Caixa Preta número 2
FOI ASSIM…
Bernardo Mucida seria o candidato a prefeito de Itabira, da oposição, em 2020. Estava decidida a sua pré-candidatura em várias reuniões realizadas em seu comitê de trabalho, situado na Avenida Brasil, Bairro Amazonas, em Itabira.
Num domingo qualquer, estou saindo de um restaurante. Marco Antônio chegando. Cumprimentamo-nos, ele dando notícias do Cruzeiro, trocamos gozações sobre futebol, um abraço, ele para o almoço, eu para casa.
Quando estava quente a pré-candidatura de Mucida, esse desiste, corre o boato pela cidade e longe daqui. Confirma a desistência. Marco Antônio Lage, que havia zarpado do Cruzeiro Esporte Clube, tinha sido recomendado pelo governador Romeu Zema para um cargo na Cemig.
Já no novo chique emprego, Marco tem uma virada de posição: ao saber que há uma vaga em seu partido, o PSB, declara-se à esposa, por telefone, que será candidato a prefeito de Itabira. Sem nenhum esquema, nem preparo, Marco Antônio Lage aterrissa de paraquedas em Itabira.
O BOBO DO EU
Em 57 anos de Itabira passei a conhecer profundamente o que se passa no submundo itabirano da política. Não posso contar tudo abertamente, mas isso jamais ficará oculto. Já estou escrevendo e deixarei para quem se interessar. Caso achem irrelevantes as revelações, rasguem-nas.
Por enquanto, vamos acendendo o fogo no alto-forno da política atual. Marco Antônio corre aos microfones e aos cupins, agarrando-se aos primeiros e subindo nos segundos. Sempre entusiasmado com as minhas decisões, característica dos tatus de madrugada, torno-me, oficialmente, o primeiro tatu a declarar apoio ao grego.
Mesmo assim, resisto durante um tempo, sem que o candidato soubesse. Recebo a visita de Brander Gomes, que me propõe ir conhecer Marco Antônio. Então, como disse um jogador de futebol em entrevista, “fomos fondo, fondo, fondo”… e marcamos o gol. Em impedimento e sem VAR.
Na porta do comitê, que era ainda de Bernardo Mucida de Oliveira, tentei encurralar o anti-troiano, meu candidato, enquanto Brander Gomes resistia. Ele, Brander, me disse: “Posso até apoiar Marco para prefeito por causa de Marco para vice-prefeito. Este eu já conheço muito”.
O ENCURRALADO
Na saída da reunião, esquentei, então, a minha prensa no candidato a quem já havia declarado apoio irrestrito desde que cuidasse do futuro de Itabira. Seria um compromisso. Então, no encurralamento, rasguei o verbo: “Olha, Marco, eu sou muito decisivo em política, quando me dedico de corpo e alma, não quero ser traído desta vez; prezo muito o futuro de Itabira, esta é a minha única exigência e bandeira.
O filho de Harcy Lage desce um degrau e fica no mesmo nível em que eu estou; pega em meu ombro e aperta-o como se quisesse arrancar a clavícula; olha para mim e parece jurar sobre uma bíblia imaginária; sinto que suas palavras são sinceras, caso não exista um bom artista querendo falar, e grita em bom tom: “Sana, jamais decepcionarei você! Pode estar certo de minha sinceridade!” Acredito e ponto.
CAVALO DE TROIA
O Cavalo de Troia da história de uma guerra pode ser lenda, mas a campanha eleitoral de M40 em Itabira, não, ela existiu, embora com promessas e mentiras descaradas. A traição de gregos a troianos fez com que a vitória espartana fosse garantida, na literatura por simples toques de Homero nos poemas épicos Ilíada e Odisseia. E em Itabira na prática inédita de 2020.
Na atualidade, deu origem a uma expressão que significa “enganação” e batizou um vírus de computador. Recentemente, Marco jogou uma indireta muito direta a mim em um de seus discursos (ele só pega no microfone hoje para malhar vereadores e a imprensa) começando assim a sua eloquência: “Fico abismado com uma pessoa (esse cara sou eu) que disse isso, aquilo e o que mais assim, assim, assado.” Um amigo me disse: “Ele foi tão claro que faltou citar o seu CPF e o número da carteira de identidade”.
Marco recrutou soldados e os enfiou, com doces palavras, mansas e muitas, a ouvidos resistentes e fracos ao mesmo tempo. Cada soldadinho de chumbo que caía na rua, naquela peça oca, imensa, para levá-lo à Prefeitura de Itabira, transformava-se em cabo eleitoral. Brander e eu, mesmo jamais considerados como linha de frente, somos generais, ou marechais. Desafiamos, sem armas, a desconhecida e cruel Covid-19. E não me imiscuiria naquelas procissões senão para salvar Itabira. E não sou grego nem troiano. Sou itabirano de mais de meio século comendo e aspirando poeira.
Contarei capítulo por capítulo as coisas do lado de lá das cortinas, pode dar um livro, pode render um filme, o certo é que mostrarei escancaradamente a trama que estão executando contra nós. E poucos ainda veem, há cegos, surdos, mudos e mancos de duas pernas acreditando nos traidores.
Gente, amigos de todas as raças, gêneros, simpatias, religiões, seitas, doutrinas … o Cavalo de Troia quer acabar com Itabira. Caso não reajamos, só nos restará contemplar o retrato no chão, rasgado, o quadro despedaçado, nem parede há mais para dependurá-lo.
José Sana
12/05/2023
Imagens: Redes Sociais