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Esses dias eu estava pensando: quantos guarda-chuvas eu perdi na vida? Seria legal se pudéssemos auditar nossas vidas. Fazer uma prestação de contas dos guarda-chuvas perdidos. Será que no dia do juízo isso me será dito? Imagino uns 190. Não sei ao certo.

Fones de ouvido desses pequenos a mesma coisa. São milhares e milhares que queimaram de um lado e acabaram indo para o lixo. Daria pra fazer uma bolota de um tamanho considerável.

Mas nada se compara à coleção de projetos mortos.

Vc também tem muitos projetos que ficaram pelo caminho?

Eu prefiro agir como os mexicanos. Nada de choro pelos mortos. Só seguir em frente. Mesmo porque alguns projetos a gente recicla e transforma em outra coisa.

Mas tava lembrando aqui…puxando pela memória.

O primeiro projeto de que me lembro foi de um time de futebol. Chamava-se CRG. O Clube de Regatas Girassol.  Jogávamos bola num campinho à beira de um córrego, na verdade o esgoto a céu aberto que corria no fundo dos quintais. É claro que não deu certo. O escudo era um girassol. Coisa de frosô. Não ia dar certo.

Depois montamos um grupo de música chamado OS INVASORES. Passava um seriado na TV famoso com esse nome. Sugeriram de colocarmos INVASORES 2001 pra nos projetar no futuro. O ano de 2001 era o máximo. Eu sempre sonhei em passar dos 2000 pra contrariar aquela máxima: mil passará…dois mil não chegará, muito dita pelos profetas do apocalipse eterno.

Mas como éramos muito convidados para animar churrascos, nos apelidaram de Invasores de Churrasco…e ficamos contrariados com o nome. E montamos depois o Grupo Verde Terra (esse já deu certo e com ele conquistamos muitos festivais, inclusive em Itabira, João Monlevade, etc).

Depois transferi-me para BH e resolvi montar uma banda de ROCK. Escolher nomes é sempre uma confusão. Apareceram idéias muito malucas. Estávamos quase nos decidindo pelo nome TRIANGULO CIRCULAR. Mas alguém sugeriu que déssemos o nome de REPÚBLICA DOS ANJOS, que era o nome da República em que eu residia. E nesse caso deu certo, até chegar ao seu fim também. Quer dizer, fim das atividades oficiais, pois gravamos um CD que toca bem até hoje pelo mundo afora. E nos dias de hoje, a nuvem é um espécie de formol digital. Nada morre. Fica tudo lá na nuvona pronta pra gente acessar.

Mas aí vem a sequencia de projetos que não deram certo. Alguns por questões muito curiosas. Tentei fazer um festival chamado DEMOCRATION. Trabalhei bastante pelo projeto, procurei captar, corri atrás mas não consegui nenhuma adesão. Ai tomei coragem de perguntar a um patrocinador que me explicou o seguinte: – Olha Martino. Eu não vou patrocinar um projeto que começa com o DEMO. Eu sou cristão. Não pega bem. Eu pensei comigo: What? Minha nossa! Mas sempre me vem à cabeça aquela máxima: o significado da comunicação não é o que vc expressa, mas o que se percebe. O certo é que não foi pra frente mesmo.

Tentei fazer também O FESTIVAL QUALIDADE SERTANEJA, procurei vários patrocinadores em potencial e nenhum retorno. Eu conclamava o pessoal a tentar depurar um pouco de qualidade, boas letras, belas melodias, a música raiz, enfim. Adesão zero. O Consumidor do estilo sertanejo está pouco se lixando pra qualidade. A turma parece satisfeita com o sertanejo universitário produzido em escala industrial. Essa vontade de depurar a qualidade não encontrou ecos. Tudo muito fisiológico.

Tentei também junto com o amigo DINDÃO retomar o ROCK PIRA, um festival incrível realizado na década de 80. Mas ouvimos de um prefeito que rock não atrai mais atenção e não traz voto nem público. O rock virou música de véi e muitos não perceberam. Não colou.

Festivais de música eu já fiz uns 40. Mas muitos não deram certo. Ficaram só no papel ou na conversa. Eu ouvi de um secretário de governo há pouco tempo que festival não dá voto e não enche barriga. Ele disse: –  não vou pegar um dinheiro que poderia fazer mata-burro ou quebra mola pra dar pra maconheiro vagabundo. Pasmem: é assim que pensam alguns “pulíticos”.

Comecei a trabalhar em um livro, mas tive de dar um stop, pois um investidor pulou fora no meio do caminho. Mas já estou retomando e vai rolar. Tem isso também…a gente ressuscita alguns projetos mortos, recicla e segue em frente.

Meu mais recente fracasso foi uma série que iniciei chamada PRA ONDE VAI A MÚSICA. Cheguei a escrever aqui mesmo no NOTÍCIA SECA à respeito. E já matei o projeto por uma razão muito simples: as pessoas não querem falar sobre o assunto. Eu procurei diversas pessoas, artistas e produtores e apenas um amigo gravou. Quando a gente não tá pagando, não dá pra cobrar das pessoas né? Ai vem aquela frase do Leminski que os Titãs musicaram: SÓ QUERO SABER DO QUE PODE DAR CERTO…Então, quando a gente percebe que algo não vai colar, preferível não ficar sofrendo e deletar rápido. Além do mais, percebi que já tem gente fazendo programas similares com muita competência e condições técnicas muito melhores.

No momento estou escrevendo para alguns jornais e blogs, desenvolvendo um projeto voltado para a BR 381, uns 4 projetos musicais, documentários,  livros, trabalhando com publicidade,  lançando na área e cabeceando.

Descansar? Terei muito tempo depois da vida …

Marcos Martino
Marcos Martino é alvinopolitano, compositor, cantor, produtor musical, articulista, ex-assessor de Comunicação da Prefeitura e ex-presidente da Casa da Cultura de João Monlevade.

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