Um amigo, ou ex-amigo, acho que ex porque sumiu, disse-me um dia que não existe ex-jornalista, como não existem muitos ex badalados por aí. Deu alguns exemplos dos que jamais deixaria de fazer parte da classificação. Resumo: calou a metade de meus argumentos.
Desse fato já se transcorre um tempão e hoje resolvo discordar dele: sou um ex-jornalista e um ex-professor de História e Letras. Só escrevo os meus três livros, o primeiro quase pronto, meu sonho é ser lido pelo menos no quarteirão em que residimos. Quanto às profissões acima descritas, se não me abdicar delas poderei tornar-me um ativista. Nunca, jamais, desculpem-me os que pensam diferente. Esqueçam-me, por favor! Agora sou mesmo e apenas um cidadão aposentado e desempregado.
Desde a minha primeira aula de jornalismo, com Maurílio Brandão, no extinto Diário de Minas, quando já era um velho de 18 anos, passando pelas salas da Fafi-BH (hoje Uni-BH), a definição de jornalismo jamais me saiu da cabeça: “Aqui não entra sequer um adjetivo”, proclamou o editor do então melhor jornal da Capital, que subira numa cadeira para notabilizar o seu pensamento; outro, o professor Anselmo, o “Careca da Fafi, exigiu que anotássemos em nossos cadernos “Atentem-se para a aspa, um dos mais importantes sinais da comunicação”; completou: “… para que tiremos o nosso … da reta”.
Disse tudo isso para apontar aqui o meu “Cara da Semana”, promoção independente e só minha, de um egoísta que pode acertar ou errar. E já vou dizer o nome do eleito, de cartório e pia batismal, mas antes esclarecer que a eleição já dura mais de 50 anos, ou precisamente, 44 invernos, quando viajamos juntos ao Rio de Janeiro, em agosto de 1978, em busca de contatos pela reivindicação de uma faculdade de Engenharia de Minas em Itabira: Márcio Antônio Labruna.
Ele era um técnico da Vale e, em nome da Ativa, tinha decidido acompanhar-nos, corajosamente, ainda mais quando o Boeing em que viajamos, por coincidência, tinha lá os verdadeiros “donos” do Departamento das Minas da CVRD, começando por Francisco Schettino, Amaral, Rubens Trindade e mais uns dois ou três, que me fogem à memória. Eu de férias e presidia a Câmara Municipal; Labruna “fugia” do serviço. Schettino era seu chefe, Labruna foi à sua poltrona, antes da decolagem do avião, e soprou-lhe palavras ao ouvido. Duas das frases eram assim resumidas: “Ontem não consegui falar com o senhor e informar que viajaria hoje”; e a resposta dele: “Que é isso, Labruna, você é de extrema confiança e nem precisa justificar!”. Eu já conhecia Márcio Labruna desde quando implantou e dirigiu o Mobral, movimento de alfabetização empreendido em todo o município itabirano.
Para os iniciantes no tema, teria de escrever um livro, ou mais, uma série de lembretes de páginas, contando uma vida cheia de lutas e vitórias. Não tenho espaço para essa atividade, vou omitir a sua passagem triunfal pelo Rotary (foi governador internacional), pela Fiemg, sua busca da Escola do Sebrae na Áustria, e dezenas de outras conquistas.
Nada mais vou citar, prometo, acho que o itabirano o conhece perfeitamente, já foi provedor do Hospital Nossa Senhora das Dores em outros anos; já o entrevistei em várias ocasiões; brigávamos seguidamente em todas as reuniões do Rotary (era eu vereador e ele me cobrava demais, devo a ele lutas empreendidas graças às implicâncias dele). Agora reencontro-o à frente, de novo, do HNSD como provedor e principal autor da conquista do Centro de Radioterapia, que começa a ser construído e deve tornar mais feliz uma população de 500 mil habitantes de 28 municípios mineiros. O prefeito Marco Lage, vereadores e toda a plateia que esteve no lançamento da pedra fundamental, neste 22 de setembro, bateram palmas.
A notoriedade é que o magistral socorro vem do Governo Federal, a mais notável ajuda de todos os tempos, que deve chegar ao montante de R$ 30 milhões até a conclusão das obras. Então, para deslanchar a seriedade de mãos dadas com o humor, vai lá outro conceito dele: Labruna tem sei lá seus anos de vida, saúde de ferro e é mestre em enganar alguma coisa que foi famosa no mundo, a tal Covid-19. Enfrentou toda a pandemia do Coronavírus agarrado ao que chamavam “local de alto risco”, o hospital, e sequer um raro espirro o incomodara. Abençoada a sua luta.
É claro que Márcio Labruna é um predestinado e por isso deve, mais uma vez, perdoar-me por expô-lo. A minha insignificância é ancorada pela realidade, por isso questiono: puxar saco de Labruna para quê? E ele, talvez tenha de dizer: “Chega, deixe-me em paz, preciso viver com os meus robbys, o trabalho e a vontade de servir!”
Não vou deixar e ponto final.
José Sana
23/09/2022
OBS.: “Horizonte sem fim” é o título do livro dele (Labruna, Márcio Antônio. Horizonte sem fim, Belo Horizonte: Clio Gestão Cultural e Editora, 2017, 264 p).