Observo esse planeta desconhecido há algum tempo. Já mandei algumas sondas, satélites, já fiz até algumas visitas tripuladas, mas ainda não decodifiquei a almas dos nativos e suspeito que jamais o farei.
Talvez porque, por ser Alvinopolense, Itabira não tá no meu trajeto. Os alvinautas seguem pela 381 e tem mais contato com João Monlevade que tá no caminho.
Itabira guarda certa distancia de Monlevade, cidade mais jovem e cosmopolita. Suspeito que os Itabiranos frequentam mais Monlevade do que vice-versa, mas pra fazer compras, pois Monlex tem um setor de comércio e serviços bem desenvolvido.
Mas culturalmente, Itabira tem mais tutano. Monlevade parece sei lá, pós rococó…pós moderna e Itabira tem uma coisa meio barroca, tem mistérios não revelados nas conversas triviais. Fico pensando no tanto de assombrações pelas madrugadas, almas penadas de tempos outros, encarnando nos loucos e nos bêbados delirantes.
A gente conhece um tanto de Itabira lendo Drummond e isso embaralha ainda mais as coisas. O teto é alto. Intuo que dessa fonte onde Drummond se nutriu tem mais, tem uma profundidade não alcançada.
Pra entender Itabira, seu dialeto, tem de passar uns dias, respirar os ares, cumprimentar a dona que sai pra comprar pão as 5 da manhã, conversar com os velhos e os novos, olhar nos olhos, xingar a Vale e conhecer alguns casos do Valério que já foi doce.
Certa vez artistas itabiranos apareceram no Festival da música em Alvinópolis, Uma geração muito talentosa, um cantor negro que cantava como anjo, músicos de primeira grandeza e um compositor de impressionante poesia chamado Nilton Baiandeira. Eles venceram um festival extremamente forte. Pensei comigo: não é que existe vida inteligente além de Drummond em Itabira?
A minha turma Alvinopolense também era boa de música. Fomos a Itabira e vencemos um festival lá, num ginásio cheio. E logo com uma música que falava de loucura ( NÓS, OS LOUCOS).
Talvez a música tenha caído no gosto do juri, afinal, a cidade tá longe de ser normal, essa coisa mineira de gostar da tradição mas amar a vanguarda.
Mas ainda assim não consegui um approach como tenho com Monlevade.
Mais tarde conheci algumas pessoas da cidade, fiquei admirado com a revista DEFATO, de como uma cidade de 100 mil habitantes mantinha uma revista de alto nível editorial, similar as maiores de BH e seu diretor José Sana, um revista que continuou sua saga, tornando-se o portal mais bem sucedido da região.
Além de Drummond, a gente percebe que os ventos culturais que sopram de Itabira são superiores, pela tradição e pelos exemplos. A quantidade de artistas e pensadores é enorme.
Segundo contam as lendas, a cidade se fez economicamente por causa do minério. A mineração parece cárie que vai carcomendo as serras e a região vai ficando meio banguela. Muita gente enricou, outros nem tanto.
O quadro na parede que ia amarelar já foi substituído por um mais colorido, pra combinar com o sofá.
Quando a principal commodity acabar, alguns apontam a educação como vocação natural.
Resta saber se o segmento tem lastro econômico pra isso, se tem capacidade pra gerar dinheiro.
Claro que não existe investimento mais social do que educação, mas será suficiente pras demandas econômicas da cidade? Só o tempo.
Eu vou continuar mandando minhas garrafas pelo rio, pra ver se chegam. Vou continuar mandando mensagens em código morse, criptogradas, na língua do p, em javanês arcáico, pra ver se consigo algum feedback da Itabira profunda.
Vou ver se Elon Musk me empresta uma nave, dessas de ir à marte, pra pousar, pode ser no maravilhoso teatro de arena ao ar livre que só tem em Itabira, sonho de consumo pra qualquer artista que se preza.
Assim que pousar, quero me dirigir a um terreiro de macumba ou para uma casa espírita. Vou bater na porta e dizer pros agentes espirituais: – levem-me ao seu líder.
Que me disponibilizem um médium, daqueles mais on line com o outro mundo, pois quero olhar bem no olho dele e dizer: E AGORA DRUMMOND?
Foto: Esdras Vinicius