Para início de conversa, o contato com a região e a resposta: começando por João Monlevade que já tem um projeto programado para ser implementado em breve: serviço de atendimento aos afetados pelo Coronavírus. Em seguida, a procura em outras cidades que já tenham atendimento completo ao recuperado da Covid-19: ainda não foi descoberto tal como o existente em Itabira desde março deste ano.
Na Europa, este site tem uma colunista, médica, brasileira, natural de Guanhães/MG, residente na Áustria, com doutorado na Suíça e Alemanha. Dra. Vanêssa Lúcia de Moura Sieber respondeu às perguntas com respostas firmes:
“Sim, aqui também têm essas comissões nos hospitais que são referência para Covid. Itabira contar com esse tratamento é muito correto, sensato e avançado. Áustria, Suíça e Alemanha, países escandinavos, todos têm; Covid-19 é uma doença de longas consequências e precisa ter-se cuidado com ela”.
A conclusão tem muito aspecto de pioneirismo brasileiro. Pelo menos vidas já foram salvas. E muitas. Além de caminhos abertos que o leitor poderá entender agora.
Personagem: médico, nefrologista, intensivista e vice-prefeito de itabira
Então, vamos abordar Itabira, nossa presente tarefa. A cidade vem, sem alarde, curando pessoas num trabalho silencioso, usando duas forças: o Hospital Nossa Senhora das Dores e a equipe de Dr. Marco Antônio Gomes. O hospital existe desde 17 de novembro de 1854, fundado pela Irmandade Nossa Senhora das Dores; o médico, que lidera um grupo de profissionais sintonizados com a sua filosofia, é nascido em Estância, Sergipe, tem 64 anos de idade, mais de 30 residente em Itabira, trazido pelo saudoso José Cesário Martins Carneiro. Casado com Francisca Gomes, seu braço direito, tem três filhos, todos médicos, e um casal de netos. A equipe atua há três meses.
Para ilustrar, o personagem é pastor da Igreja Batista Central de Itabira, onde exerce função de liderança.
A entrevista a seguir vai mostrar, também, a função de cada um dos componentes do grupo — o coordenador, que é Dr. Marco Antônio, três psicólogas, uma nutricionista, um fisioterapeuta, um serviço social e uma fonoaudióloga — exatamente oito, todos atendentes fixos do “Valente da Saúde”, o hospital regional de Itabira. Destemido pelas suas determinadas ações no atendimento a Itabira e mais dezenas de municípios da região.
É preciso adiantar e que todos entendam o seguinte: o médico Marco Antônio Gomes é vice-prefeito, ocupa cargo político, embora sem atividade obrigatória. Foi combinado, antes, que o tema política não seria abordado neste diálogo. Apenas saúde, o tratamento pós-Covid, que é destaque, mesmo sem ser propagandeado.
Sem levantar polêmica, esta entrevista pode ser uma espécie de manual de orientação, uma mini-cartilha. Porque conhecimento é muito de que as pessoas necessitam, o coordenador da Comissão Pós-Covid fala nisto a seguir.
Em tempo, a entrevista ocorreu no gabinete dele, vice-prefeito, na sede da Prefeitura de Itabira, tarde-noite de sexta-feira, 18 de junho de 2021.
“ O Nossa Senhora das Dores é um hospital que atende não só Itabira, mas também a região. Atende não só a Covid. Não apenas os casos simples, mas também os casos mais complicados”
— Criamos, há três meses, a Comissão Pós-Covid, que funciona a toda velocidade. Começamos a discutir as complicações após o tratamento do vírus no hospital. A equipe que criamos é constituída de um médico, fisioterapeuta, nutricionista, psicólogas, serviço social e fonoaudióloga. Todos de Itabira. Conseguimos aglutinar. Por que essa preocupação? Porque chefio uma UTI pós-Covid. Então, vi que vinha recebendo as principais complicações após 15, 20 dias de doença. Recebo pacientes que estão saindo de uma ventilação mecânica, insuficiência respiratória. Esse é um paciente que não consegue andar, que tem dificuldade de deglutição, que usa sonda e que vai para a UTI. Paciente que não consegue dormir, deprimido, com medo da morte. Esse é o perfil que temos recebido. Nestes casos, a Covid deles foi grave…
— O Nossa Senhora das Dores é um hospital que atende não só Itabira, mas também a região. Atende não só a Covid. Não apenas os casos simples, mas também os casos mais complicados. Por exemplo: sabemos, hoje, que 5% desses pacientes com Covid vão para a UTI. E desses 5%, mais de 80% vão por causa de insuficiência respiratória. Se não for por insuficiência respiratória, vão por insuficiência renal. E hoje a unidade de terapia intensiva do HNSD está preparada para receber esses pacientes. Nós temos unidades, hoje, com muita experiência em terapia renal substitutiva, que é a hemodiálise. Conclusão: esses pacientes, que são complicados, merecem ser acompanhados no pós-Covid.
