas. E nem se souberam os motivos porque, na época, Roma vivia em plena prosperidade.
Incomoda os conscientes o seguinte: hoje Itabira vive a mais contagiante e inimaginável abastança. O município arrecada R$ 1 bilhão por ano, R$ 4 bilhões por quatro anos. A comunidade se sente de barriga cheia, satisfeita, bate na pança e pensa assim: só tenho que comemorar, ir para a praça e rebolar, porque estamos no verdadeiro céu.
Durante esse tempo de fartura, a Cigarra só canta, passeia, dança, enfia-se em eventos que parecem cultura e turismo. Enquanto isso, a Formiga trabalha com admirável seriedade, guardando proventos para o futuro que vem aí. Qualquer pé-rapado sabe que faltará alimentos à Cigarra cantadora, mas a miséria passará distante da trabalhadora Formiga. Ou ela racha fora.
Dizem que o autor da fábula inteligente chamava-se Esopo, um escritor da Grécia Antiga, escrita por de la Fontaine. As narrativas sobre Nero, no ano 64 d.C., são de historiadores. Eu, que estou do outro lado da rua vendo acontecer, pergunto: será que o intelectual do passado pensava em Itabira, quando ela viveu e agora vive o tempo ilusório da cantiga e do rebolado? E os historiadores já sabiam que, como Roma, Itabira seria incendiada irremediavelmente?
Tudo parece que ouvimos e vimos a fábula e a história, mas estamos, sabe como? De braços cruzados, somente construindo pracinhas, pintando meios-fios, jogando o lixo debaixo do tapete e bebendo água suja e rara. Em 2041, se vivos estivermos, teremos o líquido em abundância e poucos cidadãos para dele usufruírem. Nero já se foi para outras abundâncias e será, desta vez, enforcado como um ladrão de cavalo. As fazendas pagarão meia-compensação. Não existe almoço de graça.
José Sana
Em 18/11/2030
Imagens: redes sociais
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