Era um dia como dizem “útil” como se os demais fossem “inúteis”, mas não uma data qualquer. Transcorria o aniversário de Elen, minha nora, casada com meu filho Érico. Ambos já carregavam a responsabilidade de ser pais de Júlia e Laís. A marca do tempo mostrava no calendário 16 de janeiro. Elen é também colega de signo, somos capricornianos, os teimosos, os insistentes, os decididos. Temos uma leonina que nos atura: Marlete de Moura Morais Sana. Conhece?
O detalhe seguinte é que as meninas apressavam-se com suas atividades escolares para sobrar o tempo de comemoração com os amiguinhos que chegavam e pensei eu: foram convidados por elas com alguma recomendação, por exemplo: “Aniversário de minha mãe, dia especial, por favor, venham!”.
Mais um tópico para aproximar-se da personagem deste texto: entrava casa adentro, da Esplanada da Estação, uma senhora de estilo compenetrado, sempre olhando para baixo, a idade vai avançando, tem-se o cuidado com o que está à frente, obstruindo a passagem.
Ela, certa vez, mostrou-me uma foto um pouco antiga, acho que do tempo de seu casamento. Tratava-se de uma morena cheia de vida, bonita, olhar brilhante. Mas naquele momento ela arrancava suas netinhas dos “para casa” e as atraía para o abraço. Estou me referindo a uma senhora de nome completo, de cartório e pia batismal: Marly Souza de Moura. Era chamada pela sua grande turma de Mainha ou Momô. “Eu gosto de ser chamada assim”, disse-me.
Dona Marly nasceu em 21/10/1942. No ano passado, completou 80 anos. Faleceu na segunda-feira, 26 de junho de 2023, no Hospital Vila da Serra, Nova Lima. Matematicamente falando, viveu oito décadas, oito meses e 17 dias, se sei fazer contas. Devo estar errado porque temos meses com mais ou menos dias; viveram juntos durante 30 anos; ele faleceu com 59 anos de idade.
Deixaram grandes famílias, umas formadas, outras ainda prometendo novas belas criaturas. Vou resumir: Elayne Cássia, Cássio, Eline Mônica (casada com Ricardo), Evâne (Antônio), Elen (Érico). Registram-se também os netos: Marco Túlio, Lucas, Lívia, Breno (in memoriam), Guilherme, Pedro, Tiago, Igor, Júlia, Laís, Vinícius, Wilber; e os bisnetos: Matias, Nicolas, Manoel Bento e Ana Luiza.
O grande companheiro de Dona Marly, que partiu cedo, teve dela notável apoio na vida pública: tornou-se fundador e primeiro presidente do antigo Clube de Dirigentes Lojistas (CDL), eleito em 1968 e seguindo o mandato até 1970. Em 1972, candidatou-se a prefeito apenas para compor uma das três alas do MDB, que elegeu Virgílio Gazire prefeito. Era a soma das legendas que compunham uma frente de três candidaturas.
Pronto, agora é Dona Marly a dona do espaço, que chegava para o aniversário da filha e minha nora. Já entrou batendo palmas, seus abraços iniciais foram nos netos Igor, Júlia e Laís. Lalá, a mesma Laís, puxava a Mãe para o abraço da Vovó. Aí a festa começou, chegaram os amigos e praticamente toda a família.
“Quem quer viver muito tem de envelhecer-se” — Li a frase, que exprime o óbvio, em algum lugar, provavelmente na internet. Não tem como fugir desta situação. Mas, considerando os novos tempos, nos quais muitos estão estendendo a longevidade para além da contagem antiga, Dona Marly viveu pouco tempo e seu marido menos ainda.
Assustaram-se muito com essa partida duas queridas de Marly: sua acompanhante noturna, Paula Fabiana e Valdirene, de dias claros. Paulinha cita dezenas de virtudes de Dona Marly: denomina-a “gentil companheira” e a carimba como “mulher carinhosa”, entre elas. A foto das duas não a deixa sem comprovação.
Pois, então, cabe agora encerrar este meu compromisso com a consciência, de escrever um pouco sobre uma mulher exemplar, que partiu para o outro lado da vida. Mas esse drama terminou exatamente no tempo regulado por Deus em três décadas: 30 anos com Waldir e 33 anos sem Waldir. Agora Waldir e Marly se juntam de novo na glória eterna. Amém.
José Sana
Em 29/06/2023