“Esta semana a fisioterapeuta me disse:
“Coloquei o rapaz para andar”
— Saindo da UTI, o paciente passa por mim, automaticamente. Ele entra na UTI 2 e sai, após 15 a 20 dias; eles abrem uma vaga onde têm Covid, este não contamina mais, e não vai mais infectar outras pessoas. E passa para UTI 1, onde vamos acompanhá-lo até a alta. O importante não é a alta da UTI. É a alta hospitalar, porque a gente nota, observa, que esses pacientes saem da UTI e muitas vezes sem conseguirem andar.
— Teve um caso de um rapaz novo que falou para a esposa: “Não consigo andar”. Ele teve atrofia muscular, perdeu o jogo das pernas. Ele não está mais na UTI, agora na enfermaria. Esta semana a fisioterapeuta me disse: “Coloquei o rapaz para andar”. Então, a gente já consegue trabalhar com ele. Só vai ser liberado quando estiver andando com firmeza, não adianta mandar para casa, porque não vai ter o apoio lá fora. A dificuldade que enfrentamos como governantes é colocar a máquina da saúde para funcionar como deve.
— Falo sempre para a minha equipe que nós não olhamos nem paciente do SUS, nem plano de saúde. Olhamos o doente. A entidade pode até olhar, mas o médico e a equipe não podem. Enquanto ele estiver no hospital, vai ter o mesmo atendimento do convênio SUS. A alta são outros quinhentos e, infelizmente, isso é observado mesmo. Aquele que tem plano de saúde, tem acesso mais fácil à fisioterapeuta, fonoaudióloga, psicólogo. Aquele que é do SUS, tem mais dificuldade. Para a comissão, todos são iguais.
“Acho que a mídia tem que explicar melhor, dar segurança a todos, mas a maioria está é traumatizando, adoecendo as pessoas”
— Tivemos, nesta semana, a felicidade de abrir um convênio com a Funcesi na parte de fisioterapia. Eles aceitaram o nosso encaminhamento. São pacientes nossos, do SUS, pós-Covid. Isso para nós é uma vitória. Outra é o Caps. São pacientes que agem da mesma forma: pós-trauma, pós-estresse. O medo, a preocupação de ter novamente essa nova cepa, tudo isso tem levado os pacientes a ficarem tensos.
— A desconfiança da vacina também. Dar seguimento e tomar a segunda dose, sim. Então, o efeito psicológico é violento nos pacientes. Acho que a mídia tem que explicar melhor, dar segurança a todos, mas a maioria está traumatizando, adoecendo as pessoas.
— Temos hoje na equipe que acompanha, por exemplo, a psicóloga. Ela passa diariamente dentro das UTIs. Temos psicólogo que passa nas enfermarias. Quando o médico, meu colega, solicita avaliação de um dos membros da equipe, que seja fonoaudióloga, que seja psicólogo, que seja fisioterapeuta, serviço social, somos acionados. Aí, entramos, e hoje sabemos muito bem que o grande problema nosso é o pós-alta. Por que coloquei o serviço social na equipe? Porque os pacientes são lesados na questão muito importante na nossa vida, o efeito cognitivo. Eles esquecem muito fatos que ocorreram no passado ou no presente, muitos perdem a noção de tempo.
“Mesmo que você não tenha ficado internado, você pode ter comprometimento pulmonar e muscular”
— Então você imagina que por detrás de cada paciente tem uma família. Tem um irmão, uma irmã. Vários deles são responsáveis, são pais de família. O que fazer? Eles precisam de um atestado, precisam ser orientados. Muitos ficam com uma preocupação tão grande de perder o emprego, ansiosos, nervosos, dentro da UTI. Muitas vezes não têm condição de alta e ficam pedindo para serem liberados porque estão preocupados com a família e com o trabalho.
— E alimentação que em muitas ocasiões falta às famílias? Aí entra no serviço social, que atende muito bem, que é a Lúcia. É muita coisa. A Lúcia é uma pessoa que já trabalhou na Vale, no Hospital Carlos Chagas. Hoje ela atua no serviço social. A nosso chamado, atende rapidamente.
