A Vale, que se prepara a toda pressa para deixar a terra em que nasceu e às custas de que ficou poderosa, falha muito em seus projetos e ações. Vejam, por exemplo o caso da Vila Paciência, em Itabira: saturada de reclamações sobre as atividades minerárias quase ao lado ou um pouco acima da conhecida Vila Paciência (também denominada Vila México), resolveu adquirir terrenos na área.
Era determinação da empresa adquirir todos os terrenos da área de cima da Avenida France de Paula Andrade para aliviar as famílias de detonações que denominaram terremoto, além do rangido dos trens.
Mas acabou interrompendo o processo sem explicar o porquê da paralisação das negociações de casas e terrenos. Sobraram na área, segundo moradores da Vila, apenas 50% , um mistério não revelado. “A Vila ficou meio banguela”, comparou um morador que não conseguiu vender a sua casa à mineradora.
UMA LAGOA NO MEIO DO CAMINHO
Um dos terrenos adquiridos transformou-se em lagoa. Muitos pensavam ser mais uma represa das 15 que estão sendo secadas em Itabira para comemoração da despedida da mineradora. Foi pior, virou uma lagoa de estrumes, ou daquilo que os bravos falam com outros: “Vai à m…! E ninguém vai.
Quem foi não era outro senão o nosso repórter, que voltou cheirando aquele negócio e teve que tomar um banho reparador, de bucha de espiga de milho. Deixou, na sua visita ao local, a visão de um aglomerado verde da natureza deteriorada e espuma desagradável, que fotografou. Mau cheiro, carregando as espécies mais conhecidas de mosquitos que transmitem doenças virais como o Aedes e o Anopheles. Lembran-se de Zika, Dengue, Chikungunya e Febre Amarela? Prefeitura e Vale, ambas seriam rés se houvesse um processo jurídico. Mas que o Ministério Público deveria entrar nesta nem se questiona.
DA PACIÊNCIA À RESISTÊNCIA
Um nome bem se encaixou na área da Vila México, no tempo em que a paz era mais frequente, somente os trens incomodavam e o povo estava de certa forma se acostumando. A mineração reduziu suas ações no Cauê e daí tudo se acomodou. Mas as denotações foram se intensificando até que surgiu uma defesa decisiva a favor dos moradores, um livro retratando uma pesquisa científica da professora e mestsre Maria do Rosário, Zara.
A autora tem graduação em Ciências Exatas/Matemática; especialização em Ciência do Ambiente e Biologia Geral e mestrado em Geografia e Organização Humana do Espaço de Mineração (SOUZA, Maria do Rosário Guimarães de. “Da Paciência à Resistência: Conflitos entre Atores sociais, Espaço Urbano e Espaço de Mineração”, São Paulo/SP): Editora Hucitec, 2008, 326 p).
Esta citação será repetida: mais uma falta de sensibilidade de governos que dizem dar valor a pessoas e nem tomam o cuidado de entender. Uma demagogia bem marcante tratam desta forma: “Itabira investe em pessoas”. Investe doenças? Chega de enganação!
LEIA MAIS SOBRE O LIVRO DE ZARA
Da Paciência à Resistência convida o leitor a uma reflexão sobre os conflitos entre atores sociais, espaço urbano, e espaço de mineração. Mostra que paciência e resistência são dois lados de vários conflitos frequentes, atuais e cosmopolitas.
O estudo realizado por Maria do Rosário Guimarães de Souza enfoca o processo de produção do espaço urbano de Itabira a partir da presença da Vale na cidade. Analisa a constituição e o papel dos atores e movimentos sociais em torno dos conflitos que ocorrem entre a mineradora e moradores, em Itabira.
O conteúdo desse livro traz uma contribuição para que as populações atingidas por efeitos negativos da mineração ou de outras atividades econômicas, reflitam, organizem-se, fortaleçam-se e se mobilizem concretamente como sujeitos políticos em torno de seus direitos e alerta as empresas quanto à necessidade de se repensar sua prática em relação ao uso e a ocupação racional e sustentável de espaços com riquezas minerais contíguos a sítios urbanos.
José Sana
Em 10/07/2023
Fotos: Arquivo e Francisco Carlos