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Quando lecionei em algumas escolas da região História e Letras, um grupo de alunos inteligentes foi escolhido para um trabalho de interpretação de texto. O desafio foi transformado em fábula. Seis membros da equipe denominada “A Cigarra e a Formiga” fizeram a apresentação, lida numa espécie de jogral pela equipe. Vamos à quimera…

 

“Durante o verão, a Cigarra quer aproveitar o tempo bom e passa os dias cantando. Enquanto isso, a Formiga trabalha de forma diligente, reunindo alimentos para sobreviver no inverno.

Ocorre um diálogo entre ambos os insetos algum tempo depois.

Cigarra — Formiguinha querida, você sempre foi e é uma criaturinha de Deus muito bondosa. Eu lhe pergunto: poderia partilhar a comida com a sua comadre adorada?

Formiga — Infelizmente, não posso atender a essas súplicas que parecem humildes e não passam de jogo enganador, daqueles próprios de inseto irresponsável…

Cigarra — Não concordo com o seu argumento, e creio na sua bondade.

Formiga — O que é você fez durante todo o verão?

Cigarra — Durante o verão eu cantei.

Formiga — Muito bem, pois agora dance!”

Moral da história: trabalhemos para nos livrarmos do suplício da Cigarra, e não aturarmos a zombaria da Formiga”.

UMA FÁBULA REAL

 

Os anos passam, ingresso-me na antiga Companhia Vale do Rio Doce. No primeiro dia de trabalho tivemos uma palestra sobre o futuro. O palestrante diz: “As administrações públicas de Itabira de há muito deveriam trabalhar para a independência do município porque o minério não dá duas safras”. Gravo aquelas palavras.

 

No fim da reunião, assentei-me com um dos participantes. Ele me pediu para construir um texto sobre a fábula que foi proposta em sala de aula. Não vacilei. Cheguei à minha casa e dedilhei no computador o seguinte texto:

“Estamos no ano de 2041, um prazo até dilatado para se trabalhar. Aí ocorre um diálogo entre a Vale e Itabira. Confiram:

Itabira — Vale querida, você sempre foi e é uma criatura de Deus, muito bondosa. Eu lhe pergunto: poderia partilhar o que tem com a sua comadre adorada?

Vale — Infelizmente, não posso atender as suas súplicas que parecem humildes e não passam de jogo demagógico, daqueles próprios de políticos enganadores..

Itabira — Não concordo com o seu argumento porque a senhora levou toda a nossa riqueza e não repôs como deveria…

Vale — O que você fez durante mais de 80 anos?

Itabira — Em 80 anos, primeiro estudei, depois me enganei e agora, desde 2021, quando estava ainda mais visível o fim, fiz o seguinte: esperei, fiz discursos, pintei meios-fios, promovi festas (porque o povo todo gosta é disso) e cantei, até rebolei.

Vale — Muito bem, pois agora dance. Porque você não tem sequer responsabilidade, você é a rainha das obrinhas. Dance e rebole!”

Moral da história: vocês têm reparado que Itabira parou no tempo? O que vamos comer no futuro? Teremos pracinhas bonitas, aprendemos a dançar bem, rebolar e chorar… Teremos pracinhas desocupadas, casas fechadas, lojas idem, poucos irão às escolas, ah… a cidade toda vai desaparecer. Daqui a 18 anos vamos fazer o quê?

José Sana

Em 15/07/2023

NOTA  AO PÉ DA PÁGINA

Se houver a necessidade de apresentar o trabalho que ofereci a Itabira como vereador, presidente da Câmara Municipal e editor de imprensa, estou à disposição

NS
José Sana, jornalista, historiador, graduado em Letras, nasceu em São Sebastião do Rio Preto, reside em Itabira desde 1966.

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