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Quem diria? Conheci mais Harcy Lage, seu pai, do que ele, o chefe do executivo de Itabira atualmente. Aparentemente, o mais novo consome chá de erva doce; o velho, um copo de sal de Glauber com bicabornato. Repito: nas aparências. Engano?

Harcy sabia  receber visitas na histórica Fazenda da Dona, em Ipoema. Marco também sabe no seu recôndito chamado Boitempo. Ambos polidos, gentlemans, pai e filho, personagens de notável poder carismático. Somente agora estou concluindo, na minha mente saturada de informações, atenta ao dia a dia político, que Marco é, negando ou não, uma bomba relógio pronta para explodir. Novo engano?

Diz a boca pequena que o Lage do momento não tinha e não tem nem um pingo da paciência do Jó bíblico, mas transparece. Talvez tenha me enganado e torço por esse estado mental dele: seria um artista, então. Há algo misterioso escondido naquela cabeça bipolar?

Harcy, mais vivido, Marco mais viajado. Qual seria o melhor para Itabira em 2024? Pelo que estou sentindo, de onde está, acredito que no Céu, hoje Harcy daria um pito no filho: “Oh menino, não aceite ordens de ninguém, nem de mulheres, nem de assessores, seja você, o Lage legitimo. Você pode, sozinho e delegando poderes, governar a nossa cidade!” Risque do seu plano de gestor este termo, que está fora de campo dos bons gestores: centralização.

Eu era vereador e presenciei, ao vivo e a cores, o nome Harcy Lage sendo malhado e metralhado na Câmara Municipal. Repetiam-se, semanalmente, ataques ao mesmo personagem. Alheio aos motivos, resolvi questionar: “Quem é esse  tal de Harcy Lage tanto falado, tanto lembrado?” A resposta chegou simples e curta: fazendeiro em Ipoema, político influente. A revelação parecia expor um segredo como do aparecimento de santos e passei a considerar Harcy forte  candidato à canonização.

Prosseguindo o contraponto e reafirmando que conheci muito mais o pai que o filho, com Marco o tempo foi breve, uma campanha eleitoral, encontros profissionais. Começaram na  Fiat/Betim e  tiveram sequência na  Fazenda Boitempo. Agendado, fui a ele, que exercia a função de diretor de Comunicação Corporativa.  Pretendia obter uma espécie  de parceria  da Fiat com a revista DeFato. Ele me recebeu com simpatia, mas parecia estar com uma tesoura na mão para cortar a minha pretensão. Não desisti e marcamos para a Fazenda Boitempo, levei nova proposta. Novamente  reprovada, antes de ser degustada uma bendita jarra de  suco de laranja e biscoitos. Desisti.

As solicitações encaminhadas e negadas não influenciaram em minhas ideias e sonhos a respeito de Itabira.  Sendo aquele moço que correu o mundo, que representou a Fiat em vários países dele Itabira merecia bons serviços.

Deixei claro nas páginas da revista, em várias matérias e em entrevistas, que ele seria um bom prefeito da terra natal. Renderam as citações  apelos de outros amigos que trouxeram nomes a tiracolo. E também inimigos declarados e irreversíveis. Ele, candidato a prefeito. Venceu.

Agora retorno ao termo estopim mais curto que esteve e está na Prefeitura de Itabira. Marco começou mal o governo em relacionamentos. Colocou em prática uma filosofia vinda não sei de qual  inspiração. A regra por função delimitada nas constituições Estadual e Federal, além da Lei Orgânica Municipal é o Legislativo fiscalizar o Executivo e não o inverso.

De repente, os papeis se inverteram, depois teve de virar chumbos trocados, azedou o relacionamento. Marco Antônio tornou-se um Tom Mix ou Burt Lancaster dos filmes faroeste e começou a usar uma arma giratória, mirando em todas as direções. Além do atirador tenaz, outros pistoleiros ajudam a pistolagem. A maior luta do Poder Legislativo é a busca da valorização. E logo esse propósito recebe tiros, facadas, bombas, mísseis.

Marco quer governar sem os vereadores? Impossível.

Marco tem ouvido pessoas desentendidas de política e Itabira é ou não um caso sui generis? Inconcebível ludibriar essa gente.

Marco é acusado de permitir algum suposto conluio de milhões entre parentes? Por que não se oferece, vá  à Câmara e rasgue o verbo? Quem não deve não teme, nem treme!

Marco não tem vereador líder na Câmara? Será consequência do estopim curto?

O que ocorreu com a vereadora Rose Félix para bom entendedor não foi um escândalo? E acha normal? Se a representante do povo, uma mulher, negra, autora do  projeto motivador da reunião, sair por aí somente vista, entendida, pode provocar um furor inimaginável e até destruir um governo para sempre. Não acordou?

Há contas a acertar: cadê a água do Rio Tanque? Cadê a obra da Unifei? Cadê o metrô? Cadê o aeroporto industrial? Cadê o ‘porto seco’? Como explicar dois bilhões gastos apenas em obras feijão com arroz? Cadê a garantia de que “meu partido político é Itabira?”

E cadê a busca pelo futuro?

Primeiro: que tipo de planejamento estratégico existe com a Vale e ninguém pode saber? Não é um blá-blá-blá? A fúria do prefeito não se explicita somente em socos na mesa — e acredito que não foram desferidos — mas em todas essas manifestações expostas, ou algumas mais. Até em ficar xeretando o presidente da República. E olhe que o MST tem visitado terras no perímetro urbano de Itabira. O povo quer saber: o senhor sabe disso? Pois nós sabemos, temos fotos, vídeos e presença descarada para os que estimam a garantia constitucional.

Estas palavras não são de Jesus Cristo, mas de  Marco Antônio Lage: “Nunca decepcionarei quem crê em mim”. Mas disse que o apoio dele a Lula é pessoal e coerente. Tem como explicar tamanha incoerência?

Não sou um decepcionado, milhares o são. Mas não me apresentei como um bajulador. Está em jogo o que quero para Itabira, futuro garantido. Itabira continua na contramão e deste projeto de vê-la independente não vou desistir. Jamais! Abri o coração. Agora estou livre. Mais ainda.

José Sana

14/04/2023

Fotos: Redes Sociais

NS
José Sana, jornalista, historiador, graduado em Letras, nasceu em São Sebastião do Rio Preto, reside em Itabira desde 1966.

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