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A LOIRA DO PARENTE

Conto de Marconi Assis Ferreira Serafim (in memoriam); pequena adaptação autorizada

Itabira ainda vivia a sombra da montanha de ferro, os anos eram fins da década de 60 e início de 70. Gente de todas as partes do Brasil aqui chegava à procura de dias melhores.

Era um momento ímpar na história da cidade, culturas diferentes e novos costumes foram trazidos nas bagagens daquela nova gente. Algumas famílias assustadas com todo aquele movimento, resolveram mudar para Belo Horizonte. A cidade, antes pacata, experimentava naquele momento uma vida noturna agitada.

Os clubes tradicionais, como Atlético Itabirano e Valeriodoce, promoviam seus bailes, os quais eram frequentados apenas pelos associados. No Clube Atlético Itabirano a elite predominava. O Valeriodoce disponibilizava três salas de baile, Sedinha do Explosivo, do Campestre e a antiga sedinha do bairro Pará.

Doutores, chefes e peões frequentavam os locais. Era explícita a divisão de classe. Afinal, o clube era mantido pela mineradora. Os principais bares da época eram Columbia, Lunik, Botafogo, Olintão e Mundico. O famoso bar do Mundico, localizado próximo à ponte da Rua de Baixo, era o mais frequentado por servir uma saborosa comida.

Nos anos 70, novos bares foram surgindo: Barricão, Cequissabe, Balaião, Fuji , Potoca, Nilo e Mirante . Havia também parte de uma rua que era denominada baixo meretrício. Local conhecido como água “espaiada”, “girola”, fonte da pedra, senta e deita, largo da madame ou ponto de briga.

Na Avenida Martins da Costa próximo o castelinho, em um sobrado, funcionava um bar denominado Parente, onde todos os finais de semana era realizado bailes. A casa ficava sempre lotada.

Era opção para os não sócios dos clubes e aqueles que não ousavam frequentar o baixo meretrício. As pessoas que ali frequentavam relatam o seguinte episódio:

“Em certa noite, foi notada a presença de uma bela mulher, trajando um vestido negro com um xale branco com detalhes em vermelho, trazendo nas mãos uma bolsa pequena de cor roxa. Os cabelos eram longos e loiros. Muitos perceberam que ela entrou no salão com a cabeça baixa, sem olhar para ninguém.

Assentou-se em uma cadeira próxima a uma mesa, perto da entrada principal. A presença da jovem chamou atenção de vários rapazes ali presentes. O encanto foi geral. Também despertou ciúme na mulherada assídua frequentadora do local.

Certo rapaz encantado pela delicadeza e a beleza da jovem, depois de muita insistência ganhou sua atenção. Fez o convite para dançar. Foi prontamente atendido. Todos os olhares voltaram para aquele belo casal. Assim que o jovem ofereceu as mãos para iniciar a dança, sentiu que a jovem estava totalmente gelada.

Aquilo chamou a sua atenção por alguns minutos, mas na empolgação do momento não relevou aquele fato.
Dançaram algumas músicas sem trocar olhares e conversa. Assim que o relógio do salão tocou 23h45min, a jovem apressou em retirar daquele local. Fez um sinal com a cabeça, apontou para a entrada principal e desceu a escadaria ligeiramente.

O jovem, não entendendo aquela atitude, a seguiu-a à distância pela avenida. No escuro da noite percebeu que ela havia entrado na rua que dá acesso ao Cemitério do Cruzeiro. Continuou seguindo. Assim que a jovem aproximou-se do portão principal do cemitério, desapareceu.

O seu par de dança sentiu novamente um frio intenso e entrou em pânico. Voltou rapidamente para o salão do Parente. Ao entrar lá, todos perceberam que algo de errado havia acontecido com aquele jovem. Assustado relatou o fato com os amigos.

Muitos não acreditaram na história, outros sim. O jovem voltou para casa, tenso e perturbado com o acontecido. Foi uma noite terrível. Não conseguia pregar os olhos. Para complicar, uma coruja cantou durante toda a noite na laranjeira do quintal de sua residência.

Aquilo o deixou ainda mais apavorado. Não teve forças para trabalhar naquela manhã. Estava confuso. Resolveu levantar e procurar algumas pessoas que residem nas imediações do cemitério para obter algumas informações. Deu detalhes precisos da característica da tal mulher. As poucas pessoas que residem nas proximidades da necrópole não sabiam quem seria, jamais teriam visto a tal donzela.

O jovem resolveu entrar no cemitério, entendendo que a paz do local poderia contribuir para um ordenamento em sua mente. Ajoelhou-se diante da cruz principal, clamou Deus em voz alta, o que fez acordar o coveiro que dormia entre os túmulos curando uma ressaca da noite anterior.

Em seguida parou diante do jazigo de seus familiares, rezou uma dezena de Ave-Maria.Aquilo acalentou um pouco a sua alma. Naquele instante, algo o chamou a atenção. Ao lado do jazigo de sua família, havia uma sepultura abandonada, e os números estampados na cruz ali colocada, datavam um falecimento em 10-01-1945. Era um sepulcro de uma mulher.

Aos pés da cruz encontrava-se um oratório corroído pelo tempo. Em seu interior, podia observar uma fotografia amarelada, empoeirada de partículas de minério. Não conteve a curiosidade, quis observar de perto de quem seria aquele retrato. Soprou a poeira, e um rosto apareceu nitidamente. Para seu desespero e susto, o rosto era da bela mulher com quem ele dançou na noite anterior, no salão do Parente. Desfalecido, caiu por terra. O coveiro imediatamente chamou o carcereiro que fazia plantão na cadeia pública ao lado e o encaminhou para Hospital Nossa Senhora das Dores.

O jovem ficou algum tempo em estado de choque”. O acontecido ficou registrado na história de Itabira como o caso da Loira do Parente.

ADVERTÊNCIA

Até o presente momento (4 de agosto) não é do conhecimento público o porquê estejam ocorrendo novos aparecimentos da Loira do Parente, os quais agitaram Itabira nas décadas de 1960/70.

Da Redação
Foto: Redes sociais

NS
José Sana, jornalista, historiador, graduado em Letras, nasceu em São Sebastião do Rio Preto, reside em Itabira desde 1966.

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