Criada por Joseph P. Overton, ex-vice-presidente do Centro de Políticas Públicas de Mackinac, Michigan, EUA, a Janela de Overton, descreve o conjunto de ideias que a sociedade tolera.
Por meio da Janela de Overton, um tema que impacta negativamente toda uma sociedade pode se deslocar ao extremo tornando-o aceitável pela população.
Segundo Overton, um político pode mudar pensamentos e cultura de um local de maneira sutil sem que as pessoas percebam. Para isso, são utilizadas as mais diversas formas de divulgação e marketing.
Com todo um aparato de marketing um tema antes “Inaceitável”, aos poucos torna-se “Verossímil”, levando as pessoas a pensar e falar sobre o assunto. Assim, lentamente, a Janela vai se deslocando agora para a “Neutralidade” de pessoas sem uma opinião formada. Os interesses políticos não param, tornando o tema “Provável”, em que as pessoas começam a aceitar que é possível concordar. Finalmente, torna-se “Inevitável”, aceito por todos.
Em Itabira, a gravidade dos impactos sociais e individuais da doença Dependência Química já se deslocou na Janela de Overton para o “Inevitável.
Já é normal, para os órgãos responsáveis, ler as manchetes sobre os incontáveis assassinatos, roubos, mortes violentas, entre outros como aceitável.
Há pouco tempo, foi noticiado uma limpeza geral nas instalações da Estação Rodoviária de Itabira. Lamentável fato apenas estrutural. Uma terrível realidade tornou-se normal no local. Apenas alguns minutos de permanência e os passageiros conseguem perceber a realidade da cidade, o que está escondido por trás do marketing. Vários dependentes, já no fundo do poço e do posso, sujos, sem dentes, sem saúde, causam medo às pessoas que aguardam os ônibus. O desejo incontrolável por mais uma dose da sua droga de preferência faz com que abordem as pessoas até com intimidação, para conseguir mais dinheiro, não importa como.
A Síndrome da Dependência é uma doença grave que atinge não somente o doente, mas sua família e toda uma sociedade.
O Brasil vive atualmente mais um efeito devastador das drogas, a chamada K 2 a K9. São drogas desenvolvidas em laboratórios, portanto sintéticas, líquidas, sem cor, cheiro ou sabor. Por suas características, podem ser pulverizadas em outras drogas e ser consumida sem que o usuário perceba. Com um alto poder de atuação no Sistema Nervoso Central – SNC, e em todo o organismo, está transformando as pessoas em verdadeiros zumbis causando mortes instantâneas.
Itabira vive na contramão dos cuidados com a doença. Impossível deter o avanço da geração K na cidade. Uma cidade sem usuários é uma cidade saudável e com qualidade de vida.
Atualmente é o oposto. Famílias desesperadas buscam uma orientação sobre o que fazer, como fazer e ficam sem respostas. Fato não visto em gestões anteriores em que o cuidado e tratamento eram importantes para os gestores por ser uma atenção especial com os itabiranos de nascimento e os que se tornaram de coração.
A cultura de um povo é descrita por sua origem, seus primeiros moradores, incentivo à arte, costumes, como também pela qualidade de vida. Aos poucos, Itabira deixa de ser o berço da Vale, a cidade de Carlos Drummond de Andrade, para se tornar a cidade dominada por uma imensidão de dependentes químicos.
E agora, José?
Sônia Rodrigues