By E me pergunta o Zé da Esquina, muito conhecido como o nuvem negra da cidade: “O que vamos fazer agora?” Deixa-me sem resposta, mas me convida para conversar num desses botecos da moda, daqueles que estendem mesas e cadeiras para até o meio-fio. Se é para assentar, aceito o convite.
E permaneço ouvindo a lorota do Zé que, no fundo tem um significado tenebroso, mas fazer o quê? Exatamente é esta a pergunta que ninguém responde aqui na Terra Natal do poeta Carlos Drummond de Andrade.
Diz o Zé tantas palavras terríveis e tenho de engolir como se fossem essas expressões sapos de pernas abertas. As mais leves são “cidade-fantasma”, “terra própria para filmagem de faroeste” como no Oeste Americano noutros tempos foi preparado.. O que falta agora é ressuscitar John Wayne, Kirt Douglas, Henry Fonda, Burt Lancaster, Anthony Quinnn, Giulliano Gemma, Dean Martin e outros pistoleiros famosíssimos.
DEPENDENTE CADA VEZ MAIS
Quando se aproxima cada vez mais a data anunciada pela Vale S.A. de juntar os panos, limpar as gavetas e zarpar, nota-se que não existe mais nenhum descendente de Tutu Caramujo vagando por aqui.
Somos, pois, dependentes da velha Companhia, do antigo mercado internacional de minério de ferro, do crescimento da siderurgia, da fabricação de aços e objetos de fina importância para os consumidores.
Contudo, existe outra linha de dependência, diria sub dependência clara e inevitável: a cidade toda depende da Vale. “Mais de 70% — diz Zé da Esquina — de lojas, padarias, lavadores de carro, mecânicos, sacoleiras, salões de beleza, pedreiros, eletricistas, ajudantes, coveiros e tudo o que pensar mais. Imaginem quantas igrejas existem em Itabira entre as cristãs e nem pensando em outras menos procuradas como budistas e mais anti-cristãs.
Querem transformar Itabira numa cidade turística. Por aí temos um caminho a ser seguido. Desde o século passado, o itabirano e o super visionário, professor Rafael Cléver Gomes Duarte tem a sua mirabolante solução que só depende de algum forte político aproxime-se da Vale e a apresente a solução. Somos dependentes desse visionário porque o poder não está em nossas mãos.
Vimos o caso do Valeriodoce Esporte Clube . Rasgadamente, seu presidente, João Mário de Brito. diz que sem a ajuda decisiva da Prefeitura a equipe vermelha e branco não disputa o Módulo II do Campeonato Mineiro deste ano. Está claro? Que venha R$ 1 milhão para a equipe ou adeus equipe. Como são dependentes a Sociedade São Vicente de Paulo, as associações de bairro, entidades diversas, seria cansativo repetir aqui os nomes de Apae, Aoadi e tantos nossos sustentáculos.
A maior dependência gira em torno de pelo menos 80 mil pessoas, incluindo funcionários municipais, aposentados da Prefeitura, sindicatos, acho que somente a dependência de aposentados e pensionistas da Vale sobreviverá e por curto período tempo. Zé do Burro também entra nas discussões, vai virando papo cultural, mas ele leva um coice no traseiro e zarpa.
E CHEGA UM INSTRUTOR DE DEPENDÊNCIA
Não somos invisíveis. Passa um moço cheio de palavras na ponta da língua, presume o que está sendo discutido e mete logo a sua opinião. Ele pede um copo d’água e solta o verbo:
— Vocês estão discutindo como buscar dinheiro e ajuda da Vale? Eu já fui secretário municipal, todos me conhecem. Para essa tarefa hercúlea é preciso não só ter projetos nas mãos como não mandar nada pelo malote. O chefão tem de arrancar daqui para a sede da empresa, no Rio de Janeiro, e lá ficar até assentado na porta como um mendigo de chapéu e pires nas mãos para trazer uns tostões mingados. Só macho como eu faz isso.
Encerrado o mini sarau que teve baldes de água caindo. Mas a conclusão é a mesma de antes: vamos deixar nas mãos de Deus…E já que precisa de um nome, estou, a partir de hoje, filiado ao clube da Itabiradependência Total.
José Sana
18/04/2024