— Levei uma proposta, numa época para a Secretaria de Saúde, para que a equipe de fisioterapia colocasse em cada PSF o exercício respiratório. Mesmo que você não tenha ficado internado, você pode ter comprometimento pulmonar e muscular. Se você passa os exercícios básicos, evita internação, evita que o paciente procure o Pronto-Socorro. Será que quem mora na periferia vai pagar fisioterapeuta? Não vai.
— Tudo isso que estou falando são ações recentes porque começamos a trabalhar na comissão há três meses. É interessante saber que médicos em Belo Horizonte também tiveram a mesma ideia. Lá eles lançaram a cartilha antes de lançarmos a nossa com este fim.
— Como exemplo da necessidade de informação de que falei, a responsabilidade da mídia, cito o caso do idoso, que faz parte do grupo de risco. Nós observamos que, ao ser internado, perde a prática da mastigação. Ele passa a alimentar por sonda nasoentérica e nós não podemos deixar que esse idoso deixe de se alimentar pela boca. Então, temos um profissional que o treina a se alimentar de novo e ele volta ao normal.
— Temos, sob nossa responsabilidade, uma senhora de 88 anos, internada comigo por insuficiência renal. Depois que se internou, ela perdeu a mastigação, mas já está voltando com a fonoaudióloga. Entre nós há profissionais que podem orientar e é isso que temos feito. Daí, o que disse: a necessidade de informações, inicialmente.
“O Hospital Municipal Carlos Chagas não participa ainda. É um desejo que este conhecimento chegue à Secretaria de Saúde, aos PSFs, ao HMCC e também a região”
— Sim, a criação do grupo foi de minha iniciativa, o hospital assumiu e tem dado todo apoio. Os profissionais que fazem parte da equipe são funcionários do HNSD. O hospital tem muita potência, que doa e tem para doar à comunidade. Nós, médicos, temos muito a fazer pela comunidade também, e agora é o momento. Estamos em uma pandemia. Por exemplo, a desnutrição. O estado de desnutrição causado pela Covid é significativo. Eu perdi oito quilos durante a Covid. Tem gente que perdeu 12. A deficiência neste aspecto é muito grande. Você precisa de um especialista. E nós temos a nutricionista.
— Aí entra uma questão muito importante: você tenta universalizar o conhecimento. Eu falo sempre o seguinte: depois do Iphone, o conhecimento se tornou horizontal. Não existe conhecimento vertical. Tudo o que você quer está aqui neste celular. Você tem de compartilhar conhecimento. Nós estamos abertos.
— O Hospital Municipal Carlos Chagas não participa ainda. É um desejo que este conhecimento chegue à Secretaria de Saúde, aos PSFs, para que possamos atender ao HMCC e também à região.
— Para se ter uma ideia, recebi um paciente de Barão de Cocais. Ele disse que teve Covid e que precisava de orientação. A questão do pós-Covid tem de ser orientada, tem de ser informada. O grande problema que nós temos na parte pulmonar, aquela região de células moles que o vírus destrói. Ela fica “fibrosada”, o pulmão fica fibroso. Fibrose não tem vida, só fibra. Então, quem tem Covid pode ter uma lesão grave, o pulmão fica lesado. E hoje temos outra complicação. São as formações de bolhas que se rompem, por isso precisa ser acompanhado. Nós antecipamos e resolvemos.
— A acupuntura não está dentro da Comissão Pós-Covid. Falo sempre com o doutor Fuad, especialista em acupuntura. Com ele usamos acupuntura dentro da UTI. Alguns pacientes que tiveram fraturas, por exemplo, de costela, a gente falava: “Fuad, ajuda aqui que não sabemos como fazer”. Ele atuava. Acho que é uma alternativa para a comissão, mas não é ainda usada pela equipe. Tudo aquilo que é em prol da melhora do paciente temos de usar. Vamos evoluindo.
— Estamos com essa briga com a medicamentos desconhecidos. Eu sou a favor do tratamento precoce, principalmente quando você não tem uma terapêutica firmada no mundo inteiro desse vírus. Se você acha que algum medicamento melhorou — e como tem melhorado nos meus pacientes! — eu vou deixar de usar? Ah, é off label. Mas nós temos usado várias medicações que são off label. Eu uso, porque a doença renal muitas vezes não tem recurso e você passa a usar certo medicamento para, por exemplo, a reumatologia. É off label. Não está na bula. Uma doença nova que ninguém conhecia, qualquer medicação que possa ser usada é off label. Olhe se na bula da “dipirona” se tem lá tratamento de Covid. Não tem. Estamos em uma briga política e também de vaidade e isso tem de acabar.
“A preocupação maior do médico agora não é com os contaminados, é com os recuperados”
— Desta forma como trabalhamos para nós é trabalho inovador. Vi um boletim elaborado por uma equipe de Belo Horizonte que não é igual ao nosso. A equipe da fisioterapia é mais preocupada com a parte respiratória e muscular, mas lá não tem fonoaudiólogo, não tem psicólogo, não tem nutricionista. Aqui temos uma equipe montada e organizada. Itabira está no topo e agradeço muito aos que divulgam o nome do HNSD.
— A nossa equipe se reúne duas vezes por semana para trocar ideias sobre os pacientes que estamos acompanhando e também discutir literatura que possa melhorar cada vez mais o nosso trabalho. São encontros às terças e quintas-feiras. E sempre tem novidade.
— Existem casos de pessoas que tiveram o vírus há cinco meses e que ainda têm problemas. A gente tem visto “re-internação”, não pela Covid, mas por infecção pulmonar, que acaba voltando, ou até mesmo a sinusite, que é um processo inflamatório dos seios da face. Alguns casos são também de perda de proteína urinária. Com a fibrose pulmonar, o pulmão não consegue expandir como devia e isso acarreta acúmulo de secreção pulmonar, que é infecção, o mesmo que ocorre com o fumante.
— Por falta de conhecimento, a pessoa acaba indo para dentro do hospital. E o conhecimento não é, necessariamente, da área. Por exemplo: o engenheiro tem conhecimento técnico dentro da área dele, mas ele pode ter um conhecimento básico em todos os outros setores. Você é jornalista, mas tem de saber de tudo um pouco. Você precisa preservar sua saúde.
— A preocupação maior do médico agora não é com os contaminados, é com os recuperados. Porque o termômetro que eu vejo da doença é se estamos ou não conseguindo superá-la. Como vejo? Recuperados. Assim conseguimos ver se os medicamentos estão surtindo efeito até aquele momento.
— Temos hoje (18/6) 17.560 recuperados numa população de contaminados de 18.160. Mas temos de prosseguir. Então, vamos fazer de tudo para que mantenhamos a recuperação. Os vacinados também precisam tomar cuidado porque têm outras cepas, muita atenção.
“Propagam, sem nenhuma segurança e responsabilidade, que essa ou aquela vacina faz mal. Isso é inconcebível!”
— Temos um problema sério no HNSD. Temos lá de tudo, como você pode conferir. Mas não temos um jornalista para informar o que o hospital faz, sua luta e seus “milagres”. Isto faz falta, acredito eu. Porque a entidade depende de apoio do povo, é uma casa de saúde da região e o povo precisa receber notícias, informações. E é o setor de comunicação que deveria transmitir o que se passa lá, que merece o apoio de usuários de Itabira e sua vasta região.
— Sentimos e temos tentado resolver grande parte dos problemas. Somos verdadeiros para-raios da Covid-19. Curamos quem não dormia, não mastigava, não andava, quem estava deprimido, tudo efeito da Covid. Enfim, uma imensa listagem de problemas deixados de lado. Então, gostaria de frisar e repetir o que o é muito importante: informar-se convenientemente em fontes seguras para saber procurar quem sabe de nós.
— Citemos o caso da vacina. Propagam, sem nenhuma segurança e responsabilidade, que essa ou aquela vacina faz mal. Isso é inconcebível! Pode haver uma reação, mas nada grave, vacina é anti-corpos. Então, volto a dizer: vacinação, sim, duas doses, sim também. Sabemos que no caso do vírus somos cobaias, vivemos na pandemia criando a nossa literatura para resolver este sério problema. Já existem passos que são seguros. Que cada um procure o caminho certo e seguro é o que desejo.
José Sana/Notícia Seca
Fotos: Notícia Seca/ Itabira Online/ Voz de Itabira/Divulgação
Excelente trabalho humanitário!
Parabéns aos profissionais de saúde comprometidos com a profissão!
Poucos sabem sobre o tratamento pós Covid19.
Aqui em Belo Horizonte, existem ambulatórios dentro de hospitais, que assistem os pacientes recuperados da doença, com sintomas consequentes dela.
A classe médica está sendo desafiada e muitos excelentes profissionais, enfrentando com coragem esse desafio!
Que DEUS ilumine quem trabalha salvando pessoas